31.8.07

13 - A bruxa de Oz


Gregory Macguire
Sempre gostei de livros de cfapa preta. Parece que há uma espécie de pacto só para entendidos que nos diz que se o livro não mostra nada na capa então é porque vale a pena. Costuma valer e, neste caso. Valeu. A bruxa de Oz (gosto mais do título em inglês, wicked) conta a história da bruxa de Oz e só aí temos logo a grande qualidade de não estarmos a ser enganados. Para os mais esquecidos, quando Dorothy, essa Alice alternativa e bastante mais controversa, aterrou em Oz, cavalgando um tornado vindo do Kansas, aterrou em cima da bruxa do leste, esmagando-a, matando-a e ficando-lhe com os sapatos. Aparte: sapatos de rubi, vermelhos... Será que só eu é que vislumbro o fetiche? Porque eram, e sempre serão, claramente fetichistas, o raio dos sapatos, sendo um símbolo algo visível da profunda, chamemos-he assim, originalidade, do criador do mundo de Oz. Enfim, adiante. O feiticeiro de Oz é um daqueles filmes de que sempre tive a impressão de que tinham qualquer coisa para esclarecer quando fosse grande. Ainda não esclareci, mas ficaram-me algumas imagens fortes na cabeça e a sensação de que devia haver algo que valia a pena nesta história toda. Assim, quando comecei a ler o livro, além da capa preta não tinha mais nada a que me agarrar. Este estado de espírito durou 2 páginas. Ao fim delas, deparei-me com toda a gente a fazer análises profundas ao caracter da bruxa. Da bruxa do oeste, irmã da esmagada. Nasceu hermafrodita, dizia o leão medroso; não, é lésbica, dizia o homem de lata; tem carências sentimentais profundas, dizia o espantalho; não percebo nada, dizia Dorothy. E tudo isto a bruxa ouvia em cima de uma árvore, incrédula, enquanto tentava ver os olhos de Dorothy. Mas afinal quem era a bruxa?
A bruxa era Elphaba, gostei logo do nome, filha de um pastor da religião dominante em Oz e da herdeira de um dos principais cargos políticos do superpolitizado reino de Oz. Elphaba nasceu verde e com uns dentes bastante afiados, situação que causava sérios problemas à sua envolvente humana. Era ainda super-sisuda e detestava +água. . A vida por aqueles lados não era lá muito animada, tanto qe quando lá chegou um soprador de vidro tornou-se logo pai da irmã de Elphaba, Nessarose, a bruxa do leste, dona dos sapatos... Nessarose, Nessie, tinha toda a beleza da Vénus de Milo. Tanto nas feições como na ausência de braços. Infância à frente, ei-las que vão para a faculdade, onde emparelham com diversos extractos sociais de Oz, supostamente original. Não é lá muito. Estão lá os tipos tradicionais, se procurarmos bem, o homossexual, a fútil, a rebelde, o rico e o trabalhador. Também aqui, o homossexual é o que é representado como sendo o mais interessante humanamente. Mais um ponto par o lobby gay. A terra doe Oz tinha algumas particularidades interessantes das quais nunca me tinha apercebido e que decerto encerram metáforas poderosíssimas, das quais apenas arranhei a superfície. Uma delas são os Animais, com letra grande, inteligentes, conscientes, humanos em tudo menos no não quererem dominar os restantes seres vivos. Não percebi, no entanto, qual a sua posição no que diz respeito aos animais, sem maiúscula. O maior exemplo dos Animais é o professor Dillimond, um bode irascível e professor universitário que nunca se calava até que um dia morto pelo robot da directora da faculdade. O meu Animal preferido era uma Vaca que era claramente socrática, ou seja, só sabia que acabaria por acabar na mesa de alguém. Outro aspecto interessante em Oz é o governo, bastante complicado, com princesas mártires caídas em desgraça e à espera de redenção e um feiticeiro regente que desceu de um balão. A parte religiosa é também interessante e com pano para mangas embora na minha opinião criar novas religiões pode ser muito doevrtido, mas é igualmente pouco produtivo. Enfim... Este livro deixa-me bastante dividido. Por um lado, tem sem dúvida todo um conjunto de idéias e situações bastante originais. Por outo lado, parece que todas essas ideias estão um pouco desligadas entre si e não são suficientemente enquadrados no ambiente geral, que é o que deveria criar a textura contínua do livro. Este pode ser um daqueles casos raros em que a sequela que inevitavelmente virá complete o livro, em vez de o estragar. De qualquer forma, gostei. Bastante.