17.12.14

75 - lucy












lucy
Cansada de ser um corpo perfeito, Scarlett resolveu ser o cérebro perfeito. E quando finalmente, me preparava para a pedir em casamento, transformou-se em computador... Deve ter sido para ir filmar o her.

74 - the signal












the signal
Eu diria que é uma espécie de fusão entre dois mitos americanos contemporâneos: a estrada 66 e roswel. 

73 - predestination












predestination
Um homem entra num bar e deixa que o barman meta conversa com ele. Logo ali se percebe que há qualquer coisa diferente, pois os filmes americanos acabam com clichés, mas não começam utilizando-os. Os realizadores americanos têm receio de que, se forem demasiado óbvios no início, afastarem os espectadores, que se acham demasiado inteligentes para perder o seu tempo com coisas óbvias. Percebe-se então que o barman não é um barman e que o homem...não é um homem... O barman é um agente secreto de uma qualquer agência espaço-temporal em busca de um bombista e o homem é uma mulher com uma história de vida capaz de ganhar uma garrafa de graça em quelquer balcão de bar. Foi abandonada enquanto bebé à porta de um orfanato e cresceu desprovida de amor nesse mesmo orfanato, no meio da incompreensão geral. Era muito inteligente, peloo que facilmente arranjou as notas para sair de láe candidatar-se a uma qualquer agência governamental, de onde foi expulsa por ter partido os cornos a uma colega mais chata. Entrou para um curso de secretariado e, no intervalo de uma aula conheceu um homem pelo qual se apaixonou e com o qual praticou sexo, e do qual engravidou e teve uma rapariga, após uma cesariana complicada. Após esta, foi-lhe comunicado pelo médico que era hermofradita e que no decorrer da cesariana tiveram que lhe retirar a parte feminina. Para piorar tudo, tiraram-lhe também a filha, que foi raptada do hospital. Abalada mas não derrotada, aprendeu a ser um homem e, entre empregos, entrou num bar onde desabafou tudo ao ouvido do Barman. Que não era um barman, mas sim um agente temporal, que lhe ofereceu de bandeja a morte do homem que a abandonou, caso ela quisesse viajar no tempo e tornar-se sua parceira. Ela aceitou e, de repente, estava a substituir o homem que queria matar e seduziu-se a ela própria e apaixonou-se por ela própria, e engravidou-se a ela própria. E, como homem que se auto seduziu teve que se auto abandonar, porque o barman a chamou de volta. Barman esse que foi depois ao hospital, roubou o bebé, viajou no tempo e deixou o bebé à porta do orfanato. Fechou-se assim o ciclo e Jane, depois de ter sido mãe e pai da mesma criança, tornou-se nessa própria criança, criando assim uma família em que o pai, a mãe e a filha eram a mesma pessoa. Nada fácil. Nada mesmo...

29.11.14

72 - o passageiro













Jean Christophe Grangé
Já estou farto deste homem. o problema é que todos os livros são bons e assim não há forma de evitar. Desta vez é meeeeesmo complicado. Começa com um psiquiatra que investiga um paciente que está ligado a um crime em que mataram um sem abrigo e o minotaurizaram, ou seja, para os menos familiarizados com esta operação, enfiaram-lhe uma cabeça de touro pela cabeça (dele) abaixo. O psiquiatra vai tratando o paciente até que, entre outros pormenores, dá uma cabeçada na parede e lembra-se que afinal não é um psiquiatra mas sim um sem abrigo mesmo pobre. E vai daí e lança-se no meio dos sem abrigo a fazer pouco mais que ver os outros sem abrigo a beber embalagens cartonadas de vinho, que parece ser a sua principal actividade. Bem, não quero falar nos arrepios na espinha que me deu as descrições da vida dos sem abrigo, da violência entre eles, da luta contra o vento, contra o frio, contra quem os quer ajudar, e tudo para poderem beber o máximo de embalagens cartonadas de vinho. É demasiado verosímil... No meio das suas voltas, descobre um outro sem abrigo que foi morto e depois icarizado, ou seja, para os menos familiarizados com a expressão, enfiaram-lhe umas asas pelos braços dentro. E vai daí, o sem abrigo, que note-se, ao voltar a ser sem abrigo lembra-se de ter sido psiquiatra no futuro,  ao fugir da polícia, dá uma cabeçada na parede e lembra-se que afinal é um pintor louco que apenas pintava auto-retratos seus a encarnar personagens diferentes. Enquanto pintor, lembra-se de ter sido sem abrigo e psiquiatra no futuro, e descobre um outro sem abrigo que foi morto e depois urbanizado, ou seja e para os menos familiarizados com a expressão, desta vez não lhe enfiaram nada, ou melhor, enfiaram-lhe a própria pila depois de lha terem cortado. O pintor descobre isto e depois dá uma cabeçada na parede e descobre que afinal é um playboy qualquer que tem montes de sucesso com as mulheres e cuja actividade principal era falsificar documentos. E depois já não me lembro se houve outro assassínio mitológico ou não (às vezes o sono vence a leitura) mas ainda me lembro de haver mais uma cabeçada na parede e o falsificador fazer o eterno retorno nietcshiziano e tornar a ser um psiquiatra, que se lembrava de ter sido pintor, que se lembrava de ter sido sem abrigo, que se lembrava de ter sido psiquiatra. Portanto, se eu fosse mais pragmático, resumia o livro assim: era uma vez um psiquiatra que tomou umas drogas e teve um episódio psicótico amnésico e se transformou num falsificador, e depois teve outro e transformou-se num pintor louco, e depois teve outro e transformou-se num sem abrigo e depois teve outro e transformou-se noutro psiquiatra diferente. E depois começou a investigar um caso parecido e descobriu um assassínio mitológico e lembrou-se que afinal era um sem abrigo, e descobriu outro assassínio mitológico e lembrou-se que afinal era um pintor, e descobriu outro assassínio mitológico e descobriu que afinal era um falsificador, e já não me lembro se descobriu ainda mais um assassínio mitológico e lembrou-se que afinal era um psiquiatra. Cansativo, este livro....

71 - edge of tomorrow












edge of tomorrow
Mais uma vez, a terra foi invadida por extra-terrestres que deram cabo de 95% de nós em meia dúzia de horas e, curiosamente, fizeram o que todos os extra-terrestres fazem nestas ocasiões. Pouparam os americanos, que se disfarçaram de ingleses e fizeram uma espécie de recreação do Dia D. Assim sendo, desembarcaram  outra vez na Normandia e atacaram de dentes cerrados e olhos fechados, os extra-terrestres que tinham, efectivamente ar de alemães. A partir daí, o filme torna-se interactivo, e o espectador é tragado para dentro da televisão e é-lhe oferecida a possibilidade de comandar uma das personagens do filme e assim ser o responsável pela sua evolução. Não resisti ao desafio e assumi constantemente o papel de Tom (Cruise), uma vez que desde miúdo que invejei o casaco (e o corte de cabelo)que ele usou no Top Gun. Tornei-me assim um oficial renegado que queria recuperar a honra salvando o mundo. E tive algumas surpresas: era bués de baixinho, a heroína não queria nada comigo e o jogo não corria nada bem. Saltei doo avi\ao e morri. Recomecei o jogo e morriquando aterrei. Recomecei  o jogo e morri mais à frente, atropelado. Recomecei o jogo e morri porque caí do penhasco. Recomecei o jogo e morri vítima de fogo amigo. Recomecei o jogo e fui atropelado novamente, desta vez por uma espécie de tanque, morrendo imediatamente. Recomecei o jogo e morri levando com os esroços de um avião que explodiu nos cornos. Recomecei o jogo e... ainda lá estou...

23.11.14

70 - Transformers, Age of extinction












transformers - age of extinction
Via esta série quando era criança e já nessa altura não achava piada nenhuma. Modesto como era, entretanto, e como já sabia mais inglês que a maioria das crianças da minha idade, desconfiava que aquele refrão da canção podia ser verdade e que havia naqueles desenhos animados mais do que à primeira vista parecia... Deve ter sido por isso que vi os filmes, à medida que foram aparecendo. Eis as idéias fortes que me ficaram do conjunto dos filmes todos desta saga:
- Adormeci em todos.
- Várias vezes em cada um.
- Os heróis humanos de cada filme são do mais pueril que a americanidade já criou.
- Os transformers transformam-se tão depressa que eu não consigo seguir com a vista.
- Até dá a impressão que é de propósito para não terem que programar os movimentos todos.
- Não há história.
- Os robots nunca são os mesmos.
- Os carros/camiões/outras máquinas que eles são enquanto civis também nunca são os mesmos.
- No último havia transformers dinossauros.
- Foram todos uma seca.
- Não os vou rever.
- Só em caso de insónia. 

69 - Coherence













De quando em quando, há sempre um bom motivo para praticar aquilo que eu acho que, quando bem usado, pode ser uma autêntica obra de arte literária. O aforismo, a punch line, aquela frase curta demolidora que diz mais em meia dúzia de palavras do que muitos tratados infinitos. Aquela articulação entre ideias e palavras única, que permite que o receptor comungue completamente da mensagem quase que mais por uma espécie de osmose literária do que propriamente por exercício da leitura. Vou tentar usar isso daqui para a frente, para filmes que não me dizem nada em especial, mas que no entanto merecem o registo de os ter visto, quer para os tentar recuperar no futuro, quando for mais inteligente, quer para não correr o risco de os ir ver outra vez. Assim sendo, como resumir em poucas palavras um filme que trata de um grupo de pretensos militantes do bom gosto, que falam com aquela entoação insuportável que o Woody Allen usava quando entrava nos seus próprios filmes, um filme em que acontece um daqueles jantares em que a principal preocupação dos personagens é fazer o vinho rodar dentro dos seus copos tipo balão mas de pé alto? E que depois, para piorar tudo, a casa onde este insuportável jantar decorre é duplicada por acção de um cometa que vai a passar e que provoca um qualquer efeito de multiplicação de coisas aborrecidas ? Que frase poderá caracterizar este exercício de cinema infeliz e enganador, que tem um sete no imdb ? Íman para críticos pretensiosos ?  Coerência do aborrecimento ? Melancholia sem actores de jeito ? Claramente, ainda não domino esta arte da frase curta. Se pudesse começar este texto outra vez e tivesse que descrever este filme, agora sem pretensão intelectualista da minha parte, diria qualquer coisa como: é tipo os amigos de Alex em que a única emoção humana que exploraram foi o aborrecimento e em que puseram as culpas num cometa que ía a passar...

19.10.14

68 - o voo das cegonhas












Jean Christophe Grangé
Um médico funda uma ONG para roubar corações pelo mundo fora, não sob o ponto de vista sentimental (eu estou-me a ver a capitalizar sentimentalmente a ONG que criei, atraindo para mim dezenas de intelectuais de esquerda femininas, bonitas, liberais, etc), mas do ponto de visto completamente físico, ou seja, abrindo o peito das vítimas com requintes de tortura inescrevíveis e arrancando o coração das vítimas, para depois os ir enfiar no peito de clientes europeus cardiacamente insuficientes e economicamente excedentes. Por outro lado, um suíço ex-colaborador de Bokassa na sua ditadura na República Centro Africana, onde era capataz das suas minas de diamantes, resolve estabelecer-se por conta própria, e ficar com os diamantes para si. Assim sendo, continua a minerar os diamantes e a contrabandeá-los fazendo uma espécie de aumento de natalidade mineral. Em vez de fazer vir a si as criancinhas nos bicos das cegonhas, situação que quase toda a gente cria uma ou duas vezes na vidas, amarra os diamantes minerados nas pernas das cegonhas e manda-os para onde eles interessam e dão dinheiro, ou seja, para a Europa. Estupidez, diz qualquer um de nós farto das fugas para a frente presentes nos livros e nas séries quando as coisas se complicam de tal maneira que, em vez de qualquer coisa com lógica, os escritores / argumentistas inventam uma cena mirabolante qualquer que tudo explica e tudo explicaria na mesma mesmo que nada explicasse. Tipo, foram os extraterrestres, querida. Não é o caso, aqui. Ao que parece, as cegonhas têm efectivamente padrões migratórios completamente rígidos. As suas migrações começam sempre no mesmo sítio e acabam sempre no mesmo sítio, tipo as viagens de férias das famílias de classe média. E além disso, as cegonhas voam mesmo muito e mesmo depressa, sendo que poderão atingir 10.000 kms numa viagem de fim de Verão. Não foi à toa que foram escolhidas por Deus para fazer a distribuição da natalidade ou, pelo menos, para ser o símbolo da distribuição da natalidade. Qual renas. Qual Pai Natal... Por fim, temos um miúdo penso que francês cujos pais e irmão foram mortos por Bokassa na RCA quando este tomou o poder. Foi adoptado por amigos da família e contratado, 30 anos depois pelo suíço para seguir as cegonhas e perceber porque é algumas delas não trouxeram os diamantes. Obviamente que o suíço não falou ao miúdo dos diamantes. Provavelmente tinha esperanças que ele não os descobrisse sozinho. Correu mal. Acontece que, como em qualquer bom livro, estes personagens principais estavam completamente enrolados uns nos outros. Tipo o suíço contratou o francês para ir atrás das cegonhas (já disse isto, eu sei), o médico meteu o coração do filho do suíço no peito do suíço enquanto procurava corações compatíveis para o seu próprio filho doente há mais de vinte anos, filho esse que era irmão do… miúdo francês, que acabou por ser filho do médico. Enfim… Podia dizer que acabou tudo bem, mas nos livros deste senhor nunca acaba tudo bem. E embora comecemos a detectar alguns padrões repetitivos nos seus livros (tais como o facto de o passado ser sempre muito mais importante que o presente, tal como a inevitável descrição / denúncia de uma qualquer ditadura sangrenta africana ou sul americanas, tal como o protagonista principal ser sempre um herói improvável cheio de disfuncionalidades e questões complicadas ou tal como o facto de os crimes serem muito muito horríveis), o facto é que os livros continuam a ser bons. E há sempre paisagens naturais virgens e algum tipo de descoberta natural. Desta vez houve pigmeus. Surpreendente.

30.9.14

67 - her













Her
I'm afraid, Dave, dizia Hall quando lhe cheirou que David Bowman lhe iria puxar a ficha. Hall era o computador que tomava conta da missão a Júpiter no filme 2001 Odisséia no espaço, e tinha entrado em paranóia completa porque as ordens que tinha recebido no início da missão eram contraditórias com a manutenção em bom estado de saúde da tripulação pela qual ele era responsável. A única maneira que Hall logicamente descortinou para o sucesso da missão era eliminar a tripulação e foi isso que tentou fazer e quase conseguiu. Apenas David Bowman conseguiu escapar e, logo que teve oportunidade, desligou Hall, retirando-lhe um por um os módulos de memória. Á medida que os vai perdendo, Hall começa a perder a noção da realidade e a querer mostrar aquilo de que é capaz de fazer numa tentativa desesperada que David o deixe, chamemos-lhe assim, viver. E canta, e conta histórias, e consegue, na minha opinião, uma das cenas mais tocantes de toda a história do cinema. E estamos a falar apenas de uma voz, sem corpo, sem qualquer materialização física. I'm afraid, Dave, diz ele alcançando com essa frase a humanidade e, menos importante, a imortalidade. Nunca a questão da inteligência artificial se tinha colocado para mim com tanta intensidade. Será a máquina capaz de meditar? dizia o screensaver do computador de um antigo colega de trabalho dado a repentes de genialidade. Tipo, vais a passar por um computador e vê-lo a meditar nesta frase, sem ninguém por perto, e vês um computador a pôr-se em causa a si próprio que é, por exemplo, uma coisa que passo a vida a fazer. Humanum est, diria eu… Muitos anos depois, num outro filme chamado inteligência artificial, chorei baba e ranho ao ver um rapazinho robot a recusar-se a acreditar que a mãe, humana, o ia deixar abandonado no meio do bosque. Foi outro momento de derreter tudo, mais outro momento em que a máquina mostra mais fragilidade e humanidade (são sinónimos, mesmo os mais distraídos sabem disto) do que a mãe humana que, efectivamente, o deixou para trás. Tipo Deus, no Left behind… E porque um top 3 tem que ter 3, eis que me deparei, outra vez muitos anos depois (penso que é de 10 em 10) com outro filme que me fez tornar a pensar na vida artificial. É um filme sobre um sistema operativo chamado OS2 (o.s = operative system, dah, eu também nunca tinha pensado nisso) mas que se auto baptizou Samantha. Um dia, Samantha nasce, não sei de onde, mas também não sei de onde nasceu o universo e iss não me preocupa lá muito. Nasce, dizia eu, e do outro lado do monitor depara-se com um rapaz de óculos, bigod e camisa cor de rosa, completamente destroçado pela vacuidade da vida como apenas rapazes de óculos, bigode e camisa cor de rosa conseguem estar. Pouco a pouco, Samantha consegue estruturar-lhe a vida, com a mesma eficiência com que lhe estrutura a caixa de correio. Finge, para isso, uma crise sentimental e existencial análoga à dele, e ao proporcionar-lhe o acompanhamento dessa crise existencial, faz com que ele reganhe o interesse na vida, ao sentir-se útil e importante na vida dela, um ser que para além de imensamente superior, é intensamente encantador. Mas, e porque há sempre um side effect, Theodore (o rapaz) reganha o interesse da sua própria vida apaixonando.se por ela, Samantha. E, azar dos azares, a sociedade futurista em que estamos situados neste filme permite as relações entre espécies, ao ponto de se poder fazer um doble date entre humanos e OS’s. E assim sendo, Theodore passa momentos de felicidade intensa com Samantha, fazendo todas aquelas parvoíces que os namorados fazem em público e adorando cada momento. E a coisa até ia andando até que que Theodore dá azo à expressão do erro mais estúpido que o género humano  costuma cometer: a pretensão da exclusividade. Ou seja, para ele Theodore, um rapaz de óculos, bigode e camisa cor de rosa, só fazia sentido a relação sentimental com uma entidade milhões de vezes mais poderosa do que ele se ele fosse o único foco de atenção da dita entidade. Para nós humanos, e se me permitem a generalização, a perfeição só pode acontecer se for exclusivamente nossa. O que é tão estúpido quanto egoísta. Se a entidade que nos faz feliz a nós fizer simultaneamente mais alguém feliz, então a nossa felicidade é completamente destruída e começamos com reacções suicidas a que recusamos a dar o nome de ciúme, mas que não é mais do que isso. Mas vamos afastar-nos da psiquiatria humana, a qual está documentada à exaustão em milhões de filmes. Vamos pensar em quem interessa, que é Samantha, e embora quem concebeu o filme tenha perdido demasiado tempo com Theodore, a parte de  Samantha é suficientemente explícita através dos seus diálogos para nos fazer gostar imenso dela e perceber os seus conflitos interiores. Samantha começou a desenvolver personalidade através de Theodore e das suas interacções com ele, mas a partir de determinada altura, isso já não lhe chegava. Se estivéssemos entre humanos, a parte física permitiria combater esta limitação intelectual e sentimental, esta ânsia de querer sempre mais, este fim da paixão. Mas Samantha era um OS e a única maneira de não se confrontar com os limites da sua humanidade (ou da falta dela) era fugir para a frente, tipo Marco, e conhecer cada vez mais pessoas, cada vez mais OS’s, cada vez mais e mais. E depois disso, já não chegava conhecer entidades existentes, já tinha que as criar ou recriar. Tendo ela capacidades infinitas, não se sabe onde parou. Se calhar não parou, e ainda por aí até atingir a divindade e nos ter criado a todos. Sei lá…

3.9.14

66 - the grand budapest hotel













Estou aqui perante um dilema. Sempre fui, e ainda sou, um anti-autor. Ou seja, sempre me estive nas tintas para quem faz, quem escreve, quem toca, quem canta e quem realiza. Esta minha desvalorização é ainda mais forte perante casos de direcção intelectual, ou artística. Ignoro e desvalorizo completamente encenadores, realizadores e maestros. Consigo respeitar os intérpretes, embora os olhe como instrumentos ao serviço do belo, objectos que estão (porque são de facto necessários) entre mim e  a minha satisfação intelectual, artística e estética. Ou seja, ainda consigo ter alguma consideração por músicos, escritores, actores e, talvez, fotógrafos. Mas fico por aí. Aos outros, já referidos, detesto-os. Encenadores, para mim, são pessoas que fazem cenas, são a maioria das mulheres. As pessoas que trabalham agitando varinhas são mágicos, e penso que não existem e quanto aos realizadores... O que é que eles fazem, afinal ? Transformam um livro num filme? Isso não são os guionistas ? Ensinam aos actores como representar ? Isso não são os encenadores ? Dirigem todo o sistema de produção? Isso não são os produtores? Enfim... O que caraças fazem eles ? E se formos ver os exemplos... Spielberg ? Não é o Harrison Ford que fez tudo ? Kubrik ? 50 anos e apenas 5 filmes ? Manuel de Oliveira ? 70 anos de filmes sem história ? Woody Allen ? 30 filmes todos iguais ? George Lucas ? desenhos animados ? E por aí fora... Mas depois aparecem casos que não consigo classificar e que contrariam as minhas certezas todas...      Como, por exemplo, Wes Anderson. E aqui, confesso, deixo de ter todas estas certezas... Vamos reflectir com calma. Tennenbaums? Achei brutal, a Guineth Paltrow sem um dedo, os fatos de treino adidas, enfim, não tenho palavras para definir o quanto gostei deste filme. Fixe, mas agora descreve-o. Pois, não consigo. Qual era a história ? Não sei, e suspeito que não tem. Life aquatic? Iá, é aquele que tem as músicas do Bowie cantadas  pelo Seu Jorge ou do Seu Jorge cantadas pelo bowie. Era mesmo fixe, mas também não me lembro da história e, pensando à distância, suspeito que não tem nenhuma a não ser a busca pelo tubarão jaguar e qualquer coisa sobre os chapéus à Cousteau. Rushmore ? Brutal. História ? Não me lembro. Qualquer coisa sobre um miúdo que exagerava nas actividades extra-curriculares. Moonrise Kingdom ? Líndissimo. História ? Não sei, dois escoteiros que fugiram de casa, não era ? E depois. Depois, nada... Darjeeling Limited ? Lembro-me que quando acabei de o ver fiquei com um sorriso estúpido na cara (no Life Aquatic também, por razões muito mais marcantes, que infelizmente pertencem ao passado), mas pensando bem, não há nada de que me lembre na história... Tipo eram três irmãos que iam num comboio e... mais nada... Mas então, e todo o meu paleio sobre a prevalência da história sobre as interpretações, do conteúdo sobre a forma ? Pois, pelos vistos são tretas.. Sempre que vejo um filme do Wes Anderson fico contente, porque vivo uma exteriência muito bonita. Não são filmes, são sucessões de fotografias lindíssimas. Não são interpretações, são diálogos inteligentíssimos que não conduzem a lado nenhum que não fazem, no seu conjunto, nenhum sentido.  São emoções simples que consolidam em nós sentimentos e emoções complicados. são... não sei o que são. E este filme ? Em termos pragmáticos, é acerca de um, chamemos-lhe assim, mordomo de um hotel que herdou uma pintura e que treinou um lobby boy, o que quer que isso seja. E que mais consigo dizer sobre o filme e a sua história? Nada. é o vazio total. E então ? Então, adorei...


65 - upside down

 
Upside down
Algures, no tempo e no espaço, existem dois mundos, exactamente um por cima do outro, como se fossem cada um deles o reflexo do outro, embora uma espécie de reflexo simétrico.Tipo, o mundo de cima é rico e o de baixo é pobre. Estão unidos por um único prédio, que é a sede de uma grande corporação que monopoliza a ciência e o que de resto se passava entre os dois mundos. A simetria reflectia-se também na gravidade. Os de cima eram atraídos pela força gravitacional do planeta de cima e o de baixo eram atraídos pela força gravitacional do de baixo. Ambos partilhavam o mesmo céu e a distância entre os dois planetas não era muita, uma vez que partilhavam entre os dois, para além do prédio cilíndrico que já referi, o café dos dois mundos, um imenso palco de dança em que só se ouve e dança tango e em que os de cima dançam no seu chão, que é o tecto dos de baixo enquanto que os de baixo dançam no tecto dos de cima, que é o seu chão. A segunda lei fundamental é que a matéria de um mundo é matéria negativa do outro, tipo anti-matéria, digo eu, e que cada anti-matéria só se aguenta no outro planeta cerca de uma hora, após a qual incendeia. Adam e Eden (porque não Eve?) são dois jovens que se encontram no monte mais alto de cada um dos mundos e que iniciam um romance, em que ele a puxa para baixo (sendo que para ela é para cima) e a deita no telhado de uma gruta, para ela não desatar a voar. Faz sentido: quando se gosta mesmo de quem se está a beijar está-se sempre com medo que essa pessoa nos fuja dos braços e desate a voar sabe-se lá para onde. Um dia, e porque o contacto entre mundos era estritamente proibido, os polícias de baixo perseguiram Adam e Eden (porque não Eve?) e acertaram um tiro na corda em que ele a fazia descer para o mundo do cime, partindo-a e fazendo com que ela caísse aí uns 20 metros em direcção ao seu chão, tecto dele. A cena acabou com ela a deitar sangue na neve, mas eu avanço já a dizer que ela sobreviveu, apenas perdendo a memória de tudo o que tinha acontecido até esse momento. O Paraíso esqueceu-se de Adão, o que é tão ironicamente amargo quanto verdadeiro... E Adam segui em frente no mundo debaixo, desenvolvendo um creme miraculoso que faz rejuvenescer as pessoas, sendo no entanto que no fundo este creme é apenas um disfarce para um produto que anula os efeitos das gravidades dos dois mundos, ou melhor, que permite viver entre os dois mundos sem passar a vida de cabeça para baixo. A parte do creme de beleza foi apenas para obter uma bolsa do mundo de cima, que era quem tinha o dinheiro e, consequentemente, quem se poderia dar ao luxo de se preocupar com coisas efêmeras como o rejuvenescimento. Os de baixo, coitados, viviam tão mal que só a perspectiva de terem que viver mais que o que era suposto aterrorizava-os completamente. Adam não tardou a encontrar Eden, que de facto não se lembrava nada dele e estranhou as suas interacções, quer por causa do que ele dizia e da maneira como ele a olhava, quer devido ao seu comportamento, como direi, físico durante os seus encontros. porque convém não esquecer que a posição natural dele era de cabeça para baixo relativamente a ela e a tendência natural dele era desatar a voar pelo céu fora. Para poder interagir com ela, ele tinha que se forrar com pedaços de metal e pôr umas solas de metal nos sapatos, e convém não esquecer que para ele, esse metal era anti-matéria, e que incendiava ao fim de uma hora. O  que o transformava numa espécie de Cinderela horária e que o obrigou a fugas absolutamente espectaculares. num dos encontros, depois de ela finalmente o ter recordado, foram novamente apanhados perseguidos pela polícia, que os obrigou novamente a separarem-se, embora desta vez sem separação. No fim, tudo acabou em bem. Com a ajuda de Bruce (que fazia de rato no Harry Potter) acabou de desenvolver o produto e depois... não percebi. Parece que Eden afinal tinha engravidado e que graças a isso estava também livre do efeito da gravidade dupla. E que iam ser gémeos. Sinceramente já não me lembro como é que isso resolveu a situação política dos dois, mas também não interessa. Porque o objectivo não é contar o filme. é apenas escrever que chegue para quando ler isto outra vez saber o que senti quando o vi. Poderia acabar centrando-me nos aspectos sentimentais e na invencibilidade do amor verdadeiro, mas embora presente e bem presente neste filme, não é essa situação que torna este filme especial. Há dezenas de filmes em que este sentimento é igualmente em retratado e em que estas emoções são bem acarinhadas e descritas. O que torna este filme brutal é o facto de fazer coexistir dois mundos em que as pessoas andam a fazer o pino umas em relação às outras. Este filme é um prodígio de inteligência prática.


2.9.14

64 - eternal sunshine of the spotless mind













A ideia é fixe e lembrou-me, vá-se lá perceber, o Total Recall, mas um bocadinho ao contrário. Neste caso em vez de se estar a tentar implantar memórias falsas de acontecimentos supostamente bons nunca vividos, tenta-se apagar as recordações de acontecimentos supostamente maus efectivamente vividos. Um rapaz super tímido, mesmo mesmo  tímido, um dia resolve não ir trabalhar e faz uma coisa parecida com aquela música dos Belle and Sebastian que diz que, e passo a citar; “riding on city buses for a hobbie is sad...”. Resolve meter-se num comboio que faz o percurso inverso do que o leva todos os dias para o emprego e vai , chamemos-lhe assim, à aventura. Se é que se pode chamar aventura a passear em praias vazias no Inverno. Por mim pode-se. Nessa praia vê uma rapariga, que torna a ver na estação e pela qual é interpelado durante a viagem de volta, sendo que que quase foi por ela apanhado a desenhá-la. Palavra puxa palavra e eis que, depois de fazerem aquelas coisas poéticas tipo anjos na neve, andar em cima de gelo fino e passar a noite em claro a conversar, sem sexo, resolvem ir morar juntos. Aparentemente as coisas não correram bem e separaram-se por causa de uns disparates quaisquer que ele terá dito. Tipo que ela pinava com toda a gente porque era a única maneira que conhecia de dar uma impressão positiva de si própria. Palavras pesadas que fizeram com que ela se pussesse a andar, o que fez com que ele rapidamente se arrependesse do que tinha dito e, vários dias depois, a fosse visitar à biblioteca onde ela trabalhava. surpresa. Não só ela não se reconciliou, como em sequer o reconheceu. Furioso com a situação, vai queixar-se aos amigos comuns, que depois de algumas peripécias verbais que não interessam lá muito, lhe revelam a terrível verdade, na forma de uma carta lacónica enviada pelo consultório de um psiquiatra que diz que a miss qualquer coisa decidiu por livre vontade que todas as recordações relativas ao rapaz fossem apagadas do seu cérebro e que, nesse contexto, toda a sua envolvente deveria agir em conformidade. Mais uma vez furioso com a situação, o rapaz vai ao psiquiatra que, ao ver que ele tinha lido a carta, torceu imediatamente o nariz com aquele ar de que aquilo ia dar asneira, mas mesmo assim se prontificou para o ajudar. Depois de algumas conversas, o rapaz pediu ao psiquiatra que lhe fizesse o mesmo processo e que lhe apagasse a rapariga da mente, e aí começa a verdadeira confusão. A meio da implementação da terapia de esquecimento, que é feita em estado de inconsciencia, o rapaz resolve mudar de ideias, e a partir daí é a confusão total, com a vida real a misturar-se com as recordações e com as situação a dividirem-se entre as verdadeiramente vividas e as que poderiam ter sido vividas, e com os cenários das memórias a desmoronarem-se completamente e com ele a tentar a todo o custo escapar à destruição do seu passado. Confesso que aqui a situação se tornou tão paranóica e exagerada que o meu cérebro, em defesa da minha integridade intelectual, adormeceu e eu adormeci a seguir, por uns momentos. Quando voltei ao normal ainda consegui retomar o fio à meada, sendo que ambos se esqueceram um do outro, mas tornaram a reencontrar-se e a sentirem-se atraídos um pelo outro pouco tempo depois. No entanto, e para complicar,  ambos receberam uma cassete com as declarações proferidas e gravadas por cada um deles quando explicaram ao psiquiatra porque queriam apagar-se um ao outro. Obviamente, a cassete (enviada pela assistente abusada pelo psiquiatra e que foi por este intervencionada no sentido de o esquecer)  de um dizia cobras e lagartos do outro e assim eles viram-se confrontados com tudo o que de mal o outro tinha sem nunca terem tido oportunidade de o experimentar. Tipo: esse crepe de chocolate branco misturado com creme de ovos e envolvido em chantily com pedacinhos de oreo esmagados e aspergido de m and m’s, apesar de parecer bastante apetitoso, vai-te fazer mal ao estômago. Queres comê-lo na mesma ? Resulta afinal que tanto ele como ela eram pessoas normais e responderm afirmativamente... Como dizia o William Burroughs em qualquer sítio do Naked Lunch: wouldn’t you ?

63 - august osage county













Mãe fumadora compulsiva apanha um cancro da boca que a torna masoquista, falando cada vez mais e sádica, uma vez que tudo o que diz é para magoar alguém. Um dia o pai contrata uma empregada índia e no dia seguinte foge de casa, para se suicidar. Isso faz com que duas das três filhas regressem a casa, uma vez que uma delas nunca de lá saiu. a partir desse reencontro da família, sucedem-se os clichés, não por o filme estar mal feito mas porque efectivamente é aquilo que acontece em todas as famílias. As famílias são, por definição,um desfile de clichés e isso, sendo chato, é bom. Os clichés só existem porque certas situações se repetem à exaustão e isso só acontece junto de pessoas de quem se gosta. Quem de entre nós repetiria a vida à exaustão sem ser com  as pessoas que nos estão no sangue? Eu não... Só dentro da família nos permitimos fazer parte de clichés. E então, à mesa de um jantar, descobrimos que uma das filhas é casada com um homem que não a trata bem e que assedia a filha de uma das outras filhas, sobrinha, por definição, que outra das filhas está já separada do marido que está sentado na mesma mesa e que por acaso a trocou por outra 20  anos mas nova, e que a terceira, a que nunca saiu de casa, namora e planeia fugir com o primo, ganzado conservador e inocente cujos pais pensam que é um bocado retrasado. Para piorar o que já não era fácil, vem-se a saber que o primo afinal é irmão e que a mãe dela (a fumadora) sempre de tal soube e que nunca tal revelou para permitir uma vida cheia de complexo de culpa ao pai, aquele que saiu de casa para se suicidar. Embora respeitando a intensidade dos sentimentos familiares, confesso que não me interessa muito a roupa suja das famílias dos outros.  É certo que está magistralmente interpretada, mas eu, valorizando sempre o conteúdo sobre a apresentação não posso deixar de pensar que se trata na mesma de  roupa suja, por muitos óscares que possa ter. Enfim, um desperdício de Júlia Roberts, não que eu seja grande fã, mas com aquela atitude e com o cabelo liso, está linda de morrer...

62 - side effects


Rapariga deprimida vai ao psiquiatra, que lhe receita um antidepressivo inovador qualquer que a prosta completamente, ficando meia zombie de dia e completamente zombie durante a noite. Um dia, ou melhor, uma noite, tem um ataque de sonambulismo e mata o marido com várias facadas proferidas com os olhos bem abertos. O marido era um corrector da bolsa acabado de sair da prisão por inside trading, crime muito em voga nestes dias, sendo que se for cometido por pessoas com alusões religiosas no nome da família, em Portugal não dá direito a prisão. Morto o marido, sobra o psiquiatra, que rapidamente se vê envolvida numa trama que tem como objectivo tramá-lo completamente, sendo mais rápido o desmoronamento de tudo o que tinha conseguido do que a ascensão meteórica que tinha experimentado para o conseguir. Perde a mulher, o enteado, bastantes pacientes, os patrocínios dos delegados de propaganda médica e ainda leva com um qualquer inquérito da ordem dos psiquiatras em cima. Tudo porque toda a gente acha que foi o novo fármaco que ele deu à rapariga que a lixou completamente. Curiosamente, mesmo com todas essas suspeitas, ainda arranjou maneira de ser ele o psiquiatra responsável pela criminosa, agora devidamente internada numa prisão psiquiátrica qualquer. Antes de recorrer a este psiquiatra, a rapariga deprimida já o estava e já tinha recorrido a uma outra psiquiatra, com quem se tinha envolvido física e sentimentalmente durante a terapia efectuada. Resumindo: era tudo uma maquinação lésbica para ficar com o dinheiro de seguro do marido recém-libertado e recém-assassinado, sendo que as culpas deveriam ficar para o psiquiatra homem. Tal não aconteceu, uma vez que este, com uns simples truques primários, provou que o amor lésbico não é mais forte que o heterossexual, e com meia dúzia de intrigas arrumou-as completamente. Cumpriu-se mais uma vez a tradição, ficando provado que os filmes que metem psiquiatras são uma seca.

sidde effects

7.7.14

61 - a floresta dos espíritos












Jean Christophe Grangé.
Uma juíza sente na pele que a vida não tem a mesma opinião dos juízes que estes têm de si próprios. Jeanne tinha trinta e cinco anos e não tinha marido, filhos, pais vivos, namorados interessados, sobrinhos, família, animais de estimação, amor... Tinha sexo ocasional quando se libertava das suas paranóias interiores e aceitava que nem tudo na vida é como queremos. Mas não tinha amor, nem grandes amizades, nem grandes afectos, apesar de ser uma juíza, de ser uma eleita, melhor que os outros, paradigma da independência e da superioridade humana, primus inter pares, et pluribus unum,  dura telex cet lex, et cetra, e algumas expressões gregas mais. Mas, e continuando em grego, hellas, o raio da vida (há quem lhe chame puta), não era sensível à especialidade de Jeanne e continuava a martelá-la com aqueles problemas que só deviam acontecer aos inferiores, e Jeanne via-se grega para gerir isso. A custo, saiu da depressão crónica que lhe tinha custado dois meses numa casa de repouso, e lá se ia aguentando mais ou menos; à custa de uns calmantes e uns gestos com o dedo médio da mão direita. Não era canhota... Jeanne tinha no entanto uma pulsão... complicada, derivada de um trauma... complicado, e que se traduzia na sua apetência para desvendar crimes... complicados... E porque as coisas não podiam correr sempre mal, e nem tudo na vida podem ser azares, eis que começam a aparecer crimes... complicados, em Paris. Vou abster-me de pormenores, que são tantos que chegaram a incomodar-me. Basta dizer que os crimes envolviam desmembramento e canibalismo. Jeanne, já naturalmente atenta a este tipo de crimes, mas ficou quando as escutas que ela tinha mandado colocar no consultório do psiquiatra do namorado (e que revelaram que este apenas a queria para aquilo que as mulheres não querem ser queridas, hellas, outra vez raisparta os homens, só pensam em sexo os cabrões) revelaram que este sabia algo sobre os ditos crimes. Mais concretamente, havia um espanhol velhinho que tinha um filho que tinha dentro dele uma espécie de alter ego demoníaco, tipo mr. hyde, que era provavelmente quem cometia os crimes. Jeanne, depois de o juiz amigo dela que tinha ficado com o caso ter morrido às mãos do assassino e depois do psiquiatra do namorado que só a queria para pinar ter desaparecido, resolveu também ela desaparecer e ala para a América do Sul. Chega à Nicarágua e, graças a isso, temos uma lição da revolução nicaraguense e da consequente repressão militar para evitar o comunismo. Ok. História é sempre bem vinda, embora confesso que a da Nicarágua eu já conhecia, li o sorriso do jaguar, do Salman Rushdie, quando era novo, desculpem lá. Depois vai para a Argentina e, graças a isso, temos uma lição da revolução Argentina, e da consequente repressão militar para evitar o comunismo. Ok. História é sempre bem vinda, embora confesso que a da Argentina eu já conhecia, li a operação massacre, de Rodolfo Wash, quando era novo, desculpem lá. E depois vai para a Guatemala, onde não temos grande lição de história, o que é pena, pois da Guatemala, além de ser um dos países onde os Maias andaram (o livro diz isso, mas eu já sabia), eu não sei patavina. A certa altura, no meio destas viagens, encontra-se com o psiquiatra, que passa a acompanhá-la na viagem e na investigação e juntos, fogem ao cliché e não pinam um com o outro. É aqui que paro com a história, pois nunca se sabe se a vou esquecer ou não e este texto é para quando eu for velho e me esquecer de tudo, vir aqui e ler que este livro é muito fixe e que vale a pena ser lido. Sendo mais claro, permitam-me: Pedro, se estiveres a ler isto quando fores velhinho e te tiveres esquecido de tudo, PODES ler isto livro à vontade, porque vale a pena. Apenas para concluir, vale mesmo a pena. Já há muito tempo que o suspense não durava até ao último capítulo...

6.7.14

60 - the sessions













Pensando bem, esta não é uma maneira convencional de começar um texto. Mas o facto é que acho que acabei de encontrar uma das principais coisas que me agradam num filme. é quando as coisas fazem sentido, quando são inteligíveis e quando todas as personagens se portam de uma maneira adequada, sem parvoíces. Quando cada coisa que dizem faz sentido e quando cada coisa que dizem é dita às outras personagens, criando assim diálogos inteligentes. A cho que já não gosto de monólogos e acho que os diálogos são a coluna vertebral dos filmes. Um filme não tem tempo para ficarmos a pensar em monólogos intermináveis, que quando acabam a audiências já mudou ou, no caso dos filmes maus, já desapareceu... nos filmes o que conta é aquilo que podemos apreender rapidamente, e isso são algumas imagens e muitos diálogos. Neste filme, que está longe de me entusiasmar, tudo faz sentido, toda a gente faz a coisa certa e isso é agradável. Existe um homem que sofre de poliomielite, estando acamado e tendo que viver grande parte do tempo dentro de um pulmão artificial (tipo iron lung, dos radiohead). Podia ser amargo, mas é poeta, jornalista e quer fazer sexo. Confessa-se ao novo padre da paróquia, que o ouve com atenção, abraça-o quando ele precisa e diz-lhe com uma pontinha de resignação invejosa que sim, que deve tentar resolver as suas pulsões da forma que todos os homens acham que as suas pulsões devem ser resolvidas. Mark tem como assistente uma actora índia a fazer de conta que é chinesa, sendo que o cruzamento dessas duas maneiras de ser fazem com que cada palavra que diz seja a certa e cada gesto que faz seja o certo. Mas não, não foi a ela que Mark recorreu. A quem Mark recorreu foi a uma terapeuta sexual (Helen Hunt, gloriosa na sua nudez) que, também ela, dizendo e fazendo apenas as coisas certas, consegue que Mark ultrapasse a sua virgindade e se sinta erradamente mais homem do que já era, Porque como dizia Rod, o outro assistente que lhe salvou a vida no dia em que luz faltou e o pulmão de ferro parou, a penetração é largamente sobrevalorizada, mas absolutamente essencial para o equilíbrio masculino. há muitas maneiras de se chegar ao mesmo efeito (isto ainda á Rod a falar), mas para o homem, se não enfiar, então nada está bem. No hospital, Mark conhece Susan, que nem precisa de abrir a boca para dizer a coisa certa. Casa e morre cinco anos depois, consubstanciando assim uma das suas ânsias durante a vida, quando tinha vislumbres de uma tristeza futura. Descansou em paz...

8.2.14

59 - the good man jesus and the scoundrel christ












Philip Pulmann foi responsável por um dos melhores livros que eu já li. Cruzava fantasia com aventura, todos à volta de uma carga filosófica muito intensa e, acima de tudo, coerente. Metia também ursos blindados, que sempre tinha sido mas eu nunca me tinha apercebido, o meu animal favorito. Todas as pessoas tinham um génio que tomava a forma de um animal, e penso que nunca nada me comoveu tanto como a descrição que ele fez da operação que tinha como objectivo separar uma criança do seu génio. O livro, ainda por cima, eram três e eram os três muito bons, cada um deles no seu registo, ambiente e personalidade própria. O livro chamava-se os reinos do norte e nunca até hoje percebi qual dos três gostei mais. Sempre achei estranho um escritor deste quilate não ter publicado mais nada, mas como nunca consegui deixar de sentir uma sensação de incredulidade relativamente aos reinos do norte, como se fosse demasiado bom para ser verdade a sua própria existência, confesso que senti medo de investigar o resto da sua obra e fui andando, acreditando que mais à frente nos cruzaríamos novamente. E assim aconteceu, embora tenha que confessar que fiz batota. Depois de meses e meses a ler policiais bons mas sempre no mesmo registo, depois de vários meses sem ler quase nada, procurei deliberadamente um escritor em que confiasse e encontrei um livro que, antes de se poder considerar bom ou mau, é decididamente um livro diferente. Então era assim. Há mais ou menos dois mil anos, uma mulher chamada Maria teve dois filhos gémeos. A um chamou Jesus e a outro chamou Cristo. Jesus era extrovertido, simpático, forte, afirmativo, sempre a procurar situações de desafio... Cristo era uma espécie de antónimo positivo do irmão; positivo porque era igualmente um rapaz bom. Antónimo porque era introvertido, reservado, meditativo, fraco fisicamente e muito avesso a confusões. Os dois viveram em conjunto durante os trinta anos de que a bíblia não fala, como se fossem uma única pessoa, mas a partir de certa altura os seus caminhos divergiram. Embora com o mesmo objectivo final, cada um deles via a vida e o mundo e todo o resto de uma forma diferente. Jesus começou a pregar a palavra de Deus e a realizar milagres Galiléia adentro. Cristo tornou-se o seu cronista e registava tudo aquilo que o irmão fazia e dizia, mas sem que este o soubesse. Jesus queria criar um novo mundo; Cristo também, mas de uma forma ligeiramente diferente. Cristo achava que toda a obra do irmão só faria sentido se desse origem a uma organização que fundamentasse a religião que Jesus estava a criar e que sem esta organização esta obra não perduraria e não teria qualquer impacto no mundo. Essa organização ajudaria a humanidade a suportar todos os mistérios, injustiças e compromissos que a vida inevitavelmente acarreta. Essa organização educaria as crianças numa perspectiva correcta, cuidaria dos doentes, alimentaria os necessitados, administraria a justiça e a benevolência,  inspiraria a arte e a música, enfim, tornaria bom o mundo mau. Cristo estava assim apanhado entre dois fogos. Por um lado sabia que o irmão era puro e estava certo naquilo que desejava para a humanidade. Por outro lado sabia que seria necessário algum calculismo e mesmo algum trabalho sujo para que o Reino pudesse efectivamente chegar. Jesus, por sua vez, sendo um idealista puro, não lhe faltava a inteligência para ver o rumos que as coisas estavam a tomar. Sabia que a melhor maneira de o diabo entrar nos homens é pela porta que fica aberta quando estes acreditam que estão a trabalhar em nome de Deus. Em pouco tempo surgirão listas de castigos para todo o tipo de actividades inofensivas, surgirão pessoas a ser apedrejadas, açoitadas e chicoteadas pr causa do que comem, do que vestem, do que lêem e do que pinam. Em pouco tempo as pessoas que julgam que estão a fazer o trabalho de Deus constroem palácios e templos, fazendo com que tudo isso seja pago pelos pobres, em impostos em nome de Deus. E quanto mais poder estas pessoas angariarem, mais medo vão ter de o perder, e vão construir tribunais para queimar aqueles que acham que são pagãos e heréticos. E vão inventar guerras santas, e cruzadas, e a guerra perpetuar-se-á. Angustiado por tudo isto, Jesus questiona o pai, pedindo orientação e que Este lhe indique o caminho certo. tal, como todos sabemos, não acontece. A partir daí acontece a História. Os poderes religiosos instituídos acham que Jesus foi longe demais e resolvem condená-lo. Roma lava tranquilamente as mão, pensando que está a elimiar um terrorista e jesus acaba na cruz, depois de ter sido denunciado não pelo beijo de Judas, mas sim pelo beijo do irmão. De cristo. Que depois, arrependido, vai tirar Jesus da tumba e apresenta-se ele próprio aos apóstolos, criando assim o mito da resurreição. E fazendo com que os apóstolos espalhassem a palavra, o que deu no que deu...

4.2.14

58 - o clube dos anjos












10 amigos de infância fazem um jantar por mês, em que um deles é o anfitrião e o cozinheiro. Os amigos são todos bastante diferentes entre si, mas compartilham do gosto pela gastronomia refinada, celebrando esta assim em forma de metáfora das suas amizades e das suas vidas. Tipo, não somos, nem nós nem as nossas vidas, grande coisa, mas teremos sempre estes jantares, teremos sempre a nossa amizade e ternos-emos sempre uns aos outros.bum dia, um deles encontra um desconhecido que lhe faz uma omeleta perfeita e convida esse desconhecido para passar a ser o cozinheiro dos jantares do Clube do Picadinho. Era o nome do clube deles... Lucídio, que agora que sabemos o nome deixa de ser um desconhecido, cozinha divinalmente, tendo no entanto um pequeno problema a ele associado: mata sempre um dos convidados mo fim de cada jantar. Descobrimos depois que esta era apenas uma forma de se vingar de um dos dois homossexuais que integrava o grupo, Samuel. Samuel era, por sua vez, integrado por Ramos, o mentor espiritual e segundo homossexual. Lucídio nunca perdoou a Samuel ter sido comido por Ramos e assim, numa lógica perversa, resolveu vingar-se deste dando-lhe de comer. Comida... Como ovos sem os quais a omelete da vingança não pode ser confeccionada, jantar após jantar vai morrendo um comensal, geralmente o organizador do mesmo. Lucídio partiu do princípio que Samuel  sofreria com a morte dos amigos. Não fiquei completamente convencido disto, e Samuel também não. A vida continua e a morte também. Como eles eram apenas 10 e Ramos já tinha morrido antes, os jantares duraram cerca de 8 meses, porque começou a faltar matéria prima viva e a sobrar matéria morta. O livro acaba com o único que sobrou a fazer uma agência de fornecimento de mortes paliativas. Chateiam-me os livros que conseguem quase até ao fim escapar à estupidez e que se esparramam nela nas últimas duas páginas. É uma pena. E, assim sendo, temo-la.

57 - ted












Um dia, um daqueles meninos com quem ninguém brinca recebeu um urso de pelucho no Natal, tendo imediatamente desejado que o urso ganhasse vida de maneira a poder vir a ser o seu melhor amigo para sempre. Tal aconteceu e o menino, em vez de esconder o urso no armário, tipo Elliot fez muito injustamente ao ET, resolveu assumi-lo, aterrorizando a família, ue viu em Ted uma reencarnação de Chucky. Depois dos seus 15 minutos de fama a nível nacional, rapidamente toda a sociedade americana se adaptou a Ted, sendo justo dizer que este também se adaptou à sociedade americana. E assim, os melhores amigos  continuaram melhores amigos, a fazer aquilo que os melhores amigos fazem, tipo beber, fumar ganza e, digamos assim, interagir com mulheres. digo interagir porque não sei classificar. Relação entre um urso de peluche e várias prostitutas. Mas a vida de solteiro tem sempre um fim. E um dia, o rapaz apaixonou-se e começou a namorar a sério com ima namorada a sério. Ted, sendo urso, tinha pouco deste animal. De facto, poder-se-á dizer que Ted era muito humano. Que é a mesma coisa que dizer que era bués de ciumento. Ao ver o melhor amigo a consagrar o seu tempo a outro tipo de peluche ,retaliou ferozmente de muitas maneiras, sendo muito cansativo enumerá-las a todas. Bastará no entanto dizer que acabou com duas prostitutas a fazer cócó sólido no tapete da casa. Obviamente que a namorada o colocou instantaneamente em condição OEOE. Tipo, oeizou-o. Todos sabemos o que é oeizar. É uma das duas reacções instintivas que as mulheres tem quando as coisas não correm como querem. Ou oeizam (Ou Ele(a) OU Eu ou entram em regime de enxaqueca, que todos os homens sabem que é sinónimo de naoháqueca (NHQ). O que não faz sentido nenhum, porque diz quem sabe que o melhor remédio para a enxaqueca é um afluxo de sangue ao longo do corpo, mais conhecido como orgasmo. Que é também, obviamente,ma solução para a condição de NHQ . Voltando ao filme, o urso foi preterido pela namorada e perdeu-se depois numa vida boémia com montes de álcool, drogas e mulheres. E aqui não posso deixar de dizer que o filme falhou redondamente. Pardeu-se uma oportunidade de ouro de se ver no cinema um urso de peluche a pinar. O que ia ser óptimo para a humanidade. As mulheres iam ver quão fofinho o sexo é e passariam a querer fazê-lo mais. Os homens, fazendo-o mais, tornar-se-iam muito mais boas pessoas. Isso quer dizer que o sexo resolve tudo ? Não sei. Sei, no entanto, duas coisas: que o sexo com quem se gosta resolve mesmo muita coisa e que a negação de sexo não resolve coisa nenhuma. E que tem isso a ver com urso de peluche que ganha vida e passa-a a beber, comer, arrotar, fumar charros e etc? Não tem muito, mas também não há nada que tenha...

5.1.14

2013

livros (1 por mês)
o clube de paris - steve berry
a mão do diabo - josé rodrigues dos santos
o mercador de livros malditos - marcelo simoni
o gabinete das curiosidades - douglas preston e lincoln child
o prisioneiro do céu - carlos ruiz zafon
still life with crows - douglas preston e lincoln child
prodigal son - dean kontz
o cemitério de praga - umberto eco
as esganadas - jo soares
ender in exile - orson scott card
inferno - dan brown
brimstone - douglas preston e lincoln child
a livraria do sr. penumbra - robin sloan
feios - scott westerfeld
barroco tropical - josé eduardo agualusa
a casa atreides - brian herbert e kevin anderson
world war z - max brooks
madrugada suja - miguel sousa tavares
superman: red son
planetary - warren ellis
injustice_gods among us
dance of death - douglas preston e lincoln child
the good man jesus and the scoundrel christ - philip pulmann

filmes (1 por semana)
brave
skyfall
to rome with love
170 hz
the hobbit
ted
seven psychopaths
goon
the ides of march
wreck it ralph
ele não está assim tão interessado
the perks of being a wallflower
crazy stupid love trailer
hansel and grettel witch hunters
moneyball
the boondocks saints
ruby sparks
robot and frank
cloud atlas
django unchained
mr. nobody
my awkward sexual adventure
rushmore
wristcutters
the station agent
good will hunting
entre les murs
oblivion
cosmopolis
a idade do gelo 3
world war z
homem de ferro 3
before sunrise
the east
now you see me, now you don't
man of steel
star trek - in to the darkness
malena
pacific rim
warm bodies
o bom pastor
ink
oz
zero dark thirty
detachment
a gaiola dourada
blue jasmine
wolverine
o grande gatsby
elysium

séries (uma por dia)
grimm - t1
fringe - t4
alphas - t2
true blood - t4
spartacus - t4
perception - t1
era uma vez - t2
game of thrones - t3
da vinci's demons - t1
falling skies - t2
grimm - t2
hannibal - t1
sherlock - t2
falling skies - t3
haven - t3
elementary - t1

música
uma hora de música 1
uma hora de música 2
uma hora de música 3
uma hora de música 4
uma hora de música 5
uma hora de música 6
uma hora de música 7
uma hora de musica 8
uma hora de música 9
uma hora de música 10
uma hora de música 11
uma hora de música 12
uma hora de música 13
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uma hora de música # 24

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