10.9.11

29 - fables 3.1



No dia 1 de Agosto (e eu sempre tive uma relação peculiar a três comigo, com as minhas leituras e com este mês), ou melhor, na noite 1 de Agosto, numa daquelas noites em que preferia estar noutro sítio, a fazer ou a não fazer outras coisas com outras pessoas, a sentir que o Verão é efectivamente diferente do resto do ano e que essa diferença não se esgota a ficar deitado na varanda até adormecer, deitei-me na varanda e, se calhar adormeci. Ou se calhar não, mas a experiência por que passei poderia bem ser um sonho, porque nessa primeira noite, a Bela e o Monstro estavam a contar as dificuldades do seu casamento à Branca de Neve, e o Principe Encantado estava a pinar ferozmente uma empregada de café, e o Lobo Mau estava a investigar o rapto da a namorada do Jack (o do pé de feijão). Condensado, seria assim. Na segunda noite, um dos três porquinhos estava na sofá do Lobo Mau a queixar-se que queria viver na cidade, e a Bela Adormecida esta a lutar esgrima com o Barba Azul,, e o Principe Encantado estava a almoçar com a Branca de Neve, sua primeira mulher, e estava a cravar-lhe dinheiro, e o Lobo Mau acusou o Barba Azul de ter matado a irmã da Branca de Neve. E na terceira noite o Barba Azul estava a tentar matar o Jack (o do pé de feijão) por achar que este tinha matado a irmã da Branca de Neve, e a irmã da Branca de Neve tinha prometido casar com o Barba Azul, e que era por isso que ele estava fodido, e o Lobo Mau e a Branca de Neve também sabiam isso E na quarta noite havia uma festa em que o King Cole, presidente da câmara, recordou a toda a gente que todos eles vinham do mesmo sítio, e que foram de lá expulsos pelo Adversário, e que por isso é que tinham vindo todos para Nova Iorque, e o Pinóquio confidenciou que estava farto de estar há mais de trezentos anos aprisionado no corpo de uma criança de 10, e que queria sexualizar, e que não conseguia, e que se estava a passar, e o Lobo Mau descobriu que a irmã da Branca de Neve afinal não tinha morrido. E na quinta noite o Príncipe Encantado tinha leiloado o seu título na internet. E na sexta noite havia uma quinta cheia de não humanos super famosos, e levaram um dos três porquinhos de volta para lá, e a quinta estava dominada pelos porcos, e que aquele dos três porquinhos que passava a vida a fugir da quinta para a cidade se chamava Collin, e que, nessa noite, a cabeça dele apareceu espetada numa estaca, tipo Deus das Moscas. E na sétima noite descobri que foram os três Ursos da Cachinhos de Ouro que mataram o Collin, e que foi a Cachinhos de Ouro que os mandou fazer isso, e que foram descobertas por Reynard, a raposa, e que havia um grupo de animais rebeldes que queriam fazer uma revolução, e que entre esses animais estava o Balu , a Cobra Cã e o Shere Khan , e ainda a a Baguera, todos do Livro da Selva e todos estranhamente unidos. E na oitava noite, os animais da quinta estavam todos a fazer de conta que eram porcos e revoltaram-se, e a Branca da Neve teve que fugir para a floresta, e o Shere Khan foi atrás dela, e ela matou-o com quatro tiros no focinho, e depois entrou numa gruta onde estava e Ferreiro Weyland a fazer armas para os animais revoltosos, acorrentado com um feitiço que não lhe permitia usar as ferramentas que tinha para quebrar a própria corrente. E na nona noite, a Branca de Neve tinha sido apanhada pelos revoltosos e foi julgada pelos porcos do Orwel e aprisionada junto ao Ferreiro Weyland, e prepara-se a batalha final, sendo que entre os revoltosos consegui ver, para além dos já mencionados, o Coelho Branco da Alice, o Gato das Botas, a Morsa dos Beatles, o Chicken Little, o Gato de Chesire (o da Alice), a Lebre e a Tartaruga, um monte de liliputianos e ia jurar mesmo que vi o Ursinho Pooh e o Piglet, mas pode ter sido uma alucinação, e entre os leais à Branca de Neve só reconheci o Rei Leão, e apesar da desproporção, Branca de Neve ganhou a batalha recorrendo a quatro gigantes e um dragão, numa espécie de antevisão aos quatro casamento e um funeral, funeral que poderia bem ser o dela, uma vez que a Cachinhos de Ouro lhe acertou com uma bala entre na cabeça, a mais de duzentos metros e usando, obviamente, uma espingarda com mira telescópica. E na décima noite o Principe Encantado, o Barba Azul, e o Rapaz Azul (esta repetição não foi um descuido) chegaram à quinta e tomaram conta da situação, e o Príncipe Encantado foi o juiz dos julgamentos dos revoltosos, e os porquinhos que sobraram foram condenados à morte por um carrasco que não era talhante e que demorou mais de dez golpes a cortar-lhes a cabeça, danificando assim as costeletas do cachaço, e tudo acabou bem, passando a irmã da Branca de Neve a tomar contada Quinta. E na décima primeira noite fiquei a saber a história do Jack, o dos Feijões, que ganhou o saco da morte num jogo de cartas, e quando contei doze, um jornalista descobriu Fabletown, e a Bela Adormecida picou o dedo dentro da Tiffany´s, adormecendo toda a gente lá dentro. E na décima segunda noite, o Barba Azul matou o jornalista que ameaçava denunciar Fabletown, isto mesmo depois do o Lobo Mau ter já conseguido que o jornalista não fosse revelar nada. E na décima terceira noite o príncipe encantado já não conseguiu acordar a Bela Adormecida, provavelmente porque já não a amava e o feitiço só funciona quando a bela é beijada por um príncipe que a ama e, assim sendo, continuou a dormir até ser acordada pelo príncipe que dantes era um sapo e que confessou timidamente que sempre tivera um fraco pela Bela, adormecida. E na décima quarta noite o Barba Azul e o Principe Encantado batem-se em duelo na academia de esgrima, e o Barba Azul e a Cachinhos de Ouro pinam um com o outro, sendo que o Barba Azul lhe dava guarida em troca de, e passo a citar, “um broche ocasional” e ainda o Barba Azul envenena o Lobo Mau e a Branca de Neve. E na décima quinta noite o Lobo Mau e a Branca de Neve vão acampar para o meio do monte e são perseguidos pela Cachinhos de Ouro, que continua a querer matar a Branca, parecendo querer que todos nós cheguemos à conclusão que já não se trata de política mas sim de psicapatia. E na décima sexta noite o Lobo Mau confessa o seu amor à Branca de Neve de uma maneira bastante original, que é dizer-lhe que só fuma tanto para não Ter de a cheirar, porque se a cheirar só lhe apetece comê-la, e isto, digo eu, faz todo o sentido mas eu prefiro não fumar e cheirar, e o Príncipe Encantado mata o Barba Azul num duelo desta vez a sério, aproveitando para lhe ficar com a sua vasta fortuna, e o Lobo Mau revela que conseguiu deitar abaixo a casa dos porquinhos porque o seu pai é o Vento do Norte. E na décima sétima noite a Cachinhos de Ouro enche o Lobo Mau de balas, muitas mesmo, mas de chumbo e não de prata, o que foi um erro e a Branca de Neve enfia um machado na cabeça da Cachinhos de Ouro várias vezes, mas esta custa muito a morrer porque o poder das fábulas é directamente proporcional à sua popularidade entre os humanos e toda a gente adora a Cachinhos de Ouro, o que faz dela extremamente poderosa e dificílima de matar, mas não ao ponto de escapar a 12 machadadas na cabeça, seguida da queda de um precipício e de um atropelamento por um TIR desembestado, e depois o Lobo Mau e a Branca de Neve voltam a Fabletown e a Branca de Neve descobre que está grávida. E na décima oitava noite não acontece nada, e na décima nona noite o Príncipe Encantado quer candidatar-se a mayor de Fabletown e o Lobo Mau reivindica a paternidade da gravidez da Branca de Neve, pois ainda que enfeitiçado, nunca poderia deixar de responder ao apelo da natureza e, vinda directamente da Homeland (leia-se a Terra Natal das Fábulas), aparece a Capuchinho Vermelho. E na vigésima noite o Lobo Mau revela as suas desconfianças sobre a Capuchinho Vermelho à Branca de Neve, e a Capuchinho Vermelho passa-se dos carretos quando descobre que o xerife de Fabletown que a vai interrogar é o Lobo que lhe comeu a avó (e, já agora, que tentou comer os porquinhos, os cabritinhos e por aí fora, ou seja, sempre o mesmo, como seria lógico e de esperar), tudo isto enquanto o Príncipe Encantado angaria assinaturas para tentar chegar a mayor. E na vigésima primeira noite três soldados de madeira parecidíssimos com os agentes do Matrix chegam a Fabletown e espancam o Jack do Pé de Feijão. E na vigésima segunda noite descobrimos que Fabletown optimiza os seus recursos de uma maneira bastante eficiente, pois além do o Lobo Mau ser sempre o mesmo para a Capuchinho, os 3 porquinhos e os cabritinhos, descobrimos também que o Príncipe Encantado foi também sempre o mesmo para a Branca de Neve, a Bela Adormecida e para aCinderela, tendo casado com as três por esta ordem que acabei de escrever, e que a Cinderela é actualmente dona de uma cadeia de sapatarias ( o que faz bastante sentido, digo eu), mas que também é uma das agentes secretas do Lobo Mau que por sua vez, relembremos, é o xerife de Fabletown. E na vigésima terceira noite os soldados de madeira assaltam uma loja de armas, e a Capuchinho Vermelho faz as pazes com o Boy Blue (personagem que ainda não expliquei porque não conhecia, mas que pode ser consultada aqui ) acabando na cama com ele, a pinar, obviamente, jogada errada porque graças ao sexo experimentado ele descobriu que ela não era a Capuchinho Vermelha original, mas sim uma feiticeira vinda das Homelands para, em conjunto com os soldados de madeira, invadir Fabletown, tudo isto enquanto o Príncipe Encantado continua com a sua campanha eleitoral para ser mayor e convida a Bela e o Monstro para serem, respectivamente, mayor interina e xerife em substituição, como sabem e também respectivamente, da Branca de Neve e do Lobo Mau, isto apenas se ganhar as eleições, obviamente. E na vigésima quarta noite a Capuchinho Vermelha falsa (a tal feiticeira que se chama Baba Yaga ) e os soldadinhos de madeira, torturam bastante o Boy Blue e o Lobo Mau descobre quem eles são, e a Branca de Neve proclama o estado de emergência em Fabletown, momentos antes de os soldadinhos de madeira invadirem a assembleia e exigirem a submissão total de Fabletown e, surpreendentemente, a devolução do Pinóquio. E na vigésima quinta noite a Branca de Neve entrincheira Fabletown e reúne as forças leais das Fabels, enquanto que a Capuchinho Vermelho (falsa) faz o mesmo com as tropas leais ao império, que tem a curiosidade de serem completamente formadas por soldadinhos de madeira, e tudo parece indicar que a Guerra vai começar. E na vigésima sexta noite a Guerra escala, começando a correr mal para as Fables sendo que algumas destas começam a morrer, com particular destaque para o Pinóquio, que vê a sua cabeça cortada por um dos soldadinhos de madeira. E na vigésima sétima noite a batalha acaba porque o Lobo Mau regressa e acaba com os soldados de madeira enquanto que a Capuchinho Vermelho (falsa) é derrotada pela feiticeira mais poderosa de todas, que deve o seu poder ao facto de ninguém saber bem quem ela é, ainda que se desconfie que é a bruxa do bosque da casinha de chocolate que queria comer aHansell e Grettel, e depois de se terem enterrado os mortos, as águas da Branca de Neve rebentam. E na vigésima oitava e vigésima nona noites, num flashback elucidativo descobre-se que o Lobo Mau foi um agente secreto americano aquando da segunda guerra mundial e que destrui o Frankenstein, que os nazis tinham, chamemos-lhe assim, reactivado e que pretendiam usar como arma secreta. E na trigésima noite o Príncipe Encantado ganha as eleições para mayor de Fabletown e nascem os bebés da Branca de Neve e do Lobo Mau, que são sete e são também, e compreensivelmente, uma mistura entre humano e lupino, num gradiente perfeito, tendo ainda a particularidade de … voarem. E foi assim que se passou o meu mês de Agosto, e ao pensar que efectivamente eu queria que as minhas noites não fossem apenas mais do mesmo, tenho que reconhecer que foram efectivamente originais. Uma fábula por dia, durante 30 dias, a caminho das 1001 noites, como a Sherazade…

2.9.11

28- world war z



Max Brooks
O princípio do livro faz-me pensar se não há aqui uma metáfora qualquer. Algures na China (metáfora número 1: virá da China o fim do mundo?), numa daquelas aldeias de alguma forma relacionadas com a Barragem dos Três Diques, aparece um miúdo que foi mordido por alguma coisa que estava debaixo da albufeira (metáfora número 2: a barragem como monstro que efectivamente é) e que, abreviemos, se transformou num morto-vivo, zombie para simplificar. A partir daí foi o que toda a gente facilmente adivinhará. As contaminações são funções exponenciais, toda a gente sabe. O mundo, tal como o conhecemos ficou rapidamente, comprometido, tal como a raça humana que muito rapidamente o estava a deixar de ser. Passamos então a ser confrontados com diversas histórias que nos relatam os efeitos, causas, consequências, reacções, efeitos em todo o tipo de pessoas, instituições e países. Estas histórias estão escritas em forma de entrevista, mas daquelas entrevistas feitas como deve ser, em que o entrevistador apenas monossílaba (esta palavra pretende ser um verbo, tipo eu monossílabo, tu monossílabas, etc.) e o entrevistado leva a sério o seu papel, que é o de ter alguma coisa para dizer. Cai assim, inevitavelmente, num monólogo. De seguida, as histórias mais interessantes, mas este é um caso em que o resumo não faz justiça ao livro, porque todas as histórias são interessantes, muitas são geniais, e eu vou esquecer-me de algumas...
O início: A China como metáfora do mal.
A China, origem involuntária da epidemia, fez, nas palavras do chefe da CIA, a maior operação de encobrimento de toda a história. Ou seja, para justificar os recolheres obrigatórios, as execuções em massa, as chamadas dos reservistas para o exército, etc, inventou uma guerra com o Taiwan, já latente há bué de tempo e desatou a fazer macro-Tianamens por todo o lado. De zombies, claro.
Israel: a recompensa da paranóia.
Israel, a primeira a aperceber-se e rapidamente a entrincheirar-se no muro que já tinham, inventando o conceito de quarentena voluntária abandonaram mesmo Jerusalém. Desta vez aceitaram os palestinianos. Isto se os cães os deixassem passar.
O falhanço da inteligência: a CIA.
Na América, a CIA falhou mais uma vez a previsão do que ia acontecer, só que desta vez com razão, pois tinha sido drasticamente reduzida depois de ter sido considerada a cabra expiatória da invasão do Iraque. Quando o governo finalmente se apercebeu da ameaça, criou equipas alfa, com os soldados das operações especiais que os americanos tanto gostam de acreditar que têm, e essas equipas terão feito tamanha carnificina que os registos das suas operações ficaram secretos por 140 anos. Todo o establishment americano optou por ignorar a epidemia, numa tentativa de autpo-preservação do status ou de, pelo menos, evitar o desmoronamento da sociedade capitalista. Isso seria tão mau como, sei lá, uma epidemia de zombies…
A decimação Russa
Na Rússia, quando os soldados se começaram a aperceber qual a sua missão e qual o inimigo a abater e se revoltaram, dizendo que queria ir para casa proteger as suas famílias dos zombies, o estado maior do exército aplicou a técnica de decimação. Ou seja, por causa de se terem revoltado, um em cada dez soldados seriam mortos e esse soldado que iria morrer era escolhido pelos companheiros e por eles executado. Que ficaram, a partir desse momento, tão comprometidos que nunca mais desobedeceram, ajudando assim a alcançar a vitória militar sobre os zombies, muito tempo depois.
A Guerra improvável: nuclear
Guerra, nuclear, entre o Paquistão e, surpreendentemente, o Irão, e não a Índia. Milhões de refugiados e zombes entram pelo Irão dentro, sem que o Paquistão se interesse em trabalhar em conjunto com o governo iraniano para parar a invasão. Desesperados, os iranianos bombardeiam uma ponte na fronteira entre os dois países. O Paquistão retalia e, dada a ausência de uma máquina diplomática bem lubrificada entre os dois países, a escalada ao nuclear é rápida e inevitável.
O bater no fundo: A batalha de Yonkers
Yonkers foi o sítio em que o exército americano agrupou, para fazer face à horda de zombies. Foi a maior acumulação de erros militares de toda a história bélica da humanidade. Porque puseram s soldados no chão, quando podiam tê-los colocado nos telhados, onde os zombies nunca conseguiriam chegar. Porque estavam os soldados equipados com full-extras, tipo máscaras anti-gás e tudo, que só lhes dificultava a visão e o movimento ? E o equipamento vídeo electrónico que permitiu aos soldados ver toda a desgraça que se passou em directo, desmoralizando instantaneamente. E porque é que havia tantos tanques, aviões, helicópteros e tão poucas munições? Yonkers deveria ter sido a prova perante toda a humanidade que ainda se controlava a situação, que, por muito mal que a coisa tivesse corrido até então, agora que o todo poderoso exército americano tinha levado a a situação a sério, tudo se resolveria. Não foi, antes pelo contrário. Foi uma derrota estrondosa em que a humanidade se apercebeu que, mesmo que não tivessem sido cometidos os erros que foram, não há vitória possível contra uma horda de 2 ou 3 milhões de zombies sem medo, sem consciência, que só param quando lhes destroem o cérebro. E como dizia um dos soldados: “Bolas pá. Passamos a vida toda a apontar para o centro de gravidade e de repente passam a querer tiros certeiros numa cabeça que se está sempre a mexer. Devem pensar que é fácil, com uma armadura que não nos deixa mexer e uma máscara anti-gás que não nos deixa ver.”
A salvação vinda da África do Sul: o plano Redeker.
A África do sul tinha sempre teve a sensação que, devido à sua instabilidade rácica interna, a qualquer momento a sua sociedade poderia implodir. Nessa perspectiva, o governo branco tinha um plano que permitiria a sua sobrevivência quando isso inevitavelmente acontecesse. Esse plano previa quem deveria ser salvo e como, tendo em conta factores de QI, saúde, profissão, valências, fertilidade, e por aí fora. A raça não era uma questão, uma vez que o plano foi feito para os brancos, mas a partir do momento em que o governo da África do sul, já negro, decidiu usar o plano para tentar salvar o país dos zombies, a raça continuou a não ser uma questão na selecção. O plano dizia, abreviadamente: Nem todos podem ser salvos. Querer salvar todos só gasta os recursos existentes e é impossível. Deve ser criada uma zona de segurança, não infectada, a partir de onde a humanidade possa reagrupar. Ou seja, partir de uma posição de fraqueza, depois de bater no fundo, começar a crescer. E, ao mesmo tentar, não deixar que o resto dos humanos não contaminados estejam demasiad o perto para tentarem entrar na zona segura, mas qute também não estejam demasiado longo para que possam continuar a atrair os zombies para os lugares considerados mais convenientes. A ideia seria a humanidade Tornar-se ela a nova epidemia. Tipo: o mundo é vosso, mas nós vamos reconquistá-lo. Criar zonas de iscos humanos, com populações saudáveis que sirvam de isco aos zombies, que ao perseguirem-nas, deixavam a zona de segurança em paz.
O Big Brother
A casa dos famosos tipo big brother, em que apenas os ricos podiam entrar e de onde, de dentro da protecção que a casa lhes garantia, poderiam ver o mundo a acabar, provavelmente entre gargalhadas e em directo para toda a gente ver, na televisão. Como sempre acontece com os ricos quando exageram na sua omnipotência, correu mal. A casa tinha sido pensada até ao último pormenor para resistir aos zombies, mas quem veio não foram os zombies, mas sim pessoas normais que, depois de ver a casa na televisão, correram a invadi-la à procura de protecção. Acabaram, como é lógico, todos mortos e a casa a arder. Em directo.
O cemitério dos barcos
Alang, na India, sempre foi o maior centro de desmantelamento mundial de navios. Grandes navios. A ideia era fazer os navios em fim de vida navegarem até lá para depois os encalhar a umas dezenas de metros da costa. Aí encalhados, esperavam que fosse a sua vez de serem desmantelados, sendo que esse desmantelamento eram feito manualmente, por centenas de operários que todos os dia iam em dezenas de botes desde a praia até aos navios, para os desmontarem gradualmente, peça por peça. Cada navio demorava assim meses e meses a ser desmontado, ficando sob a forma de carcaça esburacada a flutuar até ao seu derradeiro fim. Quando os zombies atacaram, a população dirigiu-se para o mar com o objectivo de, a nado ou nos botes, alcançarem os grandes navios onde estariam a salvas, podendo mesmo até sair dali caso alguns dos navios ainda funcionassem. Tipo Titanic, mas em sentido contrário. Tal como no Titanic, os botes também não chegavam para todos, o que efz com que a humanidade, no seu bom e no seu mau, demonstrasse naquela situação a sua verdadeira natureza. Se por um lado houve montes de pescadores e possuidores de barcos que depois de deixar as suas famílias em segurança voltavam à praia para fazerem todas as mais viagens que conseguissem para salvar mais pessoas, houve também aqueles que aproveitaram a posse dos barcos para lucrar, ou exigindo dinheiro, ou só admitindo mulheres jovens, ou só brancos, ou só mestiços, e por aí fora, ficando os rejeitados sem outra alternativa que não fosse nadar. O que também era complicado porque muitos dos nadadores estavam já contaminados e morriam debaixo de água, ressuscitando como zombies aquáticos. Que depois, literalmente, puxavam os tornozelos dos outros nadadores, infectando-os, afogando-os, para estes depois reanimarem num ciclo vicioso infindável. E a maior prova que a humanidade é incontornável aconteceu quando o dono de um dos botes (estamos na Índia, convém relembrar) disse que não admitia Intocáveis no barco dele. E, os intocáveis que estavam na fila, resignadamente, abandonaram-na e entregaram-se à morte. E ao resto…
O síndroma de Recusa Assintomático
Foi uma resposta natural do organismo humano à tragédia que se abateu sobre a humanidade com a invasão dos Zombies. Confrontadas com as mortes, as ressurreições infectadas, o fim da sua família, dos seus conhecidos, dos seus empregos, das suas cidades, enfim, de todo os seu modo de vida, as pessoas por e simplesmente desistiam iam para a cama e não acordavam no dia seguinte. Para combater esta doença, para fazer as pessoas acreditarem que alguma coisa estava a ser feita pelo governo, pelo exército, pelas outras pessoas para combater esta calamidade, um realizador de cinema resolveu começar a fazer filmes que inspirassem alguma esperança no coração das pessoas. Após ter pedido apoio ao governo e este ter sido recusado, começou a fazer documentários manuais e artesanais pelo país fora, sendo que o primeiro foi os últimos dias de um colégio interno em que os trezentos alunos que lá moravam resolveram combater até ao fim e conseguiram aguentar mais de dez mil zombies durante mais de quatro meses. O êxito deste filme foi tal que rapidamente outros se seguiram, sempre de situações de resistência heróica por parte da humanidade e de vitória conseguida e esperança renovada. E este efeito de esperança renovada deu os seus frutos, pois que cada filme que saía, mais pessoas iam vê-los e a taxa de SRA começou a diminuir, primeiro caiu dez por cento, depois vinte e por aí fora. O governo finalmente percebeu o potencial desta cura para a depressão e o realizador continuou o seu trabalho, passando dos documentários heróicos mas verdadeiros para a propaganda quase goebbeliana, tipo a documentar as novas armas anti-zombie que os iam derreter a todos (aos zombies) mas que na realidade eram projectos que já estavam cancelados na altura do filme. Mas o que foi facto é que a taxa do síndroma continuou a cair até que, como doença, passou a inexistente. O que constitui um grande contributo para a vitória final, na guerra…

Enfim… Muitas mais histórias valeria a pena referir, mas não faz grande sentido estar a reescrever o livro em parágrafos mais curtos, até porque, perante a qualidade dos textos, não há lugar nenhum para as minhas piadinhas habituais e para eu tirar conclusões muito profundas. Porque neste livro está lá tudo, muito mas muito mais do que eu conseguiria acrescentar. O livro é brutal…