Detective privado do tipo cliché em berlim dos anos 30, quando o partido nacional socialista já estava no poder e começava a preparar-se para o que iria fazer na segunda guerra mundial. O detective é contratado por Goering, já não me lembro bem para quê, mas o diálogo entre os dois tem algum interesse. De resto, tirando algumas nuances sobre os judeus, o funcionamento da Gestapo e a aparição fugaz de Jesse Owens a ganhar os cem metros nas famosas olimpíadas, o livro não deixa qualquer marca. Já li dois livros geniais do philip Kerr, a saber, o segundo anjo e o assassino entre os filósofos. Este foi um dos primeiros e ainda bem que as críticas que terá recebido não foram sinceras. Porque se fossem, ele teria desistido e teríamos perdido algo de bom. Agora que este livro não tem nada de especial, isso é incontroverso...
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29.11.15
20.11.15
91 - nascidos para correr
Um jornalista americano apaixonado pela corrida que não consegue praticar sem que lhe doa tudo, embarca numa viajem à procura de uma tribo mais ou menos lendária de índios mexicanos que são os melhores super atletas do mundo. Acaba pior, junto com alguns dos melhores ultra-corredores americanos, participar numa corrida contra os ditos índios, em que não consegue ser contra mas sim a favor. A pretexto da corrida, vai contando a história de vários ultracorredores e de várias das corridas mais famosas da América, e das duas uma: ou conta as histórias muito bem, ou então as vidas dos tipos são mesmo interessantes. Entre algumas explicações médicas e científicas acerca do funcionamento do esqueleto em movimento, acabar por se chegar à conclusão que os neandertais eram muito mais completos que os cromagnons e só foram ultrapassados por estes na corrida da evolução precisamente porque não corriam. Livro muito bom.
20.6.15
83 - todos os meus amigos são super-heróis
"...Existem aproximadamente 249 super-heróis na cidade de Toronto. Tom não é super-herói, mas conhece vários - O Anfíbio, A Pilha de Nervos, A Bronca, O Homem Impossível, O Minigigante, Daquiapouco, A Doma-Rapaz, entre outros. Tom casou-se com uma super-heroína, A Perfeccionista, cujo poder é tornar tudo perfeito. No dia do casamento, Hipno, supervilão e ex-namorado da Perfeccionista, hipnotizou-a - Tom ficou invisível, mas somente aos olhos dela. Depois de seis meses sem ver o marido, a Perfeccionista está prestes a pegar um avião para recomeçar a vida em Vancouver. É a partir de uma bela história de amor que 'Todos os meus amigos são super-heróis' constrói um universo onde amizade, romance, profissões e cotidianos muito parecidos com os nossos ganham uma fina pátina de superpoder - ou mostra que superpoderes são apenas questão de ponto de vista. Tom está desesperado para que sua amada Perfeccionista volte a vê-lo e amá-lo. Como resolver isto sendo o único ser humano sem poderes dessa história?..."
81 - a incrível viagem do faquir que ficou fechado num armário ikea
Acredite-se ou não o livro é apenas isto. Um faquir vai da índia ao ikea de paris para comprar uma cama de pregos e decide dormir na loja. Para não ser descoberto pelos empregados, esconde-se dentro de um armário que vai para Londres com ele dentro e em Londres, pelo mesmo motivo, esconde-se não sei aonde e vai ter a Roma etc, etc. eu sei que sempre achei que o mais difícil para escrever um livro é ter uma boa idéia, mas isto é um exemplo flagrante que não basta uma boa idéia para escrever um livro. Que seca. Este é daqueles livros que se dissermos que o lemos temos direito a 15 segundos de fama por parecer ser um livro original, mas se formos chamados a discuti-lo, será concretiza a última vez que tal acontece.
29.11.14
72 - o passageiro
Jean Christophe Grangé
Já estou farto deste homem. o problema é que todos os livros são bons e assim não há forma de evitar. Desta vez é meeeeesmo complicado. Começa com um psiquiatra que investiga um paciente que está ligado a um crime em que mataram um sem abrigo e o minotaurizaram, ou seja, para os menos familiarizados com esta operação, enfiaram-lhe uma cabeça de touro pela cabeça (dele) abaixo. O psiquiatra vai tratando o paciente até que, entre outros pormenores, dá uma cabeçada na parede e lembra-se que afinal não é um psiquiatra mas sim um sem abrigo mesmo pobre. E vai daí e lança-se no meio dos sem abrigo a fazer pouco mais que ver os outros sem abrigo a beber embalagens cartonadas de vinho, que parece ser a sua principal actividade. Bem, não quero falar nos arrepios na espinha que me deu as descrições da vida dos sem abrigo, da violência entre eles, da luta contra o vento, contra o frio, contra quem os quer ajudar, e tudo para poderem beber o máximo de embalagens cartonadas de vinho. É demasiado verosímil... No meio das suas voltas, descobre um outro sem abrigo que foi morto e depois icarizado, ou seja, para os menos familiarizados com a expressão, enfiaram-lhe umas asas pelos braços dentro. E vai daí, o sem abrigo, que note-se, ao voltar a ser sem abrigo lembra-se de ter sido psiquiatra no futuro, ao fugir da polícia, dá uma cabeçada na parede e lembra-se que afinal é um pintor louco que apenas pintava auto-retratos seus a encarnar personagens diferentes. Enquanto pintor, lembra-se de ter sido sem abrigo e psiquiatra no futuro, e descobre um outro sem abrigo que foi morto e depois urbanizado, ou seja e para os menos familiarizados com a expressão, desta vez não lhe enfiaram nada, ou melhor, enfiaram-lhe a própria pila depois de lha terem cortado. O pintor descobre isto e depois dá uma cabeçada na parede e descobre que afinal é um playboy qualquer que tem montes de sucesso com as mulheres e cuja actividade principal era falsificar documentos. E depois já não me lembro se houve outro assassínio mitológico ou não (às vezes o sono vence a leitura) mas ainda me lembro de haver mais uma cabeçada na parede e o falsificador fazer o eterno retorno nietcshiziano e tornar a ser um psiquiatra, que se lembrava de ter sido pintor, que se lembrava de ter sido sem abrigo, que se lembrava de ter sido psiquiatra. Portanto, se eu fosse mais pragmático, resumia o livro assim: era uma vez um psiquiatra que tomou umas drogas e teve um episódio psicótico amnésico e se transformou num falsificador, e depois teve outro e transformou-se num pintor louco, e depois teve outro e transformou-se num sem abrigo e depois teve outro e transformou-se noutro psiquiatra diferente. E depois começou a investigar um caso parecido e descobriu um assassínio mitológico e lembrou-se que afinal era um sem abrigo, e descobriu outro assassínio mitológico e lembrou-se que afinal era um pintor, e descobriu outro assassínio mitológico e descobriu que afinal era um falsificador, e já não me lembro se descobriu ainda mais um assassínio mitológico e lembrou-se que afinal era um psiquiatra. Cansativo, este livro....
19.10.14
68 - o voo das cegonhas
Jean Christophe Grangé
Um médico funda uma ONG para
roubar corações pelo mundo fora, não sob o ponto de vista sentimental (eu
estou-me a ver a capitalizar sentimentalmente a ONG que criei, atraindo para
mim dezenas de intelectuais de esquerda femininas, bonitas, liberais, etc), mas
do ponto de visto completamente físico, ou seja, abrindo o peito das vítimas
com requintes de tortura inescrevíveis e arrancando o coração das vítimas, para
depois os ir enfiar no peito de clientes europeus cardiacamente insuficientes e
economicamente excedentes. Por outro lado, um suíço ex-colaborador de Bokassa
na sua ditadura na República Centro Africana, onde era capataz das suas minas
de diamantes, resolve estabelecer-se por conta própria, e ficar com os diamantes
para si. Assim sendo, continua a minerar os diamantes e a contrabandeá-los
fazendo uma espécie de aumento de natalidade mineral. Em vez de fazer vir a si
as criancinhas nos bicos das cegonhas, situação que quase toda a gente cria uma
ou duas vezes na vidas, amarra os diamantes minerados nas pernas das cegonhas e
manda-os para onde eles interessam e dão dinheiro, ou seja, para a Europa.
Estupidez, diz qualquer um de nós farto das fugas para a frente presentes nos
livros e nas séries quando as coisas se complicam de tal maneira que, em vez de
qualquer coisa com lógica, os escritores / argumentistas inventam uma cena
mirabolante qualquer que tudo explica e tudo explicaria na mesma mesmo que nada
explicasse. Tipo, foram os extraterrestres, querida. Não é o caso, aqui. Ao que
parece, as cegonhas têm efectivamente padrões migratórios completamente
rígidos. As suas migrações começam sempre no mesmo sítio e acabam sempre no
mesmo sítio, tipo as viagens de férias das famílias de classe média. E além
disso, as cegonhas voam mesmo muito e mesmo depressa, sendo que poderão atingir
10.000 kms numa viagem de fim de Verão. Não foi à toa que foram escolhidas por
Deus para fazer a distribuição da natalidade ou, pelo menos, para ser o símbolo
da distribuição da natalidade. Qual renas. Qual Pai Natal... Por fim, temos um miúdo
penso que francês cujos pais e irmão foram mortos por Bokassa na RCA quando
este tomou o poder. Foi adoptado por amigos da família e contratado, 30 anos
depois pelo suíço para seguir as cegonhas e perceber porque é algumas delas não
trouxeram os diamantes. Obviamente que o suíço não falou ao miúdo dos
diamantes. Provavelmente tinha esperanças que ele não os descobrisse sozinho.
Correu mal. Acontece que, como em qualquer bom livro, estes personagens
principais estavam completamente enrolados uns nos outros. Tipo o suíço contratou
o francês para ir atrás das cegonhas (já disse isto, eu sei), o médico meteu o
coração do filho do suíço no peito do suíço enquanto procurava corações
compatíveis para o seu próprio filho doente há mais de vinte anos, filho esse
que era irmão do… miúdo francês, que acabou por ser filho do médico. Enfim…
Podia dizer que acabou tudo bem, mas nos livros deste senhor nunca acaba tudo
bem. E embora comecemos a detectar alguns padrões repetitivos nos seus livros (tais
como o facto de o passado ser sempre muito mais importante que o presente, tal
como a inevitável descrição / denúncia de uma qualquer ditadura sangrenta
africana ou sul americanas, tal como o protagonista principal ser sempre um
herói improvável cheio de disfuncionalidades e questões complicadas ou tal como
o facto de os crimes serem muito muito horríveis), o facto é que os livros
continuam a ser bons. E há sempre paisagens naturais virgens e algum tipo de
descoberta natural. Desta vez houve pigmeus. Surpreendente.
7.7.14
61 - a floresta dos espíritos
Jean Christophe Grangé.
Uma juíza sente na pele que a vida não tem a mesma opinião dos juízes que estes têm de si próprios. Jeanne tinha trinta e cinco anos e não tinha marido, filhos, pais vivos, namorados interessados, sobrinhos, família, animais de estimação, amor... Tinha sexo ocasional quando se libertava das suas paranóias interiores e aceitava que nem tudo na vida é como queremos. Mas não tinha amor, nem grandes amizades, nem grandes afectos, apesar de ser uma juíza, de ser uma eleita, melhor que os outros, paradigma da independência e da superioridade humana, primus inter pares, et pluribus unum, dura telex cet lex, et cetra, e algumas expressões gregas mais. Mas, e continuando em grego, hellas, o raio da vida (há quem lhe chame puta), não era sensível à especialidade de Jeanne e continuava a martelá-la com aqueles problemas que só deviam acontecer aos inferiores, e Jeanne via-se grega para gerir isso. A custo, saiu da depressão crónica que lhe tinha custado dois meses numa casa de repouso, e lá se ia aguentando mais ou menos; à custa de uns calmantes e uns gestos com o dedo médio da mão direita. Não era canhota... Jeanne tinha no entanto uma pulsão... complicada, derivada de um trauma... complicado, e que se traduzia na sua apetência para desvendar crimes... complicados... E porque as coisas não podiam correr sempre mal, e nem tudo na vida podem ser azares, eis que começam a aparecer crimes... complicados, em Paris. Vou abster-me de pormenores, que são tantos que chegaram a incomodar-me. Basta dizer que os crimes envolviam desmembramento e canibalismo. Jeanne, já naturalmente atenta a este tipo de crimes, mas ficou quando as escutas que ela tinha mandado colocar no consultório do psiquiatra do namorado (e que revelaram que este apenas a queria para aquilo que as mulheres não querem ser queridas, hellas, outra vez raisparta os homens, só pensam em sexo os cabrões) revelaram que este sabia algo sobre os ditos crimes. Mais concretamente, havia um espanhol velhinho que tinha um filho que tinha dentro dele uma espécie de alter ego demoníaco, tipo mr. hyde, que era provavelmente quem cometia os crimes. Jeanne, depois de o juiz amigo dela que tinha ficado com o caso ter morrido às mãos do assassino e depois do psiquiatra do namorado que só a queria para pinar ter desaparecido, resolveu também ela desaparecer e ala para a América do Sul. Chega à Nicarágua e, graças a isso, temos uma lição da revolução nicaraguense e da consequente repressão militar para evitar o comunismo. Ok. História é sempre bem vinda, embora confesso que a da Nicarágua eu já conhecia, li o sorriso do jaguar, do Salman Rushdie, quando era novo, desculpem lá. Depois vai para a Argentina e, graças a isso, temos uma lição da revolução Argentina, e da consequente repressão militar para evitar o comunismo. Ok. História é sempre bem vinda, embora confesso que a da Argentina eu já conhecia, li a operação massacre, de Rodolfo Wash, quando era novo, desculpem lá. E depois vai para a Guatemala, onde não temos grande lição de história, o que é pena, pois da Guatemala, além de ser um dos países onde os Maias andaram (o livro diz isso, mas eu já sabia), eu não sei patavina. A certa altura, no meio destas viagens, encontra-se com o psiquiatra, que passa a acompanhá-la na viagem e na investigação e juntos, fogem ao cliché e não pinam um com o outro. É aqui que paro com a história, pois nunca se sabe se a vou esquecer ou não e este texto é para quando eu for velho e me esquecer de tudo, vir aqui e ler que este livro é muito fixe e que vale a pena ser lido. Sendo mais claro, permitam-me: Pedro, se estiveres a ler isto quando fores velhinho e te tiveres esquecido de tudo, PODES ler isto livro à vontade, porque vale a pena. Apenas para concluir, vale mesmo a pena. Já há muito tempo que o suspense não durava até ao último capítulo...
8.2.14
59 - the good man jesus and the scoundrel christ
Philip Pulmann foi responsável por um dos melhores livros que eu já li. Cruzava fantasia com aventura, todos à volta de uma carga filosófica muito intensa e, acima de tudo, coerente. Metia também ursos blindados, que sempre tinha sido mas eu nunca me tinha apercebido, o meu animal favorito. Todas as pessoas tinham um génio que tomava a forma de um animal, e penso que nunca nada me comoveu tanto como a descrição que ele fez da operação que tinha como objectivo separar uma criança do seu génio. O livro, ainda por cima, eram três e eram os três muito bons, cada um deles no seu registo, ambiente e personalidade própria. O livro chamava-se os reinos do norte e nunca até hoje percebi qual dos três gostei mais. Sempre achei estranho um escritor deste quilate não ter publicado mais nada, mas como nunca consegui deixar de sentir uma sensação de incredulidade relativamente aos reinos do norte, como se fosse demasiado bom para ser verdade a sua própria existência, confesso que senti medo de investigar o resto da sua obra e fui andando, acreditando que mais à frente nos cruzaríamos novamente. E assim aconteceu, embora tenha que confessar que fiz batota. Depois de meses e meses a ler policiais bons mas sempre no mesmo registo, depois de vários meses sem ler quase nada, procurei deliberadamente um escritor em que confiasse e encontrei um livro que, antes de se poder considerar bom ou mau, é decididamente um livro diferente. Então era assim. Há mais ou menos dois mil anos, uma mulher chamada Maria teve dois filhos gémeos. A um chamou Jesus e a outro chamou Cristo. Jesus era extrovertido, simpático, forte, afirmativo, sempre a procurar situações de desafio... Cristo era uma espécie de antónimo positivo do irmão; positivo porque era igualmente um rapaz bom. Antónimo porque era introvertido, reservado, meditativo, fraco fisicamente e muito avesso a confusões. Os dois viveram em conjunto durante os trinta anos de que a bíblia não fala, como se fossem uma única pessoa, mas a partir de certa altura os seus caminhos divergiram. Embora com o mesmo objectivo final, cada um deles via a vida e o mundo e todo o resto de uma forma diferente. Jesus começou a pregar a palavra de Deus e a realizar milagres Galiléia adentro. Cristo tornou-se o seu cronista e registava tudo aquilo que o irmão fazia e dizia, mas sem que este o soubesse. Jesus queria criar um novo mundo; Cristo também, mas de uma forma ligeiramente diferente. Cristo achava que toda a obra do irmão só faria sentido se desse origem a uma organização que fundamentasse a religião que Jesus estava a criar e que sem esta organização esta obra não perduraria e não teria qualquer impacto no mundo. Essa organização ajudaria a humanidade a suportar todos os mistérios, injustiças e compromissos que a vida inevitavelmente acarreta. Essa organização educaria as crianças numa perspectiva correcta, cuidaria dos doentes, alimentaria os necessitados, administraria a justiça e a benevolência, inspiraria a arte e a música, enfim, tornaria bom o mundo mau. Cristo estava assim apanhado entre dois fogos. Por um lado sabia que o irmão era puro e estava certo naquilo que desejava para a humanidade. Por outro lado sabia que seria necessário algum calculismo e mesmo algum trabalho sujo para que o Reino pudesse efectivamente chegar. Jesus, por sua vez, sendo um idealista puro, não lhe faltava a inteligência para ver o rumos que as coisas estavam a tomar. Sabia que a melhor maneira de o diabo entrar nos homens é pela porta que fica aberta quando estes acreditam que estão a trabalhar em nome de Deus. Em pouco tempo surgirão listas de castigos para todo o tipo de actividades inofensivas, surgirão pessoas a ser apedrejadas, açoitadas e chicoteadas pr causa do que comem, do que vestem, do que lêem e do que pinam. Em pouco tempo as pessoas que julgam que estão a fazer o trabalho de Deus constroem palácios e templos, fazendo com que tudo isso seja pago pelos pobres, em impostos em nome de Deus. E quanto mais poder estas pessoas angariarem, mais medo vão ter de o perder, e vão construir tribunais para queimar aqueles que acham que são pagãos e heréticos. E vão inventar guerras santas, e cruzadas, e a guerra perpetuar-se-á. Angustiado por tudo isto, Jesus questiona o pai, pedindo orientação e que Este lhe indique o caminho certo. tal, como todos sabemos, não acontece. A partir daí acontece a História. Os poderes religiosos instituídos acham que Jesus foi longe demais e resolvem condená-lo. Roma lava tranquilamente as mão, pensando que está a elimiar um terrorista e jesus acaba na cruz, depois de ter sido denunciado não pelo beijo de Judas, mas sim pelo beijo do irmão. De cristo. Que depois, arrependido, vai tirar Jesus da tumba e apresenta-se ele próprio aos apóstolos, criando assim o mito da resurreição. E fazendo com que os apóstolos espalhassem a palavra, o que deu no que deu...
4.2.14
58 - o clube dos anjos
10 amigos de infância fazem um jantar por mês, em que um deles é o anfitrião e o cozinheiro. Os amigos são todos bastante diferentes entre si, mas compartilham do gosto pela gastronomia refinada, celebrando esta assim em forma de metáfora das suas amizades e das suas vidas. Tipo, não somos, nem nós nem as nossas vidas, grande coisa, mas teremos sempre estes jantares, teremos sempre a nossa amizade e ternos-emos sempre uns aos outros.bum dia, um deles encontra um desconhecido que lhe faz uma omeleta perfeita e convida esse desconhecido para passar a ser o cozinheiro dos jantares do Clube do Picadinho. Era o nome do clube deles... Lucídio, que agora que sabemos o nome deixa de ser um desconhecido, cozinha divinalmente, tendo no entanto um pequeno problema a ele associado: mata sempre um dos convidados mo fim de cada jantar. Descobrimos depois que esta era apenas uma forma de se vingar de um dos dois homossexuais que integrava o grupo, Samuel. Samuel era, por sua vez, integrado por Ramos, o mentor espiritual e segundo homossexual. Lucídio nunca perdoou a Samuel ter sido comido por Ramos e assim, numa lógica perversa, resolveu vingar-se deste dando-lhe de comer. Comida... Como ovos sem os quais a omelete da vingança não pode ser confeccionada, jantar após jantar vai morrendo um comensal, geralmente o organizador do mesmo. Lucídio partiu do princípio que Samuel sofreria com a morte dos amigos. Não fiquei completamente convencido disto, e Samuel também não. A vida continua e a morte também. Como eles eram apenas 10 e Ramos já tinha morrido antes, os jantares duraram cerca de 8 meses, porque começou a faltar matéria prima viva e a sobrar matéria morta. O livro acaba com o único que sobrou a fazer uma agência de fornecimento de mortes paliativas. Chateiam-me os livros que conseguem quase até ao fim escapar à estupidez e que se esparramam nela nas últimas duas páginas. É uma pena. E, assim sendo, temo-la.
26.5.13
41 - ender's game
Orson Scott Card.
Começando por uma declaração de intenções, e para afastar desde já possíveis interessados potencialmente desiludíveis, isto é um livro de ficção científica. Pior. Um livro de ficção científica escrito em 1984, numa altura em que os livros não eram apenas a fase anterior do filme, filme esse que é o elemento absorvente da cultura nos últimos vinte anos. Ou mais. Mas o que é bom acaba sempre por emergir e este livro ganhou o Prémio Nébula, assim como a sua continuação também ganhou o Prémio Nébula. O terceiro livro da série, já não me lembro se ganhou um prémio ou não, mas foi o primeiro texto deste blog, publicado aqui a 28 de fevereiro de 2007. E escrito ainda antes, se bem me lembro. A história não é simples. Uma raça insectóide tentou já por duas vezes invadir a Terra e dominar a humanidade. Nesta altura não sabemos ainda se para a extinguir, se para a escravizar. Não sabemos pormenor nenhum a não ser que das duas vezes nos safamos por pouco e conseguimos mandar os insectos de volta para o planeta deles. Mas deu para percebermos o quão mais avançados que nós eles eram em termos tecnológicos, pelo que seria uma questão de tempo até virem experimentar o conceito terrestre que às 3 é de vez. A única alternativa que resta à humanidade é ir-se organizando e preparando para o futuro. futuro esse, dado a grande distância do planeta insectoide, algo distante também ele. Cria-se assim na Terra a Frota International, uma aliança entre todas os países a que todos os países tem que obedecer. Em rigor, esta organização foi criada ainda antes das invasões, para impedir que a Humanidade se explodisse a si própria. tal esteve tão perto de acontecer que ainda hoje a Frota Internacional destruirá imediatamente qualquer país que desenvolve armas nucleares. E seria uma destruição vinda dos c’eus, uma vez que a frota está sempre em voo. Mais talhados para jogar em casa do adversário, onde se pode estragar tudo sem grandes problemas de consciência, os almirantes da Frota Internacional reuniram uma armada gigantesca e enviaram-na para o planeta mãe dos insectóides, para o destruir e acabar de vez com a a invasão, sendo que as naves humanas levavam a tripulação toda a dormir, para os soldados não envelhecerem os 30 ou 50 anos que demorava a viagem. O problema é que faltava um líder para a frota, pois também tinha ficado bem claro nas duas primeiras invasões a profunda eficiência e inteligência da frota insectoide, provavelmente decorrente de ser comanda apenas a uma voz, pela rainha, sendo que cada indivíduo insectoide era a negação em si próprio de si mesmo, ou seja, da individualidade. Era apenas mais uma peça da engrenagem, que não provocava atrito porque não pensava. Criou-se assim na Terra a Escola de Batalha, para onde passaram a ir as crianças mais inteligentes da humanidade. O principal potencial fornecedor de crianças para a Escola de Batalha era um casal que, só tinha filhos inteligentes e que eram monitorizados pela Frota Internacional praticamente desde que nascia, a ver se serviam. o primeiro, Peter, servia em termos de inteligência e afins mas era um bocadinho mau, pelo que se achou que se calhar não era boa idéia. A segunda, Valentine, servia em termos de inteligência mas era demasiado boa, pelo que também se achou que se calhar não era muito boa ideia. Contrariando a lei vigente dos dois filhos por casal, foi pedido aos pais que tentassem mais uma vez, o que deu origem a Ender, que iria viver a sua vida a ser ostracizado, estigmatizado e, acima de tudo, separado do resto da humanidade. Avançando, Ender vai de facto para a Escola de Batalha onde, ao contrário do que acontece na maior parte dos filmes americanos que abordam processos de recruta, lhe passam a vida a gritar na cara, não que não presta, mas que é o maior génio que a humanidade alguma vez criou e que convinha que isso se notasse nas suas acções. compreensivelmente, embora não para mim, isso faz com que Ender seja razoavelmente odiado pela malta à sua volta, o que lhe irá causar uma solidão extrema nos processos de decisão interna e também algumas situações que lhe fazem vir à tona aquilo que provavelmente mais o distingue dos outros. É tipo uma espécie de pragmatismo resignado em que, confrontado com a inevitabilidade do que está a acontecer e do que tem que fazer, então mais vale arrumar logo com o assunto para não se passar o resto da vida a sofrer as consequências de o ter deixado a meio. Resumindo, se é para bater, então bate-se de uma maneira tal que quem te quer bater fique de tal maneira convencido que não é bom voltar a tentar bater-te que desampara a loja de vez. Sim, mas assim arriscas-te a magoar alguém... ou a matar, mesmo. Pois... Isso é verdade, mas não é essa a finalidade das lutas ? Ender é assim constantemente pressionado e encurralado que a única direcção para fugir é para a frente. ganha um batalha de manhã e marcam-lhe uma para a tarde. Ganha a da tarde e marcam-lhe uma para a noite cintra dois exércitos ao mesmo tempo. Consegue ganhar essa e de madrufgada, sem ter tempo para descansar, marcam-lhe uma contra três em que ele tem que ir sem armas. Ender ganha sempre mas há, obviamente, efeitos secundários. Um deles é despertar uma adoração religiosa nos seus seguidores. Outro é aprender se calhar uma das lições mais importantes em relações humanas e que é que quem tem o poder não se coibe de estar sempre a mudar as regras a seu favor. E isto fez com que Ender desconfiasse sempre e para sempre do poder instituído e tenha crescido uma pessoa completamente devotado à liberdade de todos. Porque nos povos pode-se sempre confiar porque não têm poder para mudar as regras. Ao contrário do que acontece com os governos. Entretanto, o treino vai evoluindo e Ender é transferido junto com os melhores amigos para a Escola de Comando, onde é submetido a simulações de batalhas dificilimas, em que as naves dos insectoides são cada vez mais, cada vez mais rápidas, mais poderosas e mesmo assim Ender vai vencendo sempre o computador. Um dia, é confrontado com um exercício diabólico, passado nas imediações do planeta mãe dos insectoides, em que as naves inimigas são aos milhões, movem-se à velocidade da luz e tem armas e escudos poderosíssimos. Ender está exausto e à sua volta os seus comandantes e amigos desabam todos (excepto um, chamado Bean, que merece um texto próprio). Reflectindo durante os microssegundos que a batalha lhe deixa livre, Ender chega à conclusão que mais uma vez a única maneira de acabar com a tortura é bater forte e de vez. Assim, através de uma manobra estratégica mais ou menos impossível, rebenta com o planeta mãe dos insectoides acabando assim de vez com o raio da batalha infinita, assumindo que a ficção imitará com sucesso a realidade. Saiu-lhe ao contrário e foi a realidade que imitou mais uma vez a ficção porque esta batalha, assim como todas as que Ender lutou contra o computador, era real e estava efectivamente a ser travada contra as naves insectoides, junto ao planeta mãe insectoide, pela frota que tinha partido da terra 50 anos antes. Assim, sem saber o que estava a fazer, Ender aniquilou completamente a única raça inteligente extraterrestre conhecida, situação de tal enormidade cujas consequências dificilmente seriam apreensíveis por si antes que passasse muito tempo e que não cabem neste já não muito pequeno texto. Embora muitas delas estejam já contadas no texto com que arranquei este blog, há muitos anos atrás. Entre esse livro e este, há ainda mais um, tão bom como qualquer um dos outros dois. Um dia falarei dele, quanto mais não seja antes de os americanos fazerem dele um filme, que é o que vai acontecer a este no próximo mês de Novembro. Ficam estas notas para o caso de o filme não prestar, para memória futura de um livro que não é lá muito bom. É óptimo.
28.4.13
40 - prodigal son
Dean Koontz
Não restam muitas dúvidas que a agenda cultural de
quase todo o mundo ocidental é regido por Hollywood. E se acrescentarmos um B,
podemos contabilizar mais uns 1500 milhões de pessoas. Ou seja, o interesse das
pessoas sobre qualquer tema é potenciado quando Hollywood faz um filme sobre
esse tema, desencadeando depois desse interesse um fenómeno cultural que seria
para mim interessante se não tivesse como principal origem a intenção de os
estúdios fazerem dinheiro em merchandising. Não me chateia nada que as massas
passem a usar t-shirts do Batman, mas confesso que me chateio um bocadinho
quando as massas comecem a usar t-shirts do Batman. É uma daquelas
contradições internas que não consigo resolver. Sei que as pessoas têm de respirar,
mas chateia-me que respirem o meu ar e perto de mim. Enfim, isto tudo para dizer que existe
um personagem da literature que só mereceu aí uns 10 minutos de atenção dos
estúdios e que por essa razão ainda se encontra em terreno relativamente pouco
explorado, permitindo assim que se inventem coisas interessantes sobre si. Esta
conversa sobre os estúdios não é totalmente gratuita, da minha parte. É que, ao
querer conhecer um bocadinho melhor o autor, li o prefácio do livro (coisa que
não costume fazer) e descobri que este livro tinha sido contratado por um estúdio para fazer uma série mas que o autor se desentendeu com eles e resolveu
fazer o livro com a sua própria lógica. Passemos assim a ver se a lógica
artística tem mais valor acrescentado do que a comercial. Uma pergunta assim
tão complexa deveria ser difícil de responder. Mas é fácil. A resposta é: tem.
Ora vejamos:
Frankenstein
(que foi interpretado por Robert de Niro naquela que foi a sua pior
interpretação das muitas e todas más que fez) torna-se assim num manancial de
idéias para quem as quiser explorar, até porque a maioria das pessoas ainda
pensa que o Frankenstein é um monstro verde com parafusos a sairem pelas
temporas, tipo uma espécie de cornos versão tecno-industrial. Não é.
Frankenstein não era um monstro verde com parafusos nos cornos mas sim um
cientista louco que construiu um ser com componentes retirados de ladrões e
assassinos mortos, sendo que nem sempre respeitava as questõees de simetria
estética, ou pelo menos não as respeitava escrupulosamente. Tipo, dava-se ao
cuidado de pôr braços nos locais dos braços, mas não se preocupava muito em que
os braços pertencessem ao mesmo cadaver. Tipo podia ser orangotango do lado direito e galinha do lado esquerdo... A escritora que criou Frankenstein chama-se Mary e o nome que ela
escolheu para o Frankenstein foi Victor. Logo por aí se via que estava a
começar mal. No livro original, lembro-me de poucas coisas, mas arrisco a dizer
que me lembro das mais importantes. Se estivessemos a escrever um resumo, eu
diria que Victor Frankenstein criou um ser que pretendia que fosse humano e
ligou a ele o pára-raios do castelo, de maneira que mais tarde ou mais cedo um
relâmpago acabou por lhe acertar e por o trazer à vida. Depois, terei
adormecido, confesso, e só me lembro dde a criatura (o FrankenSon) fugir do pai
(Victor) saltando de pedra em pedra no meio de um pântano tipo, pantanoso…
E é a partir daqui que este livro arranca. Victor,
mercê do seu talento inquestionável enquanto cientista torna-se tipo o maior
especialista no planeta em engenharia genetica e torna-se também praticamente imortal
e podre de rico. E, durante 200 anos, continuous as suas pesquisas pelo que
hoje, no presente, criou uma nova raça de homens e mulheres cujo principal
objectivo é obedecer-lhe e com os quais pretende dominar o mundo, ou seja,
substituir a Raça Velha pela Nova Raça. Obviamente que esta substituição não
será completa, uma vez que lhe falta tempo para criar 7500 milhões de pessoas
novas, mas também que interesse é que isso teria se é sabido que todo o planeta
é controlado por umas 1000 pessoas ? Assim sabendo, Victor infiltra os seus
filhos nas posições chave para que, quando chegar a hora, eles possam iniciar a
revolta e tomar o controle. Tipo, números à parte, a traição dos clones contra
os cavaleiros Jedi. Os filhos de Victor são diferentes, tanto fisica como
psicologicamente. São superiores fisicamente porque são mais rápidos, mais
fortes, mais bonitos, etc. Tem dois corações e diversos outros melhoramentos
físicos, mas estão muito condicionados psicologicamente, porque estão impedidos
de processar os seus sentimentos de forma que contrarie o pai, ou seja, sentem
bastante (até porque têm dois corações) mas não podem canalizar todo esse
sentimento de forma natural. O que, está bom de ver, lhes cria loops internos
de dificil resolução, tipo o HAL no 2001 e, em ultimo caso, os leva à mais
profunda paranoia, tipo o Padre que não consegue lidar com a presença simultânea de Deus e do Pai (Pai Victor e não Deus Pai), ou tipo Erika, mulher
de Victor, que não consegue articular a beleza que encontra na arte com as
coisas que Victor lhe faz e obriga a fazer (na cama, entre outros sítios) ou
ainda o polícia que acha que os membros da Raça Velha devem ter uma qualquer
glândula que segrega a felicidade e começa a dissecar pessoas para encontrar a
dita glândula…
Obviamente que não foi apenas Victor que sobreviveu
estes 200 anos. A sua criação também. Chama-se Deucalião e, cumprindo o cliché,
tornou-se monge budista num mosteiro no Butão depois de ,previsivelmente, ter
feito muita asneirinha… Deucalião tem aí uns dois metros e meio e metade da
cara toda tatuada, para tapar as cicatrizes que Victor lhe fez quando ele
fugiu. Também previsivelmente, começa a sua carreira num daqueles Freak Shows
ou Feiras Populares tipo Carnivale, ou a do Big Fish em que, passo a citar-me do
texto anterior, “…em que havia mulheres com barba,
anões pintados e gigantes desengonçados, halterofilistas carecas de bigode
retorcido para cima e vestidos com peles de leopardo que lhes deixava
invariavelmente um ombro à mostra, adivinhadoras do futuro cegas, bonecos que deitavam
pela boca bilhetinhos com o que te ia acontecer no futuro e onde havia sempre,
mas mesmo sempre ao fundo uma roda gigante com ar de que se ia desfazer a
qualquer momento mas que nunca se desfazia. Era a altura em que toda a gente
parecia uma fotografia da Diane Arbus”. Mas não era bem por aí que eu queria
ir. Desviei-me porque ando cada vez mais atraído por esse universo, mas ainda
não chegou a altura de escrever sobre ele. Do que se passou entre a feira Popular
e omosteiro Tibetano, não sabemos, mas eis que Deucalião é avisado por um amigo
que Victor está vivo e de boa saúde em Nova Orleães, por isso corre para lá
onde se instala num cinema praticamente abandonado na companhia de um outro
refugiado de um freak show qualquer. A partir daqui o livro torna-se num
policial banal, em que a única coisa digna de registo é que o assassino em série
da praxe, desta vez, tinha começado a carreira a matar pessoas feias, mas como
eram muitas, desistiu e passou a matar pessoas bonitas, para lhes retirar as
partes mais bonitas e com elas fazer o ser perfeito. Isto lembra-me alguma
coisa. Alguéem que, com várias partes quer fazer um ser perfeito ? Como é que
se chamava esse livro ? Frankenstein…
6.3.07
7. o código da vinci
Dan Brown
Era inevitável termos que escrever umas palavras sobre o código da vinci, agora que o filme estreou e agora que já se começam a ouvir as primeiras críticas. Como sempre, tenho alguma legitimidade para falar. Li os filhos do Graal há 10 anos, o sangue de cristo e o santo graal há 8, o mistério dos templários há 6 e, a origem de tudo, o pêndulo de foucault há mais de 15. Isto não abona muito a favor da minha idade. Enfim… Para ser sincero, para mim, toda esta história do graal e do priorado do sião é apenas um subproduto do que verdadeiramente interessa, do que é verdadeiramente importante e historicamente provado: os cavaleiros templários. Mas aceito que para a maioria das pessoas o interesse principal seja outro. Assim sendo, recapitulemos: Jesus Cristo e Maria Madalena eram casados e tiveram filhos. Esses filhos constituíram uma linhagem de descendentes de Cristo e perpetuadores do sangue do rei David. O sangue dessa dinastia é o sangue real, que se escrevia sang real e que passou a santo graal. O priorado do Sião foi uma organização constituída para proteger esse sangue real. O braço armado do priorado do Sião eram os cavaleiros templários. O grão-mestre do priorado do Sião detinha o segredo do Graal, bem como o baú dos documentos com as provas todas. Entre outros, uma dos grão-mestres do priorado de Sião foi Leonardo da Vinci, que, espírito irrequieto que era, espalhou indícios sobre a existência do segredo em toda a sua obra. Que não foi pequena. No livro, o que acontece é que o último grão mestre do priorado é assassinado por um elemento incolor da Opus Dei. Nos últimos minutos antes de morrer, o grão-mestre moribundo lembra-se que ainda não transmitiu o segredo a ninguém, e por isso monta um enigma cuja solução é o objectivo do livro. Organizemo-nos, por ordem de importância. A trama do livro, ainda que eficaz e bem montada, não é importante. Não foi o escritor que a inventou e não acrescenta nada de novo nem nada que já não se soubesse (eu já sabia). A questão que se poderá por é que o escritor romanceou e democratizou essas idéias ditas heréticas. Não tenho nada contra. A democracia é o menos mau de todos os sistemas políticos. Um segundo nível de questões que o livro levanta são as questões religiosas propriamente ditas, e essas tem alguma relevância. É impossível que as pessoas não se sintam atraídas pela lado humano da maior figura da humanidade, passe o pleonasmo. Não é a mesma coisa que Jesus Cristo tenha tido família ou não. Não é indiferente que Jesus Cristo tenha amado alguma pessoa em particular ou não. Seria interessante saber que características particulares genéticas poderia ter uma linhagem proveniente de Jesus Cristo e de Maria Madalena. Além disso, todas estas questões foram convenientemente revestidas de mistério e de teoria da conspiração, tornando-as assim mais apelativas. É portanto legítimo que se mostre interesse por essas questões mais, chamemos-lhe assim, humanas. De qualquer forma, a parte mais importante do livro, quanto a mim, é aquela que não há dúvida nenhuma que é verdade. Expliquemo-nos: é evidente que ninguém pode saber se Jesus Cristo teve filhos ou não, ou se existiu mesmo o priorado de Sião, ou se Leonardo da Vinci, provavelmente o ser humano mais inteligente de todos os tempos, teriam tempo e paciência para brincar aos mistérios. O que não há dúvida nenhuma é que a história que hoje tomamos como verdadeira foi a que a ortodoxia da altura achou por bem. Ou seja, aquela parte em que o imperador romano Constantino negociou com os altos dignatários da igreja católica aquilo que viria a ser o catolicismo institucional, é quase de certeza verdade. Assim como de certeza que é verdade que foram os altos cargos da igreja católica de então que condicionaram o caminho que a esta religião iria tomar. Foram eles que seleccionaram os evangelhos "correctos" e as histórias que deveriam ser transcritas para a bíblia. E esta selecção não teve por base critérios de fé nem de salvação de almas. Estes critérios foram "técnico-económicos", e foram tais que permitiram que, desde então, grande parte da humanidade viva naquilo a que Michael Crichton tão bem definiu como estado de medo. Não é razoável que tanta gente acredite que está a professar uma religião de amor e que, simultaneamente, esteja sempre com medo de ir para o inferno. A igreja católica de então, aquela que traçou o rumo da cristandade pós Jesus Cristo era um negócio, uma empresa. E essa empresa eliminava os concorrentes que a punham em causa, tais como os Cátaros, os Templários, o Islão, etc e tal... Lembram-se das cruzadas? E da Inquisição? Não quer isto dizer que as coisas ainda sejam assim, e eu sinceramente não acho que sejam. Mas uma coisa é certa Se é provavelmente verdade que tudo isto que vem no Código da Vinci são histórias, não nos podemos conhecer que a versão da igreja católica também é apenas uma história. A diferença é que foi a história que venceu... E é disto que a igreja católica tem medo, de que as pessoas percebam que eles não sabem a verdade. Que todas as riquezas, todo o poder, todos os privilégios que ainda hoje têm, não traduzem nenhum conhecimento da verdadeira verdade do que o Cristianismo foi. Eles não sabem mais que nós...
3.3.07
6. os filhos do graal
Peter Berling.
Agora que vai voltar a estar na moda falar do Graal via código Da Vinci, que vai estrear daqui a uns dias, parece-me uma boa altura para lançar alguma erudição no assunto. Para que aqueles que queiram procurar as origens da história saibam uma dos sítios a que poderão ir. E esse sítio é um livro, escrito por um alemão que, surpresa, pelo menos para mim, era também actor e participou no Nome da Rosa. Um pequeno aparte, antes de começar: o livro é enorme e tem tantas páginas como as palavras de que eu disponho para o contar. Vai ser, por isso, uma versão bastante reduzida. Até porque, que se saiba, a história não tem fim. Tudo começa em Montségur, castelo e último reduto cátaro, situado na mais alta e inexpugnável montanha do Languedoc. Está cercada há já 10 meses porque o papa de então, Inocêncio 3, tinha lançado uma cruzada dentro da europa, uma cruzada contra a heresia cátara. Uma cruzada que tinha dois objectivos. Eliminar uma voz incomoda que denunciava as corrupções da igreja católica de então e ainda garantir para o reino da França vastos e férteis territórios que eram, até então, autónomos. Montségur estava então cercado pelas tropas papais e pelas do rei de França, as primeiras apenas empenhadas em que se queimassem todos os heréticos e os segundos, ainda que mais moderados, igualmente empenhados em que a heresia chegasse ao fim. Há já 10 meses que se encontravam naquele cerco, longe das suas casas e dos seus campos. A acompanhar o cerco encontravam-so os cavaleiros templários, que no entanto não tomavam partido nem participavam em acções de ataque ao castelo. O nosso cronista no meio deste cenário é um franciscano gordito que se chama Guilherme e que, no princípio da trama se preocupa mais com a mesa do que com a fé, que considera forte. Isso mudará. Na véspera da rendição dos cátaros, entretanto acordada contra a vontade do representante do papa, algo se muito estranho se vai passar. Num bosque na base da escarpa mais inacessível do castelo de Montségur, acontece uma cerimónia. A grand maitrésse do priorado do Sião, escoltada pelo braço armado deste, os cavaleiros templários, preparam-se para o resgate do tesouro mais precioso que existia em Montségur. Roç e Ieza, um rapaz e uma rapariga, primos entre si e em cujas veias corre o sangue real descendente de Jesus Cristo e de Maria Madalena. Eles são o Santo Graal, o énvólucro do sangue real, o produto final de várias gerações da evolução do sangue de Cristo. Os escolhidos para ir buscar as duas crianças ao castelo são Siegfred, comendador dos cavaleiros teutónicos e Constâncio, que poderemos definir como o supremo representante dos interesses do Islão. Trapalhão e intrometido, Guilherme consegue arranjar maneira de ser apanhado pela confusão e passa de monge alinhado com Roma a ama seca quasi herética e quasi imperial dos dois miudos, irritantemente tratados por infantes o livro todo. Incansável, contrariando assim a sua natureza monástica, Guilherme descobre então o Grande Plano, que é o que interessa, nesta história. E o grande plano é fazer com que os descendentes dos dois grandes profetas da antiguidade, Jesus cRisto e Maomé, cruzem o seu sangue, de maneira a criar uma linhagem pura, que governe o ocidente e o oriente unidos em paz, como é o seu destino. Do lado do ocidente, o sangue real é assegurado pelos dois infantes, que são o produto final do cruzamento entre o sangue de Jesus Cristo e uma certa nobreza do antigo Languedoc. Do lado do oriente, parece que a linhagem de maomé está também convenientemente preservada, e guardado pelos assassinos ismaelitas, os do velho da montanha, que reinava na inacessível fortaleza de Alamut. Para od distraídos, note-se o extraordinário paralelismo entre os Assassinos e os Cavaleiros Templários. Para os mais que distraídos, indica-se o óbvio. São as duas faces da mesma moeda. Não é à tua que se davam tão bem. Este grande plano tem inimigos, evidentemente. O maior, o monstro, a besta demoníaca, o pior de todos, o anticristo é, pasme-se, a própria igreja católica, que oi a primeira a renegar o verdaeiro Jesus Cristo e a criar uma versão alternativa que favorecia a ortodoxia do aparelho. E quem era o representante da igreja católica? O papa, tratado aqui do pior , inimigo do Homem, de Deus e do Imperador do Sacro Império Romano do Ocidente, Frederico II, o Staufer. Curiosidade: Quem havia de dizer, hoje o papa é alemão e João Paulo, seu aantecessor, era polaco.Roma já então, não era o que era dantes.
5. o amuleto de samarcanda
Jonathan Stroud
Nathaniel é um aprendiz de mago. Os magos apoderaram-se do governo da humanidade aproveitando-se dos seus conhecimentos para ascenderem aos cargos de poder, substituindo nessa posição os políticos. O negócio parecia ser bom para a humanidade em geral. Antes: quem mandava era uma classe inculta, desonesta, incompetente e sem qualquer formação específica ou conhecimento acrescentado que não estes enumerados. No presente, ou melhor, aquando da tomada do poder pelos magos: a humanidade passou a ser comandada por seres culturalmente superiores, com conhecimentos avançados de magia que poderiam ser usados para o bem e, acima de tudo, pessoas tendencialmente honestas. O que se poderia querer mais? O que poderia correr mal? Apenas uma coisa. Os magos tornaram-se políticos. Mas não é essa a história. A história são duas, diferentes e com dois pontos de vista. Diferentes. De um lado temos Nathaniel, aprendiz de mago cujo mestre é um mago não muito importante e não muito poderoso. Mas que não trata Nathaniel lá muito bem, e Nathaniel ressente-se disso, daí que tenha decidido aprender por conta própria, acabando por invocar um djini, espírito medianamente poderoso chamado Bartimaeus. Do outro lado temos então Bartimaeus, Djini com 3000 anos, que aconselhou Ptolomeu. Bartimaeus tem um sentido de humor fabuloso que se torna ainda mais fabuloso dado o facto de as suas narrativas serem executadas na primeira pessoa. Passemos agora a uma pequena explicação do mundo que os rodeia. Aquando da invocação, Nathaniel encontra-se na capital do império, que é Londres, pelo menos desde que Gladstone, o mago mais importante de todos os tempos, possuidor de terríveis poderes, cercou Praga (o outro polo de magia da Europa) e a destruiu. Bartimaeus estava lá, do lado dos checos. Desde essa altura, Londres é a capital do império. A américa é ainda uma colónia problemática e dos outros continentes não sabemos nada. O mundo em que vivemos está dividido em sete planos, os quais só estão todos acessíveis aos magos mais poderosos. Nesses planos vivem todas as criaturas mágicas. No primeiro planos, vivem apenas os humanos e os humanos só podem ver no 1º planos. No 2º, vivem já algumas criaturas mágicas menores, tais como diabretes ou foliots. Estes, no primeiro plano, ou são invisíveis (para os humanos) ou então têm formas absolutamente inocentes. O truque dos magos, a fonte do seu poder, não é serem mágicos. Nenhum humano é mágico. A fonte do seu poder é terem conseguido aperceber-se da existência das criaturas mágicas e terem conseguido obrigá-las a servi-los. Voltando aos planos, ao 7º e último só têm acesso os espíritos verdadeiramente poderosos. Todas as criaturas mágicas são metamorfas, querendo isto dizer que podem assumir a forma que quiserem. A razão pela qual os diabretes apenas se transformam em pombos não é por não terem poder para mais. É apenas porque não têm imaginação. A hierarquia é a seguinte, de baixo para cima: diabrete, foliot, djinn, afrits e marids. Bartmaeus é um djinn, super vaidoso e inteligente, cujo maior poder é as notas de rodapé que escreve. A sua forma preferida é a de Ptolomeu, de quem foi conselheiro e amigo. Passemos então à intriga, que é o que menos interessa. Nathaniel invoca Barthimaeus para que este roube um amuleto super mágico a um mago chamado Simon Lovelace, que o humilhou dois anos atrás. Nathaniel quer assim vingar-se, mas embora se tnha sído bem na invocação de Bartimaeus, obrigando este a obedecer-lhe, deixou que este descobrisso o seu nome, igualando assim o jogo de poder. Bartimaeus não tem escrúpulos em aproveitar a vantagem, arreliando Nathaniel até à exaustão, mas este é determinado e não liberta Bartimaeus do seu poder e da sua obrigação. Passa-se assim o livro todo num equilíbrio tão instável quanto engraçado. Bartimaeus rouba o amuleto e Simon Lovelace acaba por recuperá-lo, arrasando tudo à sua volta. Mas Nathaniel escapa e jura vingança, desta vez a sério. Parte, com Bartimaeus (contrariado) a seu lado e vai descobrir qual o plano de Simon Lovelace. Que é, como não poderia deixar de ser, matar o primeiro ministro e tomar o seu lugar. Seca. Não me estou a lembar do nome do 1º ministro. Era importante. Deveraux. Qalquer coisa Deveraux. Durante a investigação, Nathaniel e Bartimaeus tornam-se amigos, mas seguindo a velha tradição britânica, nenhum deles diz isso ao outro, até porque não sabe que isso aconteceu. Temos tempo. É suposto que isto seja uma triologia, não se vai desperdiçar o melodrama logo a abrir. Assim sendo, lá descobriram eles que Gladstone vai dar uma festa para todo o governo na sua inevitável propriedade vitoriana no campo, qualquercoisashire, cheia de criados e mordomos. Durante a cerimónia, Gladstone utiliza o amuleto de Samarcanda para fazer um círculo mágico (os circulos mágicos são importantes, neste livro) e aprisionar dentre dela todos os membros do governo. De nada serviu a estes os seus guarda-costas mágicos. Todas as criaturas mágicas ficaram de fora do circulo. Execpto uma. Bartimaeus. Duas. Contando com o super marid que Gladstone invocou para limpar os membros do governo todos e assumir assim o poder. Quase o conseguiu. Quase. Porque Nathaniel e Bartimaeus... O livro, para cumprir a tradição, é muito bom. Melhor ainda. É super engraçado. E é um mau investimento. Lê-se em 2 dias.
1.3.07
4. freakonomics
Stephen D Levitt e Stephen J Dubner
No outro dia fui a Londres e entre as muitas coisas que vi ou que fui confrontado, a mais massacrante foi a publicidade a uma coisa qualquer esquisita chamada freakonomics, não sabendo eu na altura que raio é que aquilo era. Ainda por cima porque a publicidade era muita e bem feita, sendo basicamente constituída por aquilo que para mim é a verdadeira forma de arte nestes tempos tão, chamemos-lhe assim, rápidos que atravessamos: a frase curta. Descia eu uma escada rolante interminável e via escrito: sabes o que há de comum entre os professores primários e os lutadores de sumo? Divertido com a comparação, até porque um dos meus passatempos preferidos é imaginar as pessoas "vestidas" de lutadores de sumo, virava-me para trás na escada rolante para tentar ler a resposta, mas já não ia a tempo. Noutra escada rolante qualquer, havia outro cartaz a dizer: sabes porque é que os traficantes de droga vivem todos com a mãe? E, novamente, quando me virava para trás já não ia a tempo de ver a resposta… Já me estava a bulir com os nervos a situação, tanto que até poderá ter sido por isso que não achei piada nenhuma a uma exposição de cubos plásticos brancos empilhados uns sobre os outros na Tate Modern… Finalmente, pouco depois, se calhar ainda em Inglaterra, descobri que os cartazes só tinham a pergunta. Para saber a resposta tinha que se comprar um livro que se chamava, precisamente, freakonomics. Embora não goste de nada que acabe em "ics", gosto muito da palavra freak, por isso achei que poderia achar piada a ler o livro. Fui ais saldos do e-mule, peguei no papel de rascunho e pimba, arranjei que ler no metro durante 2 semanas. E o que descobri eu? Que o livro é uma colecção de crónicas dispersas, algumas pouco coerentes com as outras, mas em que as ditas perguntas "fracturantes" são o tema de cada uma das crónicas. Assim, das que tinham mais piada, temos:
O que é que os lutadores de sumo e os professores têm em comum?
Ambos fazem batota. Mesmo em ambientes em que supostamente a honra e a inocência são a imagem que mais transparece, se analisarmos a fundo os dados disponíveis, descobrimos inevitavelmente batotas. No caso dos professores, a batota era inflacionar as notas dos alunos e, consequentemente, a sua própria classificação. No caso dos gordinhos de fio dental, a idéia era que nunca ninguém perdesse em demasia, e maneira a manterem-se sempre mais ou menos os mesmos 200 lá na primeira divisão. Embora com algum sentido, isto trata-se do típico caso da publicidade enganosa. A resposta é muito menos interessante que a pergunta.
Porque é que os traficantes de droga vivem todos com as mães?Porque, por incrível que pareça, a maioria deles não tem dinheiro para casa própria. Abstraindo de considerações morais, o tráfico de droga é um negócio de estrutura piramidal como quialquer outro, em que apenas uma pequena percentagem das cúpulas é que ganham muito dinheiro. O grosso dos traficantes ganham pouquíssimo, de tal maneira que se considerarmos o risco inerente à profissão, faz-nos interrogar porque raio é que alguém se dispõe a traficar. E, quanto a mim, essa poderá ser a chave da luta contra a droga. Tipo: meu, para ganhares tão pouco mais vale fazeres outra merda qualquer em que não te habilites a levar uma bala nos cornos. Calão propositado.
O que tem em comum os vendedores imobiliários e a ku-klux-klan?São duas organizações que para funcionarem precisam de uma certa exclusividade em termos de informação e que foram praticamente desaturdias pela Internet. Concretizando: a partir do momento em que a Internet apareceu as pessoas começaram a circular informação em quantidades e com velocidades nunca antes vistas. Os compradores mandam mails aos vendedores, os vendedores postam fotos das casas evitando assim tantas visitas, enfim, a necessidade de intermediação diminuiu imenso. A razão de ser das imobiliárias passava pelo facto de serem os únicos que detinham toda a informação toda. Agora já não são. Relativamente à ku-klux-klan, a internet também quase que provocou o seu extermínio. Um belo dia, um jornalista conseguiu infiltrar-se e tornou mundialmente conhecidos várias situações que puseram completamente a ridícula a confraria dos lençóis. A saber, os nomes ridículos que chamavam uns aos outros, os apertos de mão secretos. A falta de coordenação entre as acções praticadas e, fundamentalmente, a falta de fundamento teórico ou de qualquer outro tipo para as parvoíces que faziam.
Para onde foram todos os criminosos?
Atendendo ao cenário do fim dos anos 70 e princípio dos anos 80, em que era só gangs juvenis e delinquência por todos os estados unidos, como raio é que, contrariando todas as previsões feitas pelos analistas e especialistas de então, a criminalidade desceu tipo 80%? Bem esta resposta é de longa a mais simples mas a mais polémica e provavelmente a mais certa de todo o livro. Esses criminosos, dizem eles, não nasceram. No início dos anos 80 foi liberalizado nos Estados Unidos o aborto, pelo que, evidentemente, milhares de mulheres que tinham gravidezes indesejadas passaram a abortar, podendo assim continuar com a sua vida curricular e aumentando muito as probabilidades de virem a ser alguém e de proporcionarem aos seus futuros filhos (desta vez desejados) educação e meios para uma vida honesta. Se tivessem levado até ao fim as primeiras gravidezes, essas crianças seriam monoparentais, pobres, sem escola, sem dinheiro e condenadas quase irremediavelmente a uma vida de privação ou de crime. E as gravidezes não ficariam por aí e as segundas e as terceiras sofreriam o mesmo destino. Enfim, esta deu que pensar.
O que podes fazer para ser um pai perfeito?
Nada. No momento em que te estás a fazer essa pergunta, já fizeste 80% de tudo o que poderias fazer pelos teus filhos. És branco, tens uma educação, cultura, um emprego, uma família estável, avós para os teus filhos, livros em casa, noção do bem e do mal, enfim, essas coisas todas. Posto isto, o resto é quase só ir gerindo, com base no bom senso. Geralmente, quando te interrogas sobre se hás-de ler determinado livro pedagógico, o momento certo para essa leitura era há um ano e meio atrás.
Ter um nome super afroamericano prejudica-te durante a tua vida?
Esta era tão fácil que nem li…
O que é que os lutadores de sumo e os professores têm em comum?
Ambos fazem batota. Mesmo em ambientes em que supostamente a honra e a inocência são a imagem que mais transparece, se analisarmos a fundo os dados disponíveis, descobrimos inevitavelmente batotas. No caso dos professores, a batota era inflacionar as notas dos alunos e, consequentemente, a sua própria classificação. No caso dos gordinhos de fio dental, a idéia era que nunca ninguém perdesse em demasia, e maneira a manterem-se sempre mais ou menos os mesmos 200 lá na primeira divisão. Embora com algum sentido, isto trata-se do típico caso da publicidade enganosa. A resposta é muito menos interessante que a pergunta.
Porque é que os traficantes de droga vivem todos com as mães?Porque, por incrível que pareça, a maioria deles não tem dinheiro para casa própria. Abstraindo de considerações morais, o tráfico de droga é um negócio de estrutura piramidal como quialquer outro, em que apenas uma pequena percentagem das cúpulas é que ganham muito dinheiro. O grosso dos traficantes ganham pouquíssimo, de tal maneira que se considerarmos o risco inerente à profissão, faz-nos interrogar porque raio é que alguém se dispõe a traficar. E, quanto a mim, essa poderá ser a chave da luta contra a droga. Tipo: meu, para ganhares tão pouco mais vale fazeres outra merda qualquer em que não te habilites a levar uma bala nos cornos. Calão propositado.
O que tem em comum os vendedores imobiliários e a ku-klux-klan?São duas organizações que para funcionarem precisam de uma certa exclusividade em termos de informação e que foram praticamente desaturdias pela Internet. Concretizando: a partir do momento em que a Internet apareceu as pessoas começaram a circular informação em quantidades e com velocidades nunca antes vistas. Os compradores mandam mails aos vendedores, os vendedores postam fotos das casas evitando assim tantas visitas, enfim, a necessidade de intermediação diminuiu imenso. A razão de ser das imobiliárias passava pelo facto de serem os únicos que detinham toda a informação toda. Agora já não são. Relativamente à ku-klux-klan, a internet também quase que provocou o seu extermínio. Um belo dia, um jornalista conseguiu infiltrar-se e tornou mundialmente conhecidos várias situações que puseram completamente a ridícula a confraria dos lençóis. A saber, os nomes ridículos que chamavam uns aos outros, os apertos de mão secretos. A falta de coordenação entre as acções praticadas e, fundamentalmente, a falta de fundamento teórico ou de qualquer outro tipo para as parvoíces que faziam.
Para onde foram todos os criminosos?
Atendendo ao cenário do fim dos anos 70 e princípio dos anos 80, em que era só gangs juvenis e delinquência por todos os estados unidos, como raio é que, contrariando todas as previsões feitas pelos analistas e especialistas de então, a criminalidade desceu tipo 80%? Bem esta resposta é de longa a mais simples mas a mais polémica e provavelmente a mais certa de todo o livro. Esses criminosos, dizem eles, não nasceram. No início dos anos 80 foi liberalizado nos Estados Unidos o aborto, pelo que, evidentemente, milhares de mulheres que tinham gravidezes indesejadas passaram a abortar, podendo assim continuar com a sua vida curricular e aumentando muito as probabilidades de virem a ser alguém e de proporcionarem aos seus futuros filhos (desta vez desejados) educação e meios para uma vida honesta. Se tivessem levado até ao fim as primeiras gravidezes, essas crianças seriam monoparentais, pobres, sem escola, sem dinheiro e condenadas quase irremediavelmente a uma vida de privação ou de crime. E as gravidezes não ficariam por aí e as segundas e as terceiras sofreriam o mesmo destino. Enfim, esta deu que pensar.
O que podes fazer para ser um pai perfeito?
Nada. No momento em que te estás a fazer essa pergunta, já fizeste 80% de tudo o que poderias fazer pelos teus filhos. És branco, tens uma educação, cultura, um emprego, uma família estável, avós para os teus filhos, livros em casa, noção do bem e do mal, enfim, essas coisas todas. Posto isto, o resto é quase só ir gerindo, com base no bom senso. Geralmente, quando te interrogas sobre se hás-de ler determinado livro pedagógico, o momento certo para essa leitura era há um ano e meio atrás.
Ter um nome super afroamericano prejudica-te durante a tua vida?
Esta era tão fácil que nem li…
3. os reinos do norte
Philip Pullman
Lyra tem 11 anos e um génio. Não é um génio criativo, nem vem de uma lâmpada. É um génio vivo, que a acompamha sempre, que vai mudando de forma de acordo com as situações e que se chama Pantailamon. Logo aqui haveria muito que dizer. Não é só Lyra que tem um génio. Toda a gente tem. Toda a gente tem um ser vivo, consciente, que anda sempre ao seu lado, do qual não se consegue separar e com o qual tem comunicação directa ao coração. Tipo alma gêmea. Tipo alma. Lyra está escondida dentro de um armário com Pantailamon, na tentativa de ouvir a reunião que vai acontecer entre o conselho científico de uma daquelas universidades inglesas tipo Oxford e Lord Asrael seu tio, personagem aparentemente muito poderosa cujo génio é uma pantera branca com olhos verdes. Lord Asrael acabou de voltar de uma expedição dos reinos do norte, onde conseguiu uma fotografia do Pó, com letra grande. O Pó é, simplificando, a unidade fundamental do constituinte das almas. É o equivalente dos átomos do mundo físico. Ainda por cima é bonito. O pó é aquilo de que as auroras boreais são feitas. Portanto, a fotografia de Lord Asrael tem um impacto bastante grande, uma vez que pode ser a prova física da existência da alma. E também não cai bem nos meios mais conservadores. Estamos numa altura em que a ortodoxia impera. Desde que o papa Calvino mudara a sede do papado para Genebra e instituido o tribunal consistorial de disciplina, o poder da igreja sobre todos os aspectos da vida tornara-se absoluto. E a santa igreja ensinava que havia dois mundos, o mundo físico e o mundo espiritual, do céu e do inferno. Barnard e Strokes eram dois teólogos heeréticos que postulavam a existência de vários mundos semelhanets ao nosso, todos mundos materiais, perto de nós mas invisíveis e inalcançavéis. Mundos paralelos.
Fora deste ambiente académico e denso, temos na mesma um ambiente sério e denso. Ou não fosse esta história passada em Londres, onde o nevoeiro dá a densidade e o caracter taciturno dos ingleses dá a seriedade. Era portanto Londres, e estava nevoeiro. Uma Londres diferente, uma vez que era habitada e percorrida por pessoas e génios. Mas ainda assim, super dickensiana, cheia de becos escuros, casas degradadas e meninos pobres. Meninos pobres que, a partir de uma determinada altura, começaram a desaparecer, raptados por uma senhora muito bonita cujo génio era um macaco dourado com um olhar extremamente malicioso. Depois de raptados, os meninos são metidos numbarco e enviados para o norte, para onde entretanto Lord Asrael voltou e para onde tudo aponta, até as bussolas. Até que um dia, Roger, o melhor amigo de Lyra desaparece e ela é convocada para uma reunião no colégio, reunião em que aprece uma senhora muito bonita cujo génio é um macaco dourado. Lyra viaja com a Sra Coulter tornando-se sua assitente. Antes da viagem, o Mestre do colégio tinha-lhe dado um alteiómetro, uma espécie de astrolágbio que só diz a verdade, mas ao qual é muito dificil fazer as perguntas certas. Em poucos dias, Lyra apercebe-se da ligação entre a Sra Coulter e o desaparecimento das crianças. Lyra é esperta e põe-se a milhas. Foge com os ciganos, de barco, subindo o rio, rumo ao norte, numa expedição de salvamento das crianças perdidas. E também do seu tio Asrael, que entretanto tinha sido preso em Svalbard, terra dos ursos blindados, os meus personagens preferidos deste livro. Entre os ciganos, que mercem uma descrição mais pormenorizada noutra altura, noutro local, estava Farder Coram, um homem sábio que conta a Lyra muita coisa. Tipo que Lord Asrael é o seu pai e a Sra. Coulter a sua mãe. E que os dois estão envolvidas numa luta terrível de poder e não só.Dizia eu, que a expedição Lyra mais ciganos se dirigia ao norte. Mais especificamente, para a Lapónia. No cqaminho, param num porto qualquer, Bolvangar, onde Lyra recruta para a equipa Iorek Byrnison, rei deposto dos ursos blindados de Svalbard. Os ursos blindados são ursos polares, gigantes, com mais de 2 metros, inteligentes, orgulhosos, ferozes e que, como se não bastasse, ainda são especialistas na arte de trabalhar o metal. Vai daí, cada um deles está vestido com uma armadura quase invulnerável. Quase. Quase é uma palavra sem a qual o mundo não existia. Iorek tinha perdido a armadura. Lyra recupera-a ganhando assim a sua lealdade. E seguem viagem, sempre para norte. São atacados e quem vem em sua ajuda, não que os ciganos não se safassem sozinhos, principalmente com Iorek, mas enfim, vem em seu auxílio dizia eu, as feiticeiras. As feiticeiras vivem na fronteira (norte) entre o nosso mundo e sabe-se quais outros. Embora vivam centenas de anos, são jovens e lindissimas, principalmente a sua rainha, que se chama Serafina Pekkala. Voam em ramos de pinheiro e são muito independentes e algo imprevisivéis. Eventualmente, todos chegam ao destino e, entre muitas lutas com os tártaros, que são a guarda avançada do conselho da oblação, que é o braço armado da igreja, chegam ao confronto final. Lord Asrael, que entretanto lá se tinha instalado, constroi uma ponte entre mundos, com o objectivo de descobrir a origem do Pó. Lyra, filha do seu pai, atravessa-a. Este livro é muito, muito bom.
2. left behind
Tim Lahaye e Jerry B. Jenkins.
Hesitei imenso antes de embarcar na saga. Havia razões para tanta hesitação: 11 ou 12 volumes, 17 euros cada um, relativo pouco impacto em termos de opinião pública, um cheiro a evangelismo americano, enfim…Neste caso, a prudência perdeu. Ao fim ao cabo, havia bastantes ingredientes a favor, que poderiam ser todos resumidos em duas palavras: ficção apocalíptica. Sempre achei os apocalipses interessantes. Assim sendo, num momento de arrebatamento, enquanto experimentava a sensação inebriante de ter net no portátil, perdi a cabeça e encomendei os 4 primeiros volumes na amazon. Como nem sempre sou muito esperto, encomendei na amazon americana, de maneira que fiquei 3 semanas à espera. Enfim…
Lá comecei. E mal comecei, fiquei logo sem fôlego. Milhões de pessoas desaparecem de um momento para o outro, em todo o mundo, simultaneamente, deixando aviões sem pilotos, casas sem mães, quartéis de bombeiros vazios, escolas sem professores, hospitais sem enfermeiros e escolas sem crianças. Será que detecto um padrão? Logo a seguir, o enredo continua numa fuga para a frente que fico logo desconfiado que este ritmo é impossível de manter. Um dos passageiros de um dos aviões que estava em voo na altura do desaparecimento é Buck, um superjornaslista que aos 30 anos de idade já entrevistou não sei quantos nóbeis e já teve 1 ou 2 prémios pulitzer. Muito plausível. Confrontado com o terrível fenómeno, recorda o seu passado recente enquanto tenta ligar o seu portátil ao telefone do avião para assim chegar à net e ao que se passa. Cerca de um ano antes, Buck estava em Israel no dia em que a Rússia perdeu a cabeça e lançou um ataque devastador em grande escala contra Israel. Misséis, aviões, tudo o que tinham. E porquê? Porque anos antes um cientista israelita tinha descoberto uma fórmula secreta que fez com que o solo israelita se tornasse um autêntico el dorado agrícola. Literalmente, inverteu o milagre dos 40 anos no deserto e fez o maná brotar do chão, da areia. Graças a isso, Israel tornou-se no país mais rico do mundo, razão que fez com que os russos ressabiassem. Uma das máximas da história mundial é que nunca se sabe o que a Rússia vai fazer. Toda a gente sabe disso. Assim sendo, o professor israelita tornou-se digno de ser entrevistado por Buck. E, consequentemente, ganhou o prémio nobel. Estava por isso Buck em Israel quando os russos atacaram. E o que aconteceu? Fogo no céu e todos os misséis, aviões e armas e soldaos russos destruidos, isto tudo com zero baixas israelitas. Ainda por cima, com os destroços da frota russa, Israel ficou com reservas de metal e combustíveis para 5 anos. Milagre, disse toda a gente. Pois, mas era fácil concluir isso. Deus já tinha safo os israelitas naquele ocasião do mar vermelho. Estava assim eu todo empolgado, quando comecei a ler páginas e páginas da ressaca sentimental das personagens que perderam entes queridos, Buck não ressacou, mas Rayford, o piloto de avião onde Buck ia, Hattie, a hospedeira de bordo e mais alguns passaram-se dos carretos. Percebe-se, mas não deixa de ser aborrecido de ler. Entretanto, eis que surge outro enredo prometedor. Algures no mundo ocidental, existe aquela conspiração do costume, em que meia dúzia de magos da alta finança, tipo G8 plus, é que dominam o mundo. Vai daí, estão a tentar criar uma moeda única, e outras iniciativas afim. Não. Não foi o euro.
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