Christopher Moore.
Raziel, o anjo menos inteligente do paraíso, volta à terra encarregue de realizar um milagre de Natal a uma criança. A criança é Josh (Raziel ? Josh ? Isto lembra-me algo), e ia a caminho de casa preocupado com o que lhe iria acontecer por ser tão tarde e ele ter ficado a tarde toda a jogar playstation com o amigo judeu e, consequentemente, ir chegar a casa tão tarde. Não bastava já essa preocupação, eis que no meio de um pinhal, ele vê a cabeça do Pai Natal a ser cortada por uma pá que estava na mão de Lena, ex-mulher do Pai Natal em causa, que mais não era que o empreiteiro bué de mau da cidade, convenientemente vestido e que se reparava para a matar (a Lena) porela estar a roubar os seus pinheiros. Josh fica aterrorizado e pensa que isto é um castigo divino por estar a ir tarde para casa e aqui começa a confusão teológica. Josh acha que Deus está a castigá-lo por estar a chegar tarde a casa e, por isso, faz com que o Pai Natal seja morto só para ele não ter presentes. Quando Raziel chega à sua beira e se apresenta como um anjo e lhe pergunta qual o desejo que quer ver ser satisfeito, Josh não hesita e pede-lhe para ressuscitar o Pai Natal que tinha acabado de ser assassinado. Raziel torce o nariz, pois não lhe agrada muito ressuscitar um símbolo pagão que rouba todos os loiros do Natal ao Menino Jesus. E ele, Raziel, era loiro, mais um motivo para ficar chateado e mais ainda para esta associação tão estúpida que acabei de fazer e que nem todos entenderão. Vai daí, e também por ser algo preguiçoso, não se deu ao trabalho de localizar o sítio onde o Pai Natal estava enterrado, por isso limitou-se a fazer uma ressurreição a uma escala maior, lançando o, chamemos-lhe assim, feitiço, ao longo de uma área bastante considerável que, azar e falta de observação, apanhava o cemitério da cidade…Vai daí, ressuscitou não só o Pai Natal falso mas também um monte de outros mortos que, em diferentes estados de decomposição, se levantaram a gritar que queriam comer os cérebros dos vivos e, a seguir, ir ao Ikea. A sério. Não estava cheio de sono quando li isto, não é um delírio meu. Os zombies queriam mesmo ir ao Ikea. Vai daí, dirigiram-se à capela onde estava a decorrer a festa de Natal da cidade. Dentro da capela estava Lena, ainda algo em choque por ter morto o Pai Natal, perdão, o ex-marido e Tuck, um piloto de helicóptero cujo trabalho era descobrir plantações de marijuana a partir do ar e que, porque a queria seduzir, muito amavelmente ajudou Lena a enterrar o ex-marido e a livrar-se de todas as provas. Isto logo a seguir a tê-la apanhado em flagrante pós-assassínio. Tuck, além deste pragmatismo despreocupado tinha ainda como característica ter como animal de estimação e melhor amigo Roberto, um morcego gigante que usava óculos Ray Ban de aviador e falava com sotaque espanhol. Vá… Filipino. A profissão de Tuck interferia com a de Theo que era o único polícia da cidade. Isto deixa de parecer contraditório quando nos apercebemos que Theo tem um campo de marijuana, daqueles que podem ser detectados se algum helicóptero lhes passar por cima. A razão de Theo ter um campo de marijuana é para ter dinheiro para comprar a prenda de Natal para a mulher. A prenda é uma daquelas espadas japonesas tipo Kill Bill, com o aço dobrado e martelado 500 vezes. A mulher é Molly, antiga actriz de cinema que protagonizou uma série de filmes da Kendra, uma espécie de Xena, a princesa Guerreira. A Molly é muito fixe.. Como vive nos limites da paranóia / esquizofrenia (confundo sempre estes dois) tem que andar sempre medicada. Mas como precisava de dinheiro para comprar a prenda para o marido, deixou de tomar a medicação. A prenda era um cachimbo de água esquisitíssimo, em cristal, para ele dar as suas passas feliz. O marido é Theo, o polícia. Já falamos dele há bocadinho. E quando Molly deixa de tomar a medicação, começa a sobrepor os mundos, o de Kendra, onde há mutantes, piratas assassinos e afins, e a realidade, passando esta a ser, digamos assim, algo irreal. Além disso, passa também a ouvir vozes. Mas como é uma mulher inteligente, ouve apenas uma voz, a que chama, o Narrador, e com quem passa a discutir todas as suas decisões quotidianas. Último pormenor relativamente aos efeitos que a não medicação causa em Molly. Esquece-se de se vestir…
Então os zombies, dizia eu, resolveram atacar a igreja. A luta não teve muito que se lhe diga. Depois de um cerco não muito prolongado, Molly despachou os zombies todos com a sua espada nova. Todos não. Theo tomou para si o privilégio de rematar o Pai Natal, levando Raziel ao desespero por pensar que tinha que fazer tudo outra vez. Não tinha. Enfim… Não é grande história, mas os personagens são todos muito fixes. Se não chega os que já descrevi, temos ainda o puto judaico amigo de Josh, com a sua apologia da Hannukah, temos Gabe, o biólogo que, desiludido por ter sido deixado pela mulher, passa a andar com eléctrodos nos testículos que lhe dão electrochoques nos momentos de excitação sexual, tentando com esta prática obter uma reacção anti-sexual pavloviana, temos Skinner, o cão de Gabe, cuja única preocupação é que a vida do seu dono, a quem chama Food Guy, corra bem para que os seus hábitos alimentares não sejam interrompidos e que fica mesmo muito triste quando lhe chamam cãozinho mau, temos Mavis a dona do café da zona, tarada sexual com dificuldades em consumar a sua tara (não temos nós todos ?) que meteu drogas no bolo de frutas do Natal, a ver se animava um bocadinho aquilo, temos Ben, o corredor dos 100 metros com musculatura e forma física perfeita e testículos minúsculos, provocados por uma vida de esteróides, que transformou a corrida da sua vida na corrida da sua morte…. Enfim. Não sendo nenhuma obra prima, é sem dúvida uma boa prima do mestre de obras.
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