28.8.12

35 - cinderela: from fabletown with love












Toda a gente sabe que a Cinderela começou mal. Aquela história de ter sido oprimida pela madrasta e pelas irmãs era mesmo verdade. Felizmente que tudo acabou bem, uma vez que Cinderela foi resgatada a esta vida pela fada madrinha, que lhe proporcionou os meios para se tornar notada aos olhos do príncipe encantado, tendo assim encontrado o amor eterno. Bem... Isso é o que vem nos livros dos contos de fada. E toda a gente sabe que a vida não é um conto de fadas. A verdade é que nem tudo foram rosas. Nem tudo nem quase nada. Para começar, o impacto da fada madrinha na vida da Cinderela foi muito mais negativo do que toda a gente pensa. Aquela historia de só poder ter as coisas até a meia noite foi profundamente traumático para ela, pois quando finalmente se estava a começar a divertir e a cativar toda a gente a sua volta, nas festas, Cinderela tinha que desatar a fugir para não ser apanhada vestida de farrapos e cheia de ratos e abóboras a sua volta. É hoje aceite sem reservas por todas as escolas de psiquiatria e psicologia que, pior do que não ter as coisas que se deseja, e tê-las apenas mediante condições que não se controla e ter que viver com o sentimento constante de que, a qualquer momento, elas irão desaparecer e que não nos pertencem verdadeiramente. Chama-se a isto o síndroma da perda latente. E eu sei o que isto é. E não sou só eu... Para além disto, a fada madrinha foi uma péssima conselheira sentimental, ou seja, não podia ter escolhido pior marido para Cinderela. Explicando melhor: todos nos já teremos parado para pensar quão esquisita era a profusão de príncipes encantados no mundo dos contos de fadas. Caramba. Parecia que se davam pontapé numa pedra e saía debaixo dela um príncipe encantado preparadinho para dar o beijo, receber o beijo, matar o dragão po, calçar o sapato... Obviamente que o príncipe era sempre o mesmo. Sim. O príncipe que beijou a Branca de Neve, que beijou a Bela Adormecida, que matou o dragão e que esteve algum tempo transformado em sapo era sempre o mesmo. Chamava-se Encantado e era uma peça jeitosa... E que casou com elas todas, não conseguindo fazer nenhuma delas feliz. Assim sendo, e perante uma tão grande diversidade de noivas presentes, passadas e futuras, Encantado não sabia ser fiel e, no que diz respeito a Cinderela (segunda mulher, penso eu), por e simplesmente não a conseguiu fazer feliz a não ser no que ao sexo diz respeito. Mas mesmo neste aspecto, apenas nos primeiros tempos..l e alguém conhece alguma relação que se aguente duradouramente apenas com sexo ? Eu não... Recém-divorciada, Cinderela resolveu dedicar-se aos negócios abrindo, num assomo de ironia, uma sapataria. Em Fabletown, canto de nova iorque de que já falamos nestas páginas. Mas mesmo exercendo profissionalmente, mesmo indo as feiras de calçado internacional de Madrid, Roma e afins, não se sentia realizada, sendo o ponto alto da sua semana o almoço com as outras ex mulheres de Encantado, tornando-se esse almoço um momento de catarse colectiva no que diz respeito ao desopilamento do fígado. Bigby, o Lobo Mau, na altura o xerife de Fabletown, apercebeu-se não só disso mas dos inúmeros talentos ocultos que Cinderela apresentava. E contratou-a para espia de Fabletown... A lista de missões de Cinderela é enorme, podendo mesmo dizer-se que teve um papel fundamental na vitoria sobre o imperador e na reconquista das Homelands. Foi ela que, sozinha, recuperou Pinóquio das garras de Gepeto que, recordemos, era o verdadeiro cérebro por trás do imperador.  Foi a vida de agente secreta que Cinderela passou a ter que lhe permitiu ajustar contas com a sua infância e livrar-se de grande parte dos traumas que ainda tinha, bem como acertar contas com quem lhe tinha tentado arruinar a vida. A madrasta e as irmãs ? Não, claro que não. Essas eram apenas conjunturais. Encantado, o Príncipe infiel? Também não, mais que não fosse por ele se ter redimido do passado  inconsequente que teve e, antes de morrer, ter levado à letra a sua condição de herói e ter conduzido (enquanto Mayor), as Fables à vitória e à liberdade. Então com quem ajustou contas Cinderela? Com a fada madrinha, obviamente, num cenário de alguma complexidade cuja descrição não é o principal objectivo destas apressadas linhas que aqui escrevo. Abreviando, podemos dizer que a Fada Madrinha tinha plena consciência que o seu principal defeito era os seus feitiços serem de curta duração e, inteligentemente, escolheu para tiranizar um mundo daqueles tipo Gronelândia, em que a noite dura seis meses e, assim sendo, os seus feitiços também. Assim sendo, tecnicamente, teria apenas uma meia noite por ano e, se conseguisse resolver essa transição, então poderia reinar sem restrições o resto do ano. Enfim… Technicalities, como diria a Vitória. Cinderela, após uma profunda investigação na companhia de Aladino, descobriu todas as tramas da Fada Madrinha, confrontou-a e, não lhe tendo dado o verdadeiro golpe de misericórdia, deixou-a nas mão dos habitantes da planeta que ela aterrorizou. O que foi dar no mesmo, uma vez que estes não hesitaram em fazer-lhe a folha. Á fada. Á Cinderela, quem a fez foi o Aladino. Juntando as suas qualidades como espia e agente secreto à sua beleza, forma física e sentido de humor, Cinderela é para mim uma das personagens mais importantes das Fables o que pode ser perfeitamente pueril para o mundo, mas é muito importante para mim.

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