27.8.12

34 - servos da escuridão












Jean Christophe Grangé
Capa preta, mesmo muito muito preta. Pergunto-me se fará sentido estar a escurecer assim tanto as minhas leituras, estar a procurar uma espécie de equivalência entre a literatura e o quotidiano. Nao faria mais sentido, neste período de monstros fugir para o meio das fadas, abrigar-me no porto da literatura fantástica? Que sentido faz salgar as feridas? É para ficar mais forte? Não esta a resultar lá muito... Por outro lado, os livros tem sido bons, e este é mesmo muito bom. Começa com um par de policias gémeos na sua religiosidade. Que no entanto, como todos os gémeos, tem diferenças consideráveis, sendo que enquanto Mathieu, de um metro e noventa, famílias ricas e um rol de qualidades invejáveis, envereda pela via institucional, procurando Deus no mosteiro, Luc, mais baixo, mais pobre e muito mais retorcido, envereda logo pela busca do diabo. Torna-se, para isso, missionário nos piores sítios do planeta, passando milhões de tempo nos Balcãs, no tempo em que aquilo não estava nada bem. Mathieu nao tarda a ser arrastado pelo íman que a vida do seu amigo sempre foi para a sua, e toca a ir para o Ruanda, onde perdeu grande parte sua sanidade. Por exemplo, deixou de poder ouvir ruídos metálicos, por o fazerem recordar a maneira como os guerrilheiros tutsis aterrorizavam os hutus (ou vice versa ?), e que era arrastando as suas catanas pela rua, arranhando os passeios, avisando-os que estavam a chegar para os matar. Luc e Mathieu acabam por reencontrar-se enquanto policias, acabando os objectivos das suas vidas por convergir na luta contra o mal, ou mais concretamente, na luta contra o mal versão francesa, uma vez que acabam os dois como policias em Paris. E é aqui que tudo começa. Um dia, Mathieu recebe a noticia que Luc se tentou suicidar tipo VIrginia Wolf, entrando pela água dentro com os bolsos cheios de pedras e uma medalhinha do Arcanjo São Miguel bem fechada na sua mão. O arcanjo São Miguel, recordei eu entretanto, era o capitão mor dos exércitos celestes, e foi ele que liderou a luta na revolta de Lucifer que, recordemos todos, se rebelou contra Deus por achar que os anjos eram muito mais mereçedores do amor divino que os homens, a quem Deus elegeu como favoritos.Foi então que Deus precipitou Lúcifer vencido desde o topo dos céus as profundezas dos infernos. Digo eu que,provavelmente já apoiado no meu imaginário e nao em nenhum façto histórico, foi o rasto dessa queda que deu a Lúcifer o apelido de Estrela da Manha. Voltando a estória, como diria o Saramago, porque estória é diferente de historia, Mathieu nao aceitou de bom grado o facto de o seu melhor amigo se ter querido suicidar. Vai dai, resolveu submergir-se nos casos que Luc investigava e que eram a morte de um traficante de uma droga opiácea proveniente de uma planta que só crescia no Gabão e de uma morte muito, mas muito mais espectacular que ocorreu nos Alpes franceses. Tratava-se da mãe de uma rapariga chamada Manon que tinhasido por ela assassinada na sua infância. Eu explico melhor: Manon, a filha, tinha todos os sinais de ter sido possuída pelo diabo. Apavorada, a mãe resolve má ta-lá atirando-a para uma etar, onde ela se afogou sem ser em agua. Muitos anos depois, a mãe aparece morta, de uma maneira bastante original. Tipo multi estrato. As pernas estavam completamente deterioradas, quase só ossose tendões, enquanto que o tronco estava tipi a meio gás, completamente a ser devorado por moscas e mais bichos necrofagos, escaravelhos e tudo. A cara estava ainda completamente intacta. Para ser reconhecida, pensei eu...e tinha razão. Para abrilhantar ainda mais o cenário, o assassino tinha revestido os pulmões de Simone (era este o nome da vitima, mãe de Manon)de um líquen foto luminescente, tipo o dinossauro do meu escritório (sabes qual e?). Para além de tudo isto,o cadáver apresentava profundos sinais de satanizo, uma vez que estava de pernas abertas virado para o mosteiro e com um crucifixo enfiado invertidamente na... Vcs sabem aonde... Mathieu continuou a investigar e descobriu mais alguns crimes do género pela Europa fora e, aprofundando alindamos a investigação, descobriu que todos esses crimes aconteceram aos progenitores de crianças que tinham sido miraculosamente salvas da morte depois de morrerem em idades ainda muito tenras. Tanto Manon como as outras crianças tinham estado mortas e voltaram da morte pouco antes de chegarem a luz brilhante. No entanto parece que quem as chamou de volta para a vida nao terá sido Deus, masseira outra entidade cujo nome também começa por D e que muito gente o escrevem maiúsculas. E aqui começa a confusão. Durante essas experiências e quase morte, essas crianças teriam sido abordadas pelo diabo, que as arregimentaria e as transformaria naquilo a que no livro chamam as sem luz, contrariando de alguma forma a luz da manha de Lucifer. Seria assim selado um verdadeiro pacto com o diabo, e essas pessoas passariam o resto da vida a fazer mal, muito mal, começando por se vingar dos pais que as tinham maltratado. E vingar como? Matando-as da maneira que o diabo as tinha ensinado, tipo por camadas de decomposição variável. A combater tudo isto, teríamos duas facções da igreja católica, uma que seria o Vaticano tradicional, que tentaria travar a batalha de uma forma, chamemos-lhe assim, escolástica, e outra uma ordem de cavaleiros frades polacos, tipo templários, hospitalares e afins, que partiam mesmo para a violência... Em nome de Deus, obviamente. E entretanto inquérito aconteceu aos nossos dois heróis? Mathieu nao alinhou por nenhuma das duas equipas divinas nem, muito menos, pela diabólica. Embora se tenha apaixonado por Manon, que nesta altura do campeonato, tinha já trinta anos, podres de bons. Continuou policia, descobriu os crimes e deu a César o que era de César, a Deus o que era de Deus, e ao DIabo, o que era do Diabo. Quanto a Luc, esse teve muito mais sucesso na perseguição dos seus objectivos. Já chega. Quem quiser mais (e nao deve haver quem queira)' que leia o livro, que eu empresto

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