6.7.14

60 - the sessions













Pensando bem, esta não é uma maneira convencional de começar um texto. Mas o facto é que acho que acabei de encontrar uma das principais coisas que me agradam num filme. é quando as coisas fazem sentido, quando são inteligíveis e quando todas as personagens se portam de uma maneira adequada, sem parvoíces. Quando cada coisa que dizem faz sentido e quando cada coisa que dizem é dita às outras personagens, criando assim diálogos inteligentes. A cho que já não gosto de monólogos e acho que os diálogos são a coluna vertebral dos filmes. Um filme não tem tempo para ficarmos a pensar em monólogos intermináveis, que quando acabam a audiências já mudou ou, no caso dos filmes maus, já desapareceu... nos filmes o que conta é aquilo que podemos apreender rapidamente, e isso são algumas imagens e muitos diálogos. Neste filme, que está longe de me entusiasmar, tudo faz sentido, toda a gente faz a coisa certa e isso é agradável. Existe um homem que sofre de poliomielite, estando acamado e tendo que viver grande parte do tempo dentro de um pulmão artificial (tipo iron lung, dos radiohead). Podia ser amargo, mas é poeta, jornalista e quer fazer sexo. Confessa-se ao novo padre da paróquia, que o ouve com atenção, abraça-o quando ele precisa e diz-lhe com uma pontinha de resignação invejosa que sim, que deve tentar resolver as suas pulsões da forma que todos os homens acham que as suas pulsões devem ser resolvidas. Mark tem como assistente uma actora índia a fazer de conta que é chinesa, sendo que o cruzamento dessas duas maneiras de ser fazem com que cada palavra que diz seja a certa e cada gesto que faz seja o certo. Mas não, não foi a ela que Mark recorreu. A quem Mark recorreu foi a uma terapeuta sexual (Helen Hunt, gloriosa na sua nudez) que, também ela, dizendo e fazendo apenas as coisas certas, consegue que Mark ultrapasse a sua virgindade e se sinta erradamente mais homem do que já era, Porque como dizia Rod, o outro assistente que lhe salvou a vida no dia em que luz faltou e o pulmão de ferro parou, a penetração é largamente sobrevalorizada, mas absolutamente essencial para o equilíbrio masculino. há muitas maneiras de se chegar ao mesmo efeito (isto ainda á Rod a falar), mas para o homem, se não enfiar, então nada está bem. No hospital, Mark conhece Susan, que nem precisa de abrir a boca para dizer a coisa certa. Casa e morre cinco anos depois, consubstanciando assim uma das suas ânsias durante a vida, quando tinha vislumbres de uma tristeza futura. Descansou em paz...

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