23.11.14

69 - Coherence













De quando em quando, há sempre um bom motivo para praticar aquilo que eu acho que, quando bem usado, pode ser uma autêntica obra de arte literária. O aforismo, a punch line, aquela frase curta demolidora que diz mais em meia dúzia de palavras do que muitos tratados infinitos. Aquela articulação entre ideias e palavras única, que permite que o receptor comungue completamente da mensagem quase que mais por uma espécie de osmose literária do que propriamente por exercício da leitura. Vou tentar usar isso daqui para a frente, para filmes que não me dizem nada em especial, mas que no entanto merecem o registo de os ter visto, quer para os tentar recuperar no futuro, quando for mais inteligente, quer para não correr o risco de os ir ver outra vez. Assim sendo, como resumir em poucas palavras um filme que trata de um grupo de pretensos militantes do bom gosto, que falam com aquela entoação insuportável que o Woody Allen usava quando entrava nos seus próprios filmes, um filme em que acontece um daqueles jantares em que a principal preocupação dos personagens é fazer o vinho rodar dentro dos seus copos tipo balão mas de pé alto? E que depois, para piorar tudo, a casa onde este insuportável jantar decorre é duplicada por acção de um cometa que vai a passar e que provoca um qualquer efeito de multiplicação de coisas aborrecidas ? Que frase poderá caracterizar este exercício de cinema infeliz e enganador, que tem um sete no imdb ? Íman para críticos pretensiosos ?  Coerência do aborrecimento ? Melancholia sem actores de jeito ? Claramente, ainda não domino esta arte da frase curta. Se pudesse começar este texto outra vez e tivesse que descrever este filme, agora sem pretensão intelectualista da minha parte, diria qualquer coisa como: é tipo os amigos de Alex em que a única emoção humana que exploraram foi o aborrecimento e em que puseram as culpas num cometa que ía a passar...

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