A minha
família é constituida por intelectuais
em diferentes fases de desenvolvimento. O meu pai é um escritor que já teve
sucesso e vendeu muitos livros, mas no
presente não tem quem lhe publique os livros. Goza no entanto de algum
prestígio ainda, pelo depois do divórcio não tardou a envolver-se com uma aluna que,
curiosamente, era a parceira nao oficial do Luther. Luther... Aquele polícia
inglês que tem o grande mérito de fazer séries com temporadas pequenas, tão
pequenas que nem sequer chegamos a estranhar que ele não mude de roupa.
Voltando meu pai e voltando ao divórcio, ele está a gerir esse processo
claramente, ao ponto de ter entrado num esquema claro de compensação emocional,
comprando uma vivenda igual à que tinhamos enquanto ainda eramos uma família..
Mas como o dinheiro dele é curto, a casa é decrépita, sem móveis e quase
assombrada. O que faz que o meu irmão a deteste (à casa) enquanto que eu, em
pleno rebentamento da testosterona mas ainda com um componente infantil muito
saudável, a considero fixíssima. A minha mãe é uma escritora em fase de
ascensão, ainda na fase de pré-publicar extractos no new York times. Tem um ar
calmo, super controlado, é bonita e tem super jeito na relação connosco. Mas
ninguém é perfeito e ela, sendo-o agora no presente, não o foi no passado,
tendo-se fartado de trair o marido e, consequentemente, a família. Recorrendo,
ainda por cima, ao cliché do pinar com o professor de ténis, um gajo super simpático
de quem até eu gosto. O que me faz parar um bocadinho para pensar na posição do
meu pai e na maneria como ele sente esta separação: a seres trocado, toda a
gente diz que quer ser trocado por alguém melhor, para não sentir o vazio
provocado por a nossa mulher já estar tão farta de nós que qualquer cliché
serve. Eu, pessoalmente, prefiro esse vazio ào estado de raiva que sentiria
todos os dias ao sentir que fui trocado e que, mesmo objectivamente, isso fez
todo o sentido, porque fui trocado por alguém melhor. Meu Deus. Que pesadelo.
Depois ainda há o meu irmão, interpretado pelo Mark Zukenberg três ou quatro
anos antes de ter ido para a faculdade e ter roubado a idéia do Facebook a dois
colegas pouco agressivos. O meu irmão, dizia eu, que se move entre o nosso pai e a nossa mãe,
apoiando o declínio do pai e criticando a ascensão da mãe. Move-se também entre
duas namoradas, a dele, loira, bonita, honesta e cândida e a do pai, bonita,
retorcida e interesseira, escolhendo, obviamente, mal. Ou seja, a morena, que
por coincidência é aquela que o nosso pai anda a pinar para que a sensação de
ser patético que lhe não descola da pele seja auto-justificada pelo sexo com
uma adolescente e não pela falta de amor da mulher de quem efectivamente gosta.
Por fim, resto eu, que me assumo desassombradamente como filisteu, tenho 12
anos, bebo, praguejo, jogo ténis com o namorado da minha mãe e preparo uma vida
de rebeldia inconsequente. Mas chorei quando os meus pais nos disseram que se
iam separar… Temos assim a chamada família disfuncional, que atrai os incautos u enganar, que pensam que se
pode tratar de outra ser outra família à beira de um ataque de nervos. Não é a
mesma coisa... É muito menos fixe. Resta
ainda a lula e a baleia que, tal como eu tinha desconfiado a certa altura, eram
as que estão penduradas no tecto do museu de história natural de nova
Iorque. Sendo um nome que não tem nada a ver com o filme, no fundo até acaba
por o explicar. Quando vi a lula e a baleia original, penduradas no tecto do
dito museu, pensei cá para mim que sendo uma luta bonita a que eles estavam a
travar, era também completamente inútil, pois nem a baleia quer comer a lula,
nem a lua quer comer a baleia. É como no filme, em que todos se magoam uns aos
outros por defeito, sem nexo nem necessidade nenhuma, até porque toda a gente
ainda gosta de toda a gente. E embora seja uma frase que pode ter algum
impacto, quer por ser curta, quer pela fonética conferida pela repetição da
primeira letra, traduz um conceito que eu não gosto. Disfuncionalidade por
defeito. É... Não gosto mesmo.
a lula e a baleia
a lula e a baleia
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