18.10.15

penny dreadful


penny dreadful
Aconteceu uma coisa inexplicável quando comecei a relacionar-me com esta série. Não conseguia deixar de pensar na Jodie Foster, com um daqueles chapéus pequenos com uma rede preta a tapar metade da cara. Porquê? Não faço idéia, mas tratando-se de uma série sobre o inexplicável, não me preocupei muito porque achei esta inexplicabilidade coerente. Mas a verdade é que isto deve ter contribuído como um agente dissuassor, porque passei meses sem que se acendesse em mim a chispa necessária para começar a ver. Achei que ia ser mais do mesmo, e confesso que já não tinha muita pachorra para zombies e vampiros. E, obviamente, ou seria um ou seria outro. Achava eu. Um dia, lá comecei a ver e impressionei-me imenso com o genérico. Diga-se de passagem rápida que estes estão cada vez melhores e que as últimas obras de arte que eu vi foram genéricos de televisão. Velas Negras, Sense 8, Game of Thrones, este Penny Dreadful, Sleepy Hollow... Este não é propriamente bonito... eu diria que é, sei lá, denso... denso é uma palavra apropriada... A série começou com um previsível Jack o Estripador, o que me fez levantar uma sobrancelha com algum enfado, mas uma farpa de realidade acertou-me logo que as duas prostitutas comentaram o destino da ex-colega. Logo a seguir apareceu o vampiro, o que quase me fez levantar da cadeira e ir embora. Só não o fiz porque estava no sofá. Mas logo acalmei, porque era um vampiro feio, velho e enrugado, tipo Bela Lugosi mas careca e nu. Tinha zero de glamour, mas metia bués de medo. Fui assim mergulhando numa mistura de realismo com romantismo, ou talvez vice-versa, em que os inevitáveis clichés vitorianos desfilam mas com atitudes e novidades nunca antes por mim imaginadas, sequer, que fará observadas. Tipo, estava lá o Frankenstein, mas desta vez criou uma criatura sensível, inteligente e não extremamente feia, ao ponto de começar a interagir com a dita (criatura). E quando tudo estava a correr bem, quando achavamos que tinham destruído um cliché e que a famosíssima criação de frankenstein era afinal um gajo fixe, eis que aparece a verdadeira e primeira criação de Frankenstein, que afinal não é um gajo fixe e que mata a sua segunda versão, cumprindo assim o cliché. E a seguir aparece o Dorian Gray, absolutamente perturbador, a fazer aquilo que o Oscar Wilde não teve coragem para pôr no livro e, muito provavelmente, indo ainda mais além. Este Dorian Grey bebia absinto às goladas, ouvia música eruditamente, fazia sexo com prostitutas infectadas com tuberculose para, e penso que foi ele que se referiu a este acto nestes termos, foder a morte, apostava em quantas ratazanas é que um cão de uma qualquer raça inglesa famosa matava em 60 segundos, e por aí fora... e ainda teve tempo para possuir sexualmente um americano que é o homem de acção do grupo e que só percebemos qual o seu verdadeiro enquadramento quando, no últimos episódio, se transforma naquilo que viria a ser o primeiro  lobisomem americano em Londres. Mas muito mais acontece, nesta série que, pouco a pouco e sem qualquer subtileza, vai escalando sempre até ao ponto de perder completamente as estribeiras, mas conseguindo sempre manter-se séria... a série... a sério...

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