3.9.14

65 - upside down

 
Upside down
Algures, no tempo e no espaço, existem dois mundos, exactamente um por cima do outro, como se fossem cada um deles o reflexo do outro, embora uma espécie de reflexo simétrico.Tipo, o mundo de cima é rico e o de baixo é pobre. Estão unidos por um único prédio, que é a sede de uma grande corporação que monopoliza a ciência e o que de resto se passava entre os dois mundos. A simetria reflectia-se também na gravidade. Os de cima eram atraídos pela força gravitacional do planeta de cima e o de baixo eram atraídos pela força gravitacional do de baixo. Ambos partilhavam o mesmo céu e a distância entre os dois planetas não era muita, uma vez que partilhavam entre os dois, para além do prédio cilíndrico que já referi, o café dos dois mundos, um imenso palco de dança em que só se ouve e dança tango e em que os de cima dançam no seu chão, que é o tecto dos de baixo enquanto que os de baixo dançam no tecto dos de cima, que é o seu chão. A segunda lei fundamental é que a matéria de um mundo é matéria negativa do outro, tipo anti-matéria, digo eu, e que cada anti-matéria só se aguenta no outro planeta cerca de uma hora, após a qual incendeia. Adam e Eden (porque não Eve?) são dois jovens que se encontram no monte mais alto de cada um dos mundos e que iniciam um romance, em que ele a puxa para baixo (sendo que para ela é para cima) e a deita no telhado de uma gruta, para ela não desatar a voar. Faz sentido: quando se gosta mesmo de quem se está a beijar está-se sempre com medo que essa pessoa nos fuja dos braços e desate a voar sabe-se lá para onde. Um dia, e porque o contacto entre mundos era estritamente proibido, os polícias de baixo perseguiram Adam e Eden (porque não Eve?) e acertaram um tiro na corda em que ele a fazia descer para o mundo do cime, partindo-a e fazendo com que ela caísse aí uns 20 metros em direcção ao seu chão, tecto dele. A cena acabou com ela a deitar sangue na neve, mas eu avanço já a dizer que ela sobreviveu, apenas perdendo a memória de tudo o que tinha acontecido até esse momento. O Paraíso esqueceu-se de Adão, o que é tão ironicamente amargo quanto verdadeiro... E Adam segui em frente no mundo debaixo, desenvolvendo um creme miraculoso que faz rejuvenescer as pessoas, sendo no entanto que no fundo este creme é apenas um disfarce para um produto que anula os efeitos das gravidades dos dois mundos, ou melhor, que permite viver entre os dois mundos sem passar a vida de cabeça para baixo. A parte do creme de beleza foi apenas para obter uma bolsa do mundo de cima, que era quem tinha o dinheiro e, consequentemente, quem se poderia dar ao luxo de se preocupar com coisas efêmeras como o rejuvenescimento. Os de baixo, coitados, viviam tão mal que só a perspectiva de terem que viver mais que o que era suposto aterrorizava-os completamente. Adam não tardou a encontrar Eden, que de facto não se lembrava nada dele e estranhou as suas interacções, quer por causa do que ele dizia e da maneira como ele a olhava, quer devido ao seu comportamento, como direi, físico durante os seus encontros. porque convém não esquecer que a posição natural dele era de cabeça para baixo relativamente a ela e a tendência natural dele era desatar a voar pelo céu fora. Para poder interagir com ela, ele tinha que se forrar com pedaços de metal e pôr umas solas de metal nos sapatos, e convém não esquecer que para ele, esse metal era anti-matéria, e que incendiava ao fim de uma hora. O  que o transformava numa espécie de Cinderela horária e que o obrigou a fugas absolutamente espectaculares. num dos encontros, depois de ela finalmente o ter recordado, foram novamente apanhados perseguidos pela polícia, que os obrigou novamente a separarem-se, embora desta vez sem separação. No fim, tudo acabou em bem. Com a ajuda de Bruce (que fazia de rato no Harry Potter) acabou de desenvolver o produto e depois... não percebi. Parece que Eden afinal tinha engravidado e que graças a isso estava também livre do efeito da gravidade dupla. E que iam ser gémeos. Sinceramente já não me lembro como é que isso resolveu a situação política dos dois, mas também não interessa. Porque o objectivo não é contar o filme. é apenas escrever que chegue para quando ler isto outra vez saber o que senti quando o vi. Poderia acabar centrando-me nos aspectos sentimentais e na invencibilidade do amor verdadeiro, mas embora presente e bem presente neste filme, não é essa situação que torna este filme especial. Há dezenas de filmes em que este sentimento é igualmente em retratado e em que estas emoções são bem acarinhadas e descritas. O que torna este filme brutal é o facto de fazer coexistir dois mundos em que as pessoas andam a fazer o pino umas em relação às outras. Este filme é um prodígio de inteligência prática.


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