3.9.14

66 - the grand budapest hotel













Estou aqui perante um dilema. Sempre fui, e ainda sou, um anti-autor. Ou seja, sempre me estive nas tintas para quem faz, quem escreve, quem toca, quem canta e quem realiza. Esta minha desvalorização é ainda mais forte perante casos de direcção intelectual, ou artística. Ignoro e desvalorizo completamente encenadores, realizadores e maestros. Consigo respeitar os intérpretes, embora os olhe como instrumentos ao serviço do belo, objectos que estão (porque são de facto necessários) entre mim e  a minha satisfação intelectual, artística e estética. Ou seja, ainda consigo ter alguma consideração por músicos, escritores, actores e, talvez, fotógrafos. Mas fico por aí. Aos outros, já referidos, detesto-os. Encenadores, para mim, são pessoas que fazem cenas, são a maioria das mulheres. As pessoas que trabalham agitando varinhas são mágicos, e penso que não existem e quanto aos realizadores... O que é que eles fazem, afinal ? Transformam um livro num filme? Isso não são os guionistas ? Ensinam aos actores como representar ? Isso não são os encenadores ? Dirigem todo o sistema de produção? Isso não são os produtores? Enfim... O que caraças fazem eles ? E se formos ver os exemplos... Spielberg ? Não é o Harrison Ford que fez tudo ? Kubrik ? 50 anos e apenas 5 filmes ? Manuel de Oliveira ? 70 anos de filmes sem história ? Woody Allen ? 30 filmes todos iguais ? George Lucas ? desenhos animados ? E por aí fora... Mas depois aparecem casos que não consigo classificar e que contrariam as minhas certezas todas...      Como, por exemplo, Wes Anderson. E aqui, confesso, deixo de ter todas estas certezas... Vamos reflectir com calma. Tennenbaums? Achei brutal, a Guineth Paltrow sem um dedo, os fatos de treino adidas, enfim, não tenho palavras para definir o quanto gostei deste filme. Fixe, mas agora descreve-o. Pois, não consigo. Qual era a história ? Não sei, e suspeito que não tem. Life aquatic? Iá, é aquele que tem as músicas do Bowie cantadas  pelo Seu Jorge ou do Seu Jorge cantadas pelo bowie. Era mesmo fixe, mas também não me lembro da história e, pensando à distância, suspeito que não tem nenhuma a não ser a busca pelo tubarão jaguar e qualquer coisa sobre os chapéus à Cousteau. Rushmore ? Brutal. História ? Não me lembro. Qualquer coisa sobre um miúdo que exagerava nas actividades extra-curriculares. Moonrise Kingdom ? Líndissimo. História ? Não sei, dois escoteiros que fugiram de casa, não era ? E depois. Depois, nada... Darjeeling Limited ? Lembro-me que quando acabei de o ver fiquei com um sorriso estúpido na cara (no Life Aquatic também, por razões muito mais marcantes, que infelizmente pertencem ao passado), mas pensando bem, não há nada de que me lembre na história... Tipo eram três irmãos que iam num comboio e... mais nada... Mas então, e todo o meu paleio sobre a prevalência da história sobre as interpretações, do conteúdo sobre a forma ? Pois, pelos vistos são tretas.. Sempre que vejo um filme do Wes Anderson fico contente, porque vivo uma exteriência muito bonita. Não são filmes, são sucessões de fotografias lindíssimas. Não são interpretações, são diálogos inteligentíssimos que não conduzem a lado nenhum que não fazem, no seu conjunto, nenhum sentido.  São emoções simples que consolidam em nós sentimentos e emoções complicados. são... não sei o que são. E este filme ? Em termos pragmáticos, é acerca de um, chamemos-lhe assim, mordomo de um hotel que herdou uma pintura e que treinou um lobby boy, o que quer que isso seja. E que mais consigo dizer sobre o filme e a sua história? Nada. é o vazio total. E então ? Então, adorei...


1 comentário:

Para a Posteridade e mais Além disse...

Pedro barros Porto? num tens curso duma engenharia qualqué non?

a cara parece-me familiar mas isse acontece com todas...

estrada da circunvalação? nahhh coin cedence de certezinha