31.8.07

13 - A bruxa de Oz


Gregory Macguire
Sempre gostei de livros de cfapa preta. Parece que há uma espécie de pacto só para entendidos que nos diz que se o livro não mostra nada na capa então é porque vale a pena. Costuma valer e, neste caso. Valeu. A bruxa de Oz (gosto mais do título em inglês, wicked) conta a história da bruxa de Oz e só aí temos logo a grande qualidade de não estarmos a ser enganados. Para os mais esquecidos, quando Dorothy, essa Alice alternativa e bastante mais controversa, aterrou em Oz, cavalgando um tornado vindo do Kansas, aterrou em cima da bruxa do leste, esmagando-a, matando-a e ficando-lhe com os sapatos. Aparte: sapatos de rubi, vermelhos... Será que só eu é que vislumbro o fetiche? Porque eram, e sempre serão, claramente fetichistas, o raio dos sapatos, sendo um símbolo algo visível da profunda, chamemos-he assim, originalidade, do criador do mundo de Oz. Enfim, adiante. O feiticeiro de Oz é um daqueles filmes de que sempre tive a impressão de que tinham qualquer coisa para esclarecer quando fosse grande. Ainda não esclareci, mas ficaram-me algumas imagens fortes na cabeça e a sensação de que devia haver algo que valia a pena nesta história toda. Assim, quando comecei a ler o livro, além da capa preta não tinha mais nada a que me agarrar. Este estado de espírito durou 2 páginas. Ao fim delas, deparei-me com toda a gente a fazer análises profundas ao caracter da bruxa. Da bruxa do oeste, irmã da esmagada. Nasceu hermafrodita, dizia o leão medroso; não, é lésbica, dizia o homem de lata; tem carências sentimentais profundas, dizia o espantalho; não percebo nada, dizia Dorothy. E tudo isto a bruxa ouvia em cima de uma árvore, incrédula, enquanto tentava ver os olhos de Dorothy. Mas afinal quem era a bruxa?
A bruxa era Elphaba, gostei logo do nome, filha de um pastor da religião dominante em Oz e da herdeira de um dos principais cargos políticos do superpolitizado reino de Oz. Elphaba nasceu verde e com uns dentes bastante afiados, situação que causava sérios problemas à sua envolvente humana. Era ainda super-sisuda e detestava +água. . A vida por aqueles lados não era lá muito animada, tanto qe quando lá chegou um soprador de vidro tornou-se logo pai da irmã de Elphaba, Nessarose, a bruxa do leste, dona dos sapatos... Nessarose, Nessie, tinha toda a beleza da Vénus de Milo. Tanto nas feições como na ausência de braços. Infância à frente, ei-las que vão para a faculdade, onde emparelham com diversos extractos sociais de Oz, supostamente original. Não é lá muito. Estão lá os tipos tradicionais, se procurarmos bem, o homossexual, a fútil, a rebelde, o rico e o trabalhador. Também aqui, o homossexual é o que é representado como sendo o mais interessante humanamente. Mais um ponto par o lobby gay. A terra doe Oz tinha algumas particularidades interessantes das quais nunca me tinha apercebido e que decerto encerram metáforas poderosíssimas, das quais apenas arranhei a superfície. Uma delas são os Animais, com letra grande, inteligentes, conscientes, humanos em tudo menos no não quererem dominar os restantes seres vivos. Não percebi, no entanto, qual a sua posição no que diz respeito aos animais, sem maiúscula. O maior exemplo dos Animais é o professor Dillimond, um bode irascível e professor universitário que nunca se calava até que um dia morto pelo robot da directora da faculdade. O meu Animal preferido era uma Vaca que era claramente socrática, ou seja, só sabia que acabaria por acabar na mesa de alguém. Outro aspecto interessante em Oz é o governo, bastante complicado, com princesas mártires caídas em desgraça e à espera de redenção e um feiticeiro regente que desceu de um balão. A parte religiosa é também interessante e com pano para mangas embora na minha opinião criar novas religiões pode ser muito doevrtido, mas é igualmente pouco produtivo. Enfim... Este livro deixa-me bastante dividido. Por um lado, tem sem dúvida todo um conjunto de idéias e situações bastante originais. Por outo lado, parece que todas essas ideias estão um pouco desligadas entre si e não são suficientemente enquadrados no ambiente geral, que é o que deveria criar a textura contínua do livro. Este pode ser um daqueles casos raros em que a sequela que inevitavelmente virá complete o livro, em vez de o estragar. De qualquer forma, gostei. Bastante.

9.5.07

12. o psicopata americano


Brett Easton Ellis
Factos recentes fizeram-me vir à memória livros passados. Além disso, precisava de mudar o registo, deixar-me de conspirações mitico-históricas e universos alternativos fantásticos. Senti que precisava de uma injecção de realidade, vai daí lembrei-me de um livro que, felizmente, de real não tem nada. Como não estava com o computador à frente (graças a Deus ainda se vai tendo alguns momentos desses) resolvi tirar umas notas num caderno, como fazem os escritores. A vaidade daquele momento com certeza que iria compensar a humilhação de quando o escritor virasse dactilógrafa e tivesse que dactilografar tudo outra vez. Justiça poética. Para não passar essa humilhação, perdi a folha onde tinha as notas. Além de lá estar todas as boas ideias que resultaram da leitura do livro, ainda tem a agravante de alguém poder achar a folha e lê-la, coisa que não estava nos planos. Porque aqui, como é óbvio, ninguém lê... Brett Easton Ellis é um daqueles escritores que esteve na moda, porque tinha livros dificeis onde transparecia alguma inteligência, porque era uma pessoa dificil e peculiar e porque era um gajo in. E tanto mais na moda estava quanto piores eram os seus livros. Acho que os fui lendo todos, ou quase todos, também não eram muitos e como tinham algum sexo, ia-se lendo... Menos que zero, as regras de atracção, e Glamorama (acho que este foi depois)... Todos maus. Muito maus. Mas, quanto a mim, ele tinha uma qualidade. Escrevia sobre nada mas, dava a sensação de que tinha algo a dizer, que talvez nos dissesse na próxima página ou que, caso não nos dissesse, era porque não éramos suficientemente in ou cool para o saber.
Um dia, na altura quando ainda havia tempo para visitar e namorar pormenorizadamente a feira do livro no palácio, após namorar indefinidamente o livro, decidi comprá-lo. Dois contos. E a chamar-me interiormente estúpido por estar a comprar uma coisa que tinha quase a certeza que não prestava. Enganei-me. Prestava, e bastante. O psicopata americano contava a história de um yuppie, raça felizmente agora extinta, que navegava por Manhatan a fazer todas as coisas estúpidas que os yuppies na altura faziam, a saber, ganhar dinheiro fazendo quase nada, comprar roupa e mobiliário minimalista finlandês, ir a festas e trocar os nomes de todas as pessoas que conhecia. E falar sobre roupa. Meu Deus. Como ele falava sobre roupa. Não se calava. Que seca, pensava eu. Mas ao mesmo tempo, intencionalmente ou não, Patrick Bateman, o psicopata, reflectia na perfeição o vazio que toda aquela gente e aquele meio representavam. Era banal, oco e vazio, e e suscitava uma profunda antipatia. Nada de interesse, portanto. Até que se começa a revelar. Maltrata mendigos, aluga prostitutas, que depois de sexo espanca metodicamente, droga-se, bebe e começa a matar. E é aqui que me comecei a preocupar, ao constatar que lia com interesse o relato dos seus actos, que me apercebia da sua profunda indiferença acerca dos actos que cometia, da violência que praticava. Enquanto que, objectivamente, todos os meus instintos berravam contra o chorrilho de atrocidades que ele praticava, não conseguia deixar de constatar que toda aquela violência me causava de facto algum interesse. Embora me chocasse tudo o que estava a ler, lia cada vez mais depressa e horrorizava-me com o interesse doentio que tudo aquilo suscitava em mim. Seria só a mim, interrogava-me? Achei que não deixava de ser uma pessoa normal, de Ter os sentimentos direccionados na direcção certa. Mas cheguei à conclusão que a violência exerce de facto um fascínio muito especial em toda a gente. Aquela indiferença gélida perante a morte e a tortura, a meticulosidade posta em cada um dos seus actos, a facilidade com que voltava à sua vida normal depois de cada acesso de loucura dava que pensar. Parecia quase normal, que depois das atrocidades, tudo voltasse a ser como dantes. Felizmente o livro acabou por acabar, e depois de analisar friamente todos os sentimentos que por mim passaram, apenas cheguei à conclusão que a violência, se cuidadosamente servida, acaba por ser aceite como normal. Era só um livro, mas algo estava decididamente mal se o tínhamos conseguido ler até ao fim sem o deitar fora a meio. Acho que o problema acaba por ser esse. A incapacidade que se sente em rejeitar à priori coisas profundamente más. Tolerar a violência sem dizer logo instantaneamente que este livro é uma porcaria que só transmite coisas más. E enquanto as pessoas normais conseguem atravessar experiências desse tipo sem se deixar influenciar, não resulta muito difícil compreender que, para outro tipo de pessoas, toda esta violência pode chegar a tornar-se uma coisa normal. E que percam a noção das fronteiras, que confundam aquilo que deveria ser apenas um livro ou um filme com a vida real. Como os soldados americanos quasi adolescentes que, na guerra do golfo, saiam dos tanques com a música dos seus fones no máximo e desatavam a matar qualquer iraquiano que lhes aparecesse à frente. Era como se fosse um jogo de computador. Game over e siga o baile. Era apenas normal. O problema, é que não é normal. O problema é que eles já não conseguem ver que não é normal. E depois as desgraças acontecem, no meio daquilo que todos nós entendemos como civilização. E o livro? É bom ou mau? Não sei...

28.3.07

11. a morte de rimbaud



Leandro Konder.
Rimbaud é, para mim, uma boa lembrança da juventude. O meu professor de filosofia do 11º ano, louco, que dava livros aos alunos que tiravam a melhor nota em cada um dos testes, ofereceu o único poema que Rimbaud escreveu a um dos meus colegas da altura. Que, embora inteligente e razoavelmente abstracto, não teve o melhor teste, que era invariavelmente o meu. Também tive os meus livros de prémio, mas nenhum como o que o meu amigo recebeu. Chamava-se, em tradução livre, "uma cerveja no inferno" de Rimbaud e eu não descansei enquanto ele não me veio parar à mão. Ainda o tenho. O exemplar do meu amigo. E hoje, muito tempo depois, mesmo sabendo que aquelas frases tipo "dancei nas margens da loucura e ri-me na sua cara" e "sepulto os mortos na barriga" não querem dizer nada e nem sequer alucinações genuínas de um poeta bêbado eram, ainda me arrepia o estômago da emoção que senti ao lê-las, e relê-las à exaustão. Cruzes. Pareço um amigo meu que agora anda com a mania de descrever o que sentia quando, há bastantes mais anos do que ele gosta de admitir, ouvia os seus cd’s, alguns de gosto duvidoso. Quando se tem 17 anos e se está a começar a ganhar o sentido do abstracto, a sensação de ler um livro daqueles é completamente única, e deixa lembranças positivas nos 19 anos seguintes. Vai daí, quando estou no supermercado (que horror, ele não compra os livros nas livrarias queques) e dou de caras com algo que diz "a morte de rimbaud" superentusiasmo-me instantaneamente e pumba. Comprei o livro mesmo sem ler o resumo ridículo da contra-capa. Mais calmo, em casa, apercebi-me imediatamente que era uma qualquer apropriação do nome do poeta, para um qualquer escritor duvidoso tentar vender uns livritos. Depois de investigar, soube que o dito escritor só tinha escrito dois livros, o que me fez ganhar logo bastante respeito por ele. Admiro pessoas pragmáticas, que escrevem aquilo que têm dentro e depois param, sem nos estar a entupir com livros fracos de 2 em 2 anos. Vai daí... li. E, surpresa, o gajo era brasileiro. Logo na 17ª linha aparece o primeiro palavrão impronunciável que os brasileiros usam constantemente no seu vocabulário. Guariroba. Previ o pior. Aconteceu o melhor. Era uma vez um detective chamado Sdruws (gosto de sentidos de humor surrealistas) que chegou a um hotel e foi recebido por um gerente chamado Saint-Ex, que trabalha para um milionário chamado Bergotte (estamos no Brasil. Semanticamente, tudo é possível). Bergotte é um milionário que comprou 5 escritores contemporâneos, pagou-lhes um salário mensal, batizou-os de Rimbaud, Rousseau, Malraux, Aragon (confesso que este não conheço) e Claudel e pô-los a escrever, penso eu de que, um livro. Rimbaud, de seu nome Severino Cavlcante, membro fanático de uma academia de musculação onde era conhecido como Rambo (estamos no Brasil. Rambo passa a Rimbaud, desde que quem ponha a altura seja um literato, Rimbaud, dizia eu, morre, caido de uma varanda. Sduws Investiga e os suspeitos são os outros 4 escritores. A partir daqui, passamos à história em discurso indirecto, em que cada um dos personagens conta a conversa que acabou de Ter com Sdruws, cada um à sua maneira, mas todos num brasileiro que, quando bem escrito e no tom certo, se torna a língua mais coloquial e engraçada das poucas que eu consigo ler no original. Mas não me cheira que o sueco ou o malaio sejam mais engraçadas. Sou um defensor da nossa língua, do português. Acho que para transmitir sentimentos e para esvrever com seriedade é a língua mais bonita do mundo. Mas, aceito que um país que tem 200 ou 300 milhões de habitantes queira Ter a sua língua. Por isso, deixem-nos escrever como quiserem, desde que não tenhamos que gramar com as suas manias. E. além disso, o brasileiro, neste registo semi-humorístico e informal, é imbatível e de chorar a rir, que foi o que eu fiz quando ninguém esta a olhar. No meio de citações de Kafka, Borges, Marx e Fernando Pessoa, o gajo consegue descrever-nos cada pormenor tortuoso da mente de cada um dos personagens, sempre de uma maneira super engraçada. Gostei do Rousseau, tão arrogante que nos faz sorrir. Ao convidar Sdruws para un jantar no restaurante japonês, ao perceber que Sdruws não sabia como se comportar e o observava e imitava em tudo o que fazia, pegou no jarro do leite e derramou um pouco no pires. Sdruws imitou-o. Rousseau pegou então no pires e pô-lo no chão, dando o leite ao gato... E logo a seguir pregou-lhe um sermão sobre o erro de deixarmos que as culturas ibéricas no sinfluenciam demasiadamente em detrimento das eslavas...

20.3.07

10. eleanor rigby



Douglas Coupland.
Este é um daqueles livros sobre os quais não vale a pena escrever nada. Não tem história. Não tem grandes descrições. Não tem ideias. Não tem figuras de estilo. Não é em verso. O que é que sobra para se poder falar? Nada. Pois… Não é assim. Este livro transmite sensações. E boas. De calma, tranquilidade, resignação, tristeza e de alguma beleza, embora não consiga localizar nenhuma destas coisas em nenhuma daquelas páginas. A história inexistente é mais ou menos assim; uma turma de finalistas de liceu americanos vem à Europa, onde uma das raparigas conhece um austríaco numa festa e depois dele engravida, voltando depois para casa para ocultar a gravidez aos pais. É uma rapariga algo estranha, cujo hobby é visitar a casa das pessoas quando elas não lá estão, sem mexer em nada, só para sentir outros ambientes. Parêntesis. Também me imagino a fazer isso. Essa rapariga ficou bastante traumatizada porque um dia descobriu um corpo de homem vestido de mulher e cortado ao meio, na linha de comboio. Estava morto. Mas marcou-a. Como dizia o William Burroughs, no naked lunch, "wouldn´t you?". A criança nasce e é imediatamente entregue para adopção. E, por muito dilacerante que tenha sido, a vida continuou e ei-la que se tornou, 20 anos depois, numa analista informática de sucesso, emancipada, com casa própria mas sem mais ninguém lá dentro. Só os filmes do blokbuster. Um dia, um rapaz encantador surge-lhe ao caminho e diz-lhe: " Olá, Sou teu filho. Tenho pouco tempo de vida e gostaria de o passar contigo. Sem culpas. Sem remorso. Pode ser? Pôde ser. E durante esses meses, transformados em 30m páginas do mais terrivelmente triste e bonito que já li, a relação entre mãe e filho estabelece-se com uma intensidade tal que não me parece que alguma vez tenha coragem para a ler outra vez. Ando um bocado sensível. E depois, o filho morre. Depois de contar a vida difícil que teve, de casa de acolhimento em casa de acolhimento, depois de trabalhar numa loja de camas, depois de , em meses, estabelecer daqueles laços que demoram anos a criar e vidas a desatar, depois de nos cativar tanto que até dói, o filho morre. E então, eu deixo de ler o livro. Não quero ler mais. Apenas mais alguns pormenores. Ainda antes de morrer, ao contar a sua vida durante a sua juventude, deixou escapar uma frase que me fez fazer o que sempre detestei nos textos sobre livros: citá-la.
""… its after midnight and there´s nothing on tv, so you´re in your room wishing there was a song able to describe your life on the radio, and you´re cursing the aurora borealis for interfeering with the radio waves."
Provavelmente esta frase não tem nada de especial. É natural que não provoque nenhuma sensação em mais nenhuma pessoa. A mim, acertou-me em cheio, de tão bonita que a achei. Apenas mais um pormenor. Eleanor Rigby não era o nome da rapariga. Era o nome de uma canção dos Beatles. E o endereço electrónico dela. Gosto de sentidos de humor sinuosos.

19.3.07

9. jonathan strange e o sr. norrel




Susanna Clarke.
Estamos em inglaterra, onde existe uma sociedade mágica de magos não praticantes, ou seja, teóricos, que discutem, parametrizam e legislam sobre algo que não fazem, tradição que começou nessa altura e se prolonga até aos nossos dias no que diz respeito às actuais elites. Um dia, um homem pequenos e que já passou a meia didade há algum tempo é convencido a mostrar a sua magia à dita sociedade, coisa que se mostra relutante em fazer. Só o faz com uma condição: se conseguir provar a sua magia, a sociedade mágica tem que dissolver... Blurp... foi um instantinho. O homem chamava-se Sr. Norrel. Paralelamente, havia um outro homem, este jovem, que era também um estudioso de magia. Mas não se considerava um mágico. Talvez por isso, o Sr. Norrel aceitou recebê-lo e ensiná-lo. Juntos, trabalhando para o governo, haveriam de fazer com que a Inglaterra voltasse a ser um país mágico novamente. Porque já o havia sido: entre 1100 e 1400, a Inglaterra (ou o norte desta) havia sido governada por John Uskglass, um homem, mágico evidentemente, que havia sido raptado pelos elfos enquanto criança e por eles criado até se tornar adulto e se libertar. John Uskglass era também conhecido pelo Rei Corvo, e a sua história daria (e cheira-me que dará) outro livro. Não se deixem enganar... Não é mais uma história em que os elfos são criaturas belas, loiras, inatingiveis, perfeitas e imortais. A estes, entre muitas outras coisas, falta-lhes o t. São imorais. Era mais ou menos lógico que alguém se iria fartar dos elfos serem sempre as criaturas perfeitas e boas. Foi aqui... São maus, frios, egoístas, não muito bonitos e respiram decadência em tudo o que fazem. Vivem numa espécie de mundo paralelo e quando de lá saem ou quando alguém lá entra é certinho que dará asneira. Voltemos então aos nossos dois mágicos, incumbidos pelo governo de se tornaram os primeiros zero-zeros do país. Estamos em plena guerras napoleónicas,e, como sempre, têm que ser os ingleses a tentar impedir que um qualquer indivíduo "vertically chalenged" tome conta da europa. Jonathan Strange e o sr Norrel trabalham arduamente para que a inglaterra ganhe a guerra, fazendo coisas super engenhosas. Um dia construiram uma frota inteira de navos com neblina e vapor d eágua, colocando essa frota a cercar uma qualquer cidade durante vários dias, até que veoio vento e a desfez. Mas durante esse tempo a frota verdadeira teve tempo de chegar. Outra vez, depois de se Ter capturado um navio inimigo, enfeitiçaram a sereia de madeira que estava na proa (tipo o mini infante D. Henrique na proa do Sagres) de maneira que ela falasse. Depois, foi só passá-la aos militares, que a obrigaram a confessar sobre todos os portos, enseadas e rotas marítimas que os inimigos usava,«m. Entre muitos palavrões, pois a sereia era super mal-educada. Enfim... Jonathan strange foi o verdadeiro braço direito de Lord Wellington, por muitos considerado um dos grandes responsáveis pela manutenção das nacionalidades protuguesa e espanhola. Expliquemo-nos: Lord Wellington foi o principal responsável pala expulsão dos exércitos napoleónicos da península ibérica, derrotando o general Soult. Voltando ao livro, foi uma verdadeira lufada de ar fresco de novidade, originslidade, rigor e inteligência. Mas 700 páginas são 700 páginas, e o único que consegue manter o ritmo em 700 páginas é o Tolkien e o Umberto Eco. Vai daí, masi para o fim do livro começam as confusões, porque Jonathan Strange ressuscita uma mulher que estava semi-prisioneira dos elfos e blá blá blá elfos isto, elfos aquilo e, o que tinha sido a melhor qualidade do livro, o tratar a magia e os mágicos de uma forma normal, desaparece. Voltamos aos misticismos e aos esoterismos, para os quais a paciência já não é muita. Mesmo assim, trata-de um livro muitíssimo bom, escrito com inteligência pura e completamente diferente de tudo o que tinha lido até o ler. Foi um reencontro com um verdadeiro romance, que na minha definição, quer dizer boa história bem contada.

8.3.07

8. o caminho para marte


Eric Idle
Carlton é um andróide, modelo Bowie 4.5, que vive no futuro e que, talvez por trabalhar para dois comediantes, elegeu como objectivo da sua vida a escrita de um tratado sobre a comédia, senão mesmo sobre o riso, qual Henry Bergson, cujo livro nunca li mas cujo fantasma me assombrou, ano após ano nos escaparates da feira do livro, naquele sítio dos livros baratos que te sentes sempre tentado a comprar para depois nunca mais leres. Mas não é uma imitação daquela máquina andrógina, robot que parodia pessoa que parodia robot, chamada Ziggy Stardust, que tinha tanto de assustador que escreveu uma das músicas mais assustadoramente belas de todos os tempos, chamada space oddity e que parece que estava cheia de significados ocultos homossexuais (não sei quê, não sei quê, major Tom. pois...). Não, trata-se mesmo do "deus jovem branco e de cabelos de ouro, um dandi trágico, um cruzamento entre uma pívia e um sonho húmido". Carlton trabalha para dois comediantes, Alex e Lewis ou, se preferirmos, Muscroft e Ashby. Estes comediantes são perfeitamente catalogados no livro como o cara branca e o nariz encarnado, imagem muito feliz com que o autor nos consegue fazer entender instantaneamente as personalidades dos dois. Se calhar é porque não é uma imagem mas sim uma descrição factual do que os dois são. Mesmo assim, recapitulemos: O cara branca é o palhaço austero, alto e magro, que faz sempre a papel de sério e que tenta fazer o seu número, invariavelmente destruído pelo nariz encarnado, baixo, gordo, anárquico, que humilha sempre o outro enquanto lhe baixa as calças. Enfim, o gajo das tartes. Se calhar fazia-se aqui um paralelo interessante com a vida real. Ou melhor, um exercício de imaginação: quem são os gajos das tartes das nossas vidas? Aqueles que subvertem constantemente tudo o que os outros fazem, mascarando com humor um mega ressabiamento contra todos aqueles que, modestamente ou não, vão fazendo pela vida? Alex e Lewis são autores de vaudeville cómico, comediantes de serviço de um paquete de super luxo chamado Pincess Di que faz a ronda pela galáxia, ronda essa chamada o caminho para Marte. Depois disto, bem, é a confusão total, ou não tivesse este livro saído da cabeça de alguém que passou os anos 70, sim, 70, não foi engano, a derreter o cérebro com ácido. E por grande que seja a tentação de descrever a história do livro, sei perfeitamente que o indescritível não se descreve. Lê-se, apenas. Penso que agora, perto do fim, poderia dizer que o autor foi um dos Monthy Python. (...pausa para prestar o culto devoto dos culturalmente correctos...), mas isso para mim não tem significado, uma vez que não me encontro entre os seguidoras dessa religião. Apenas gosto deles, mas não escrevo tratados de devoção infinita ao seu talento. Por uma razão simples. Era tudo das drogas. Ninguém reparou que a partir do momento em que deixaram de se drogar acabou a criatividade. Ninguém acha estranho que em todas as profissões o apogeu venha com a experiência e que no mundo do espectáculo o apogeu venha no princípio? É a droga, é... Pois é. Acabo apenas com o verdadeiro herói deste livro, Carlton, sobre o qual estou eu a escrever o meu. E com o seu tratado: De Rerum Comoedia, um discurso sobro o humor. A comédia pode ser apreendida ou é um exclusivo do ser humano. Este é um livro muito bom e ainda por cima desconhecido.

6.3.07

7. o código da vinci


Dan Brown
Era inevitável termos que escrever umas palavras sobre o código da vinci, agora que o filme estreou e agora que já se começam a ouvir as primeiras críticas. Como sempre, tenho alguma legitimidade para falar. Li os filhos do Graal há 10 anos, o sangue de cristo e o santo graal há 8, o mistério dos templários há 6 e, a origem de tudo, o pêndulo de foucault há mais de 15. Isto não abona muito a favor da minha idade. Enfim… Para ser sincero, para mim, toda esta história do graal e do priorado do sião é apenas um subproduto do que verdadeiramente interessa, do que é verdadeiramente importante e historicamente provado: os cavaleiros templários. Mas aceito que para a maioria das pessoas o interesse principal seja outro. Assim sendo, recapitulemos: Jesus Cristo e Maria Madalena eram casados e tiveram filhos. Esses filhos constituíram uma linhagem de descendentes de Cristo e perpetuadores do sangue do rei David. O sangue dessa dinastia é o sangue real, que se escrevia sang real e que passou a santo graal. O priorado do Sião foi uma organização constituída para proteger esse sangue real. O braço armado do priorado do Sião eram os cavaleiros templários. O grão-mestre do priorado do Sião detinha o segredo do Graal, bem como o baú dos documentos com as provas todas. Entre outros, uma dos grão-mestres do priorado de Sião foi Leonardo da Vinci, que, espírito irrequieto que era, espalhou indícios sobre a existência do segredo em toda a sua obra. Que não foi pequena. No livro, o que acontece é que o último grão mestre do priorado é assassinado por um elemento incolor da Opus Dei. Nos últimos minutos antes de morrer, o grão-mestre moribundo lembra-se que ainda não transmitiu o segredo a ninguém, e por isso monta um enigma cuja solução é o objectivo do livro. Organizemo-nos, por ordem de importância. A trama do livro, ainda que eficaz e bem montada, não é importante. Não foi o escritor que a inventou e não acrescenta nada de novo nem nada que já não se soubesse (eu já sabia). A questão que se poderá por é que o escritor romanceou e democratizou essas idéias ditas heréticas. Não tenho nada contra. A democracia é o menos mau de todos os sistemas políticos. Um segundo nível de questões que o livro levanta são as questões religiosas propriamente ditas, e essas tem alguma relevância. É impossível que as pessoas não se sintam atraídas pela lado humano da maior figura da humanidade, passe o pleonasmo. Não é a mesma coisa que Jesus Cristo tenha tido família ou não. Não é indiferente que Jesus Cristo tenha amado alguma pessoa em particular ou não. Seria interessante saber que características particulares genéticas poderia ter uma linhagem proveniente de Jesus Cristo e de Maria Madalena. Além disso, todas estas questões foram convenientemente revestidas de mistério e de teoria da conspiração, tornando-as assim mais apelativas. É portanto legítimo que se mostre interesse por essas questões mais, chamemos-lhe assim, humanas. De qualquer forma, a parte mais importante do livro, quanto a mim, é aquela que não há dúvida nenhuma que é verdade. Expliquemo-nos: é evidente que ninguém pode saber se Jesus Cristo teve filhos ou não, ou se existiu mesmo o priorado de Sião, ou se Leonardo da Vinci, provavelmente o ser humano mais inteligente de todos os tempos, teriam tempo e paciência para brincar aos mistérios. O que não há dúvida nenhuma é que a história que hoje tomamos como verdadeira foi a que a ortodoxia da altura achou por bem. Ou seja, aquela parte em que o imperador romano Constantino negociou com os altos dignatários da igreja católica aquilo que viria a ser o catolicismo institucional, é quase de certeza verdade. Assim como de certeza que é verdade que foram os altos cargos da igreja católica de então que condicionaram o caminho que a esta religião iria tomar. Foram eles que seleccionaram os evangelhos "correctos" e as histórias que deveriam ser transcritas para a bíblia. E esta selecção não teve por base critérios de fé nem de salvação de almas. Estes critérios foram "técnico-económicos", e foram tais que permitiram que, desde então, grande parte da humanidade viva naquilo a que Michael Crichton tão bem definiu como estado de medo. Não é razoável que tanta gente acredite que está a professar uma religião de amor e que, simultaneamente, esteja sempre com medo de ir para o inferno. A igreja católica de então, aquela que traçou o rumo da cristandade pós Jesus Cristo era um negócio, uma empresa. E essa empresa eliminava os concorrentes que a punham em causa, tais como os Cátaros, os Templários, o Islão, etc e tal... Lembram-se das cruzadas? E da Inquisição? Não quer isto dizer que as coisas ainda sejam assim, e eu sinceramente não acho que sejam. Mas uma coisa é certa Se é provavelmente verdade que tudo isto que vem no Código da Vinci são histórias, não nos podemos conhecer que a versão da igreja católica também é apenas uma história. A diferença é que foi a história que venceu... E é disto que a igreja católica tem medo, de que as pessoas percebam que eles não sabem a verdade. Que todas as riquezas, todo o poder, todos os privilégios que ainda hoje têm, não traduzem nenhum conhecimento da verdadeira verdade do que o Cristianismo foi. Eles não sabem mais que nós...

3.3.07

6. os filhos do graal


Peter Berling.
Agora que vai voltar a estar na moda falar do Graal via código Da Vinci, que vai estrear daqui a uns dias, parece-me uma boa altura para lançar alguma erudição no assunto. Para que aqueles que queiram procurar as origens da história saibam uma dos sítios a que poderão ir. E esse sítio é um livro, escrito por um alemão que, surpresa, pelo menos para mim, era também actor e participou no Nome da Rosa. Um pequeno aparte, antes de começar: o livro é enorme e tem tantas páginas como as palavras de que eu disponho para o contar. Vai ser, por isso, uma versão bastante reduzida. Até porque, que se saiba, a história não tem fim. Tudo começa em Montségur, castelo e último reduto cátaro, situado na mais alta e inexpugnável montanha do Languedoc. Está cercada há já 10 meses porque o papa de então, Inocêncio 3, tinha lançado uma cruzada dentro da europa, uma cruzada contra a heresia cátara. Uma cruzada que tinha dois objectivos. Eliminar uma voz incomoda que denunciava as corrupções da igreja católica de então e ainda garantir para o reino da França vastos e férteis territórios que eram, até então, autónomos. Montségur estava então cercado pelas tropas papais e pelas do rei de França, as primeiras apenas empenhadas em que se queimassem todos os heréticos e os segundos, ainda que mais moderados, igualmente empenhados em que a heresia chegasse ao fim. Há já 10 meses que se encontravam naquele cerco, longe das suas casas e dos seus campos. A acompanhar o cerco encontravam-so os cavaleiros templários, que no entanto não tomavam partido nem participavam em acções de ataque ao castelo. O nosso cronista no meio deste cenário é um franciscano gordito que se chama Guilherme e que, no princípio da trama se preocupa mais com a mesa do que com a fé, que considera forte. Isso mudará. Na véspera da rendição dos cátaros, entretanto acordada contra a vontade do representante do papa, algo se muito estranho se vai passar. Num bosque na base da escarpa mais inacessível do castelo de Montségur, acontece uma cerimónia. A grand maitrésse do priorado do Sião, escoltada pelo braço armado deste, os cavaleiros templários, preparam-se para o resgate do tesouro mais precioso que existia em Montségur. Roç e Ieza, um rapaz e uma rapariga, primos entre si e em cujas veias corre o sangue real descendente de Jesus Cristo e de Maria Madalena. Eles são o Santo Graal, o énvólucro do sangue real, o produto final de várias gerações da evolução do sangue de Cristo. Os escolhidos para ir buscar as duas crianças ao castelo são Siegfred, comendador dos cavaleiros teutónicos e Constâncio, que poderemos definir como o supremo representante dos interesses do Islão. Trapalhão e intrometido, Guilherme consegue arranjar maneira de ser apanhado pela confusão e passa de monge alinhado com Roma a ama seca quasi herética e quasi imperial dos dois miudos, irritantemente tratados por infantes o livro todo. Incansável, contrariando assim a sua natureza monástica, Guilherme descobre então o Grande Plano, que é o que interessa, nesta história. E o grande plano é fazer com que os descendentes dos dois grandes profetas da antiguidade, Jesus cRisto e Maomé, cruzem o seu sangue, de maneira a criar uma linhagem pura, que governe o ocidente e o oriente unidos em paz, como é o seu destino. Do lado do ocidente, o sangue real é assegurado pelos dois infantes, que são o produto final do cruzamento entre o sangue de Jesus Cristo e uma certa nobreza do antigo Languedoc. Do lado do oriente, parece que a linhagem de maomé está também convenientemente preservada, e guardado pelos assassinos ismaelitas, os do velho da montanha, que reinava na inacessível fortaleza de Alamut. Para od distraídos, note-se o extraordinário paralelismo entre os Assassinos e os Cavaleiros Templários. Para os mais que distraídos, indica-se o óbvio. São as duas faces da mesma moeda. Não é à tua que se davam tão bem. Este grande plano tem inimigos, evidentemente. O maior, o monstro, a besta demoníaca, o pior de todos, o anticristo é, pasme-se, a própria igreja católica, que oi a primeira a renegar o verdaeiro Jesus Cristo e a criar uma versão alternativa que favorecia a ortodoxia do aparelho. E quem era o representante da igreja católica? O papa, tratado aqui do pior , inimigo do Homem, de Deus e do Imperador do Sacro Império Romano do Ocidente, Frederico II, o Staufer. Curiosidade: Quem havia de dizer, hoje o papa é alemão e João Paulo, seu aantecessor, era polaco.Roma já então, não era o que era dantes.

5. o amuleto de samarcanda


Jonathan Stroud
Nathaniel é um aprendiz de mago. Os magos apoderaram-se do governo da humanidade aproveitando-se dos seus conhecimentos para ascenderem aos cargos de poder, substituindo nessa posição os políticos. O negócio parecia ser bom para a humanidade em geral. Antes: quem mandava era uma classe inculta, desonesta, incompetente e sem qualquer formação específica ou conhecimento acrescentado que não estes enumerados. No presente, ou melhor, aquando da tomada do poder pelos magos: a humanidade passou a ser comandada por seres culturalmente superiores, com conhecimentos avançados de magia que poderiam ser usados para o bem e, acima de tudo, pessoas tendencialmente honestas. O que se poderia querer mais? O que poderia correr mal? Apenas uma coisa. Os magos tornaram-se políticos. Mas não é essa a história. A história são duas, diferentes e com dois pontos de vista. Diferentes. De um lado temos Nathaniel, aprendiz de mago cujo mestre é um mago não muito importante e não muito poderoso. Mas que não trata Nathaniel lá muito bem, e Nathaniel ressente-se disso, daí que tenha decidido aprender por conta própria, acabando por invocar um djini, espírito medianamente poderoso chamado Bartimaeus. Do outro lado temos então Bartimaeus, Djini com 3000 anos, que aconselhou Ptolomeu. Bartimaeus tem um sentido de humor fabuloso que se torna ainda mais fabuloso dado o facto de as suas narrativas serem executadas na primeira pessoa. Passemos agora a uma pequena explicação do mundo que os rodeia. Aquando da invocação, Nathaniel encontra-se na capital do império, que é Londres, pelo menos desde que Gladstone, o mago mais importante de todos os tempos, possuidor de terríveis poderes, cercou Praga (o outro polo de magia da Europa) e a destruiu. Bartimaeus estava lá, do lado dos checos. Desde essa altura, Londres é a capital do império. A américa é ainda uma colónia problemática e dos outros continentes não sabemos nada. O mundo em que vivemos está dividido em sete planos, os quais só estão todos acessíveis aos magos mais poderosos. Nesses planos vivem todas as criaturas mágicas. No primeiro planos, vivem apenas os humanos e os humanos só podem ver no 1º planos. No 2º, vivem já algumas criaturas mágicas menores, tais como diabretes ou foliots. Estes, no primeiro plano, ou são invisíveis (para os humanos) ou então têm formas absolutamente inocentes. O truque dos magos, a fonte do seu poder, não é serem mágicos. Nenhum humano é mágico. A fonte do seu poder é terem conseguido aperceber-se da existência das criaturas mágicas e terem conseguido obrigá-las a servi-los. Voltando aos planos, ao 7º e último só têm acesso os espíritos verdadeiramente poderosos. Todas as criaturas mágicas são metamorfas, querendo isto dizer que podem assumir a forma que quiserem. A razão pela qual os diabretes apenas se transformam em pombos não é por não terem poder para mais. É apenas porque não têm imaginação. A hierarquia é a seguinte, de baixo para cima: diabrete, foliot, djinn, afrits e marids. Bartmaeus é um djinn, super vaidoso e inteligente, cujo maior poder é as notas de rodapé que escreve. A sua forma preferida é a de Ptolomeu, de quem foi conselheiro e amigo. Passemos então à intriga, que é o que menos interessa. Nathaniel invoca Barthimaeus para que este roube um amuleto super mágico a um mago chamado Simon Lovelace, que o humilhou dois anos atrás. Nathaniel quer assim vingar-se, mas embora se tnha sído bem na invocação de Bartimaeus, obrigando este a obedecer-lhe, deixou que este descobrisso o seu nome, igualando assim o jogo de poder. Bartimaeus não tem escrúpulos em aproveitar a vantagem, arreliando Nathaniel até à exaustão, mas este é determinado e não liberta Bartimaeus do seu poder e da sua obrigação. Passa-se assim o livro todo num equilíbrio tão instável quanto engraçado. Bartimaeus rouba o amuleto e Simon Lovelace acaba por recuperá-lo, arrasando tudo à sua volta. Mas Nathaniel escapa e jura vingança, desta vez a sério. Parte, com Bartimaeus (contrariado) a seu lado e vai descobrir qual o plano de Simon Lovelace. Que é, como não poderia deixar de ser, matar o primeiro ministro e tomar o seu lugar. Seca. Não me estou a lembar do nome do 1º ministro. Era importante. Deveraux. Qalquer coisa Deveraux. Durante a investigação, Nathaniel e Bartimaeus tornam-se amigos, mas seguindo a velha tradição britânica, nenhum deles diz isso ao outro, até porque não sabe que isso aconteceu. Temos tempo. É suposto que isto seja uma triologia, não se vai desperdiçar o melodrama logo a abrir. Assim sendo, lá descobriram eles que Gladstone vai dar uma festa para todo o governo na sua inevitável propriedade vitoriana no campo, qualquercoisashire, cheia de criados e mordomos. Durante a cerimónia, Gladstone utiliza o amuleto de Samarcanda para fazer um círculo mágico (os circulos mágicos são importantes, neste livro) e aprisionar dentre dela todos os membros do governo. De nada serviu a estes os seus guarda-costas mágicos. Todas as criaturas mágicas ficaram de fora do circulo. Execpto uma. Bartimaeus. Duas. Contando com o super marid que Gladstone invocou para limpar os membros do governo todos e assumir assim o poder. Quase o conseguiu. Quase. Porque Nathaniel e Bartimaeus... O livro, para cumprir a tradição, é muito bom. Melhor ainda. É super engraçado. E é um mau investimento. Lê-se em 2 dias.

1.3.07

4. freakonomics


Stephen D Levitt e Stephen J Dubner
No outro dia fui a Londres e entre as muitas coisas que vi ou que fui confrontado, a mais massacrante foi a publicidade a uma coisa qualquer esquisita chamada freakonomics, não sabendo eu na altura que raio é que aquilo era. Ainda por cima porque a publicidade era muita e bem feita, sendo basicamente constituída por aquilo que para mim é a verdadeira forma de arte nestes tempos tão, chamemos-lhe assim, rápidos que atravessamos: a frase curta. Descia eu uma escada rolante interminável e via escrito: sabes o que há de comum entre os professores primários e os lutadores de sumo? Divertido com a comparação, até porque um dos meus passatempos preferidos é imaginar as pessoas "vestidas" de lutadores de sumo, virava-me para trás na escada rolante para tentar ler a resposta, mas já não ia a tempo. Noutra escada rolante qualquer, havia outro cartaz a dizer: sabes porque é que os traficantes de droga vivem todos com a mãe? E, novamente, quando me virava para trás já não ia a tempo de ver a resposta… Já me estava a bulir com os nervos a situação, tanto que até poderá ter sido por isso que não achei piada nenhuma a uma exposição de cubos plásticos brancos empilhados uns sobre os outros na Tate Modern… Finalmente, pouco depois, se calhar ainda em Inglaterra, descobri que os cartazes só tinham a pergunta. Para saber a resposta tinha que se comprar um livro que se chamava, precisamente, freakonomics. Embora não goste de nada que acabe em "ics", gosto muito da palavra freak, por isso achei que poderia achar piada a ler o livro. Fui ais saldos do e-mule, peguei no papel de rascunho e pimba, arranjei que ler no metro durante 2 semanas. E o que descobri eu? Que o livro é uma colecção de crónicas dispersas, algumas pouco coerentes com as outras, mas em que as ditas perguntas "fracturantes" são o tema de cada uma das crónicas. Assim, das que tinham mais piada, temos:
O que é que os lutadores de sumo e os professores têm em comum?
Ambos fazem batota. Mesmo em ambientes em que supostamente a honra e a inocência são a imagem que mais transparece, se analisarmos a fundo os dados disponíveis, descobrimos inevitavelmente batotas. No caso dos professores, a batota era inflacionar as notas dos alunos e, consequentemente, a sua própria classificação. No caso dos gordinhos de fio dental, a idéia era que nunca ninguém perdesse em demasia, e maneira a manterem-se sempre mais ou menos os mesmos 200 lá na primeira divisão. Embora com algum sentido, isto trata-se do típico caso da publicidade enganosa. A resposta é muito menos interessante que a pergunta.
Porque é que os traficantes de droga vivem todos com as mães?Porque, por incrível que pareça, a maioria deles não tem dinheiro para casa própria. Abstraindo de considerações morais, o tráfico de droga é um negócio de estrutura piramidal como quialquer outro, em que apenas uma pequena percentagem das cúpulas é que ganham muito dinheiro. O grosso dos traficantes ganham pouquíssimo, de tal maneira que se considerarmos o risco inerente à profissão, faz-nos interrogar porque raio é que alguém se dispõe a traficar. E, quanto a mim, essa poderá ser a chave da luta contra a droga. Tipo: meu, para ganhares tão pouco mais vale fazeres outra merda qualquer em que não te habilites a levar uma bala nos cornos. Calão propositado.
O que tem em comum os vendedores imobiliários e a ku-klux-klan?São duas organizações que para funcionarem precisam de uma certa exclusividade em termos de informação e que foram praticamente desaturdias pela Internet. Concretizando: a partir do momento em que a Internet apareceu as pessoas começaram a circular informação em quantidades e com velocidades nunca antes vistas. Os compradores mandam mails aos vendedores, os vendedores postam fotos das casas evitando assim tantas visitas, enfim, a necessidade de intermediação diminuiu imenso. A razão de ser das imobiliárias passava pelo facto de serem os únicos que detinham toda a informação toda. Agora já não são. Relativamente à ku-klux-klan, a internet também quase que provocou o seu extermínio. Um belo dia, um jornalista conseguiu infiltrar-se e tornou mundialmente conhecidos várias situações que puseram completamente a ridícula a confraria dos lençóis. A saber, os nomes ridículos que chamavam uns aos outros, os apertos de mão secretos. A falta de coordenação entre as acções praticadas e, fundamentalmente, a falta de fundamento teórico ou de qualquer outro tipo para as parvoíces que faziam.
Para onde foram todos os criminosos?
Atendendo ao cenário do fim dos anos 70 e princípio dos anos 80, em que era só gangs juvenis e delinquência por todos os estados unidos, como raio é que, contrariando todas as previsões feitas pelos analistas e especialistas de então, a criminalidade desceu tipo 80%? Bem esta resposta é de longa a mais simples mas a mais polémica e provavelmente a mais certa de todo o livro. Esses criminosos, dizem eles, não nasceram. No início dos anos 80 foi liberalizado nos Estados Unidos o aborto, pelo que, evidentemente, milhares de mulheres que tinham gravidezes indesejadas passaram a abortar, podendo assim continuar com a sua vida curricular e aumentando muito as probabilidades de virem a ser alguém e de proporcionarem aos seus futuros filhos (desta vez desejados) educação e meios para uma vida honesta. Se tivessem levado até ao fim as primeiras gravidezes, essas crianças seriam monoparentais, pobres, sem escola, sem dinheiro e condenadas quase irremediavelmente a uma vida de privação ou de crime. E as gravidezes não ficariam por aí e as segundas e as terceiras sofreriam o mesmo destino. Enfim, esta deu que pensar.
O que podes fazer para ser um pai perfeito?
Nada. No momento em que te estás a fazer essa pergunta, já fizeste 80% de tudo o que poderias fazer pelos teus filhos. És branco, tens uma educação, cultura, um emprego, uma família estável, avós para os teus filhos, livros em casa, noção do bem e do mal, enfim, essas coisas todas. Posto isto, o resto é quase só ir gerindo, com base no bom senso. Geralmente, quando te interrogas sobre se hás-de ler determinado livro pedagógico, o momento certo para essa leitura era há um ano e meio atrás.
Ter um nome super afroamericano prejudica-te durante a tua vida?
Esta era tão fácil que nem li…

3. os reinos do norte


Philip Pullman
Lyra tem 11 anos e um génio. Não é um génio criativo, nem vem de uma lâmpada. É um génio vivo, que a acompamha sempre, que vai mudando de forma de acordo com as situações e que se chama Pantailamon. Logo aqui haveria muito que dizer. Não é só Lyra que tem um génio. Toda a gente tem. Toda a gente tem um ser vivo, consciente, que anda sempre ao seu lado, do qual não se consegue separar e com o qual tem comunicação directa ao coração. Tipo alma gêmea. Tipo alma. Lyra está escondida dentro de um armário com Pantailamon, na tentativa de ouvir a reunião que vai acontecer entre o conselho científico de uma daquelas universidades inglesas tipo Oxford e Lord Asrael seu tio, personagem aparentemente muito poderosa cujo génio é uma pantera branca com olhos verdes. Lord Asrael acabou de voltar de uma expedição dos reinos do norte, onde conseguiu uma fotografia do Pó, com letra grande. O Pó é, simplificando, a unidade fundamental do constituinte das almas. É o equivalente dos átomos do mundo físico. Ainda por cima é bonito. O pó é aquilo de que as auroras boreais são feitas. Portanto, a fotografia de Lord Asrael tem um impacto bastante grande, uma vez que pode ser a prova física da existência da alma. E também não cai bem nos meios mais conservadores. Estamos numa altura em que a ortodoxia impera. Desde que o papa Calvino mudara a sede do papado para Genebra e instituido o tribunal consistorial de disciplina, o poder da igreja sobre todos os aspectos da vida tornara-se absoluto. E a santa igreja ensinava que havia dois mundos, o mundo físico e o mundo espiritual, do céu e do inferno. Barnard e Strokes eram dois teólogos heeréticos que postulavam a existência de vários mundos semelhanets ao nosso, todos mundos materiais, perto de nós mas invisíveis e inalcançavéis. Mundos paralelos.
Fora deste ambiente académico e denso, temos na mesma um ambiente sério e denso. Ou não fosse esta história passada em Londres, onde o nevoeiro dá a densidade e o caracter taciturno dos ingleses dá a seriedade. Era portanto Londres, e estava nevoeiro. Uma Londres diferente, uma vez que era habitada e percorrida por pessoas e génios. Mas ainda assim, super dickensiana, cheia de becos escuros, casas degradadas e meninos pobres. Meninos pobres que, a partir de uma determinada altura, começaram a desaparecer, raptados por uma senhora muito bonita cujo génio era um macaco dourado com um olhar extremamente malicioso. Depois de raptados, os meninos são metidos numbarco e enviados para o norte, para onde entretanto Lord Asrael voltou e para onde tudo aponta, até as bussolas. Até que um dia, Roger, o melhor amigo de Lyra desaparece e ela é convocada para uma reunião no colégio, reunião em que aprece uma senhora muito bonita cujo génio é um macaco dourado. Lyra viaja com a Sra Coulter tornando-se sua assitente. Antes da viagem, o Mestre do colégio tinha-lhe dado um alteiómetro, uma espécie de astrolágbio que só diz a verdade, mas ao qual é muito dificil fazer as perguntas certas. Em poucos dias, Lyra apercebe-se da ligação entre a Sra Coulter e o desaparecimento das crianças. Lyra é esperta e põe-se a milhas. Foge com os ciganos, de barco, subindo o rio, rumo ao norte, numa expedição de salvamento das crianças perdidas. E também do seu tio Asrael, que entretanto tinha sido preso em Svalbard, terra dos ursos blindados, os meus personagens preferidos deste livro. Entre os ciganos, que mercem uma descrição mais pormenorizada noutra altura, noutro local, estava Farder Coram, um homem sábio que conta a Lyra muita coisa. Tipo que Lord Asrael é o seu pai e a Sra. Coulter a sua mãe. E que os dois estão envolvidas numa luta terrível de poder e não só.Dizia eu, que a expedição Lyra mais ciganos se dirigia ao norte. Mais especificamente, para a Lapónia. No cqaminho, param num porto qualquer, Bolvangar, onde Lyra recruta para a equipa Iorek Byrnison, rei deposto dos ursos blindados de Svalbard. Os ursos blindados são ursos polares, gigantes, com mais de 2 metros, inteligentes, orgulhosos, ferozes e que, como se não bastasse, ainda são especialistas na arte de trabalhar o metal. Vai daí, cada um deles está vestido com uma armadura quase invulnerável. Quase. Quase é uma palavra sem a qual o mundo não existia. Iorek tinha perdido a armadura. Lyra recupera-a ganhando assim a sua lealdade. E seguem viagem, sempre para norte. São atacados e quem vem em sua ajuda, não que os ciganos não se safassem sozinhos, principalmente com Iorek, mas enfim, vem em seu auxílio dizia eu, as feiticeiras. As feiticeiras vivem na fronteira (norte) entre o nosso mundo e sabe-se quais outros. Embora vivam centenas de anos, são jovens e lindissimas, principalmente a sua rainha, que se chama Serafina Pekkala. Voam em ramos de pinheiro e são muito independentes e algo imprevisivéis. Eventualmente, todos chegam ao destino e, entre muitas lutas com os tártaros, que são a guarda avançada do conselho da oblação, que é o braço armado da igreja, chegam ao confronto final. Lord Asrael, que entretanto lá se tinha instalado, constroi uma ponte entre mundos, com o objectivo de descobrir a origem do Pó. Lyra, filha do seu pai, atravessa-a. Este livro é muito, muito bom.

2. left behind


Tim Lahaye e Jerry B. Jenkins.
Hesitei imenso antes de embarcar na saga. Havia razões para tanta hesitação: 11 ou 12 volumes, 17 euros cada um, relativo pouco impacto em termos de opinião pública, um cheiro a evangelismo americano, enfim…Neste caso, a prudência perdeu. Ao fim ao cabo, havia bastantes ingredientes a favor, que poderiam ser todos resumidos em duas palavras: ficção apocalíptica. Sempre achei os apocalipses interessantes. Assim sendo, num momento de arrebatamento, enquanto experimentava a sensação inebriante de ter net no portátil, perdi a cabeça e encomendei os 4 primeiros volumes na amazon. Como nem sempre sou muito esperto, encomendei na amazon americana, de maneira que fiquei 3 semanas à espera. Enfim…
Lá comecei. E mal comecei, fiquei logo sem fôlego. Milhões de pessoas desaparecem de um momento para o outro, em todo o mundo, simultaneamente, deixando aviões sem pilotos, casas sem mães, quartéis de bombeiros vazios, escolas sem professores, hospitais sem enfermeiros e escolas sem crianças. Será que detecto um padrão? Logo a seguir, o enredo continua numa fuga para a frente que fico logo desconfiado que este ritmo é impossível de manter. Um dos passageiros de um dos aviões que estava em voo na altura do desaparecimento é Buck, um superjornaslista que aos 30 anos de idade já entrevistou não sei quantos nóbeis e já teve 1 ou 2 prémios pulitzer. Muito plausível. Confrontado com o terrível fenómeno, recorda o seu passado recente enquanto tenta ligar o seu portátil ao telefone do avião para assim chegar à net e ao que se passa. Cerca de um ano antes, Buck estava em Israel no dia em que a Rússia perdeu a cabeça e lançou um ataque devastador em grande escala contra Israel. Misséis, aviões, tudo o que tinham. E porquê? Porque anos antes um cientista israelita tinha descoberto uma fórmula secreta que fez com que o solo israelita se tornasse um autêntico el dorado agrícola. Literalmente, inverteu o milagre dos 40 anos no deserto e fez o maná brotar do chão, da areia. Graças a isso, Israel tornou-se no país mais rico do mundo, razão que fez com que os russos ressabiassem. Uma das máximas da história mundial é que nunca se sabe o que a Rússia vai fazer. Toda a gente sabe disso. Assim sendo, o professor israelita tornou-se digno de ser entrevistado por Buck. E, consequentemente, ganhou o prémio nobel. Estava por isso Buck em Israel quando os russos atacaram. E o que aconteceu? Fogo no céu e todos os misséis, aviões e armas e soldaos russos destruidos, isto tudo com zero baixas israelitas. Ainda por cima, com os destroços da frota russa, Israel ficou com reservas de metal e combustíveis para 5 anos. Milagre, disse toda a gente. Pois, mas era fácil concluir isso. Deus já tinha safo os israelitas naquele ocasião do mar vermelho. Estava assim eu todo empolgado, quando comecei a ler páginas e páginas da ressaca sentimental das personagens que perderam entes queridos, Buck não ressacou, mas Rayford, o piloto de avião onde Buck ia, Hattie, a hospedeira de bordo e mais alguns passaram-se dos carretos. Percebe-se, mas não deixa de ser aborrecido de ler. Entretanto, eis que surge outro enredo prometedor. Algures no mundo ocidental, existe aquela conspiração do costume, em que meia dúzia de magos da alta finança, tipo G8 plus, é que dominam o mundo. Vai daí, estão a tentar criar uma moeda única, e outras iniciativas afim. Não. Não foi o euro.

28.2.07

1. xenocide


Orson Scott Card
Existe uma colónia humana chamada Lusitânia em que os habitantes são todos brasileiros. Talvez por isso mesmo, é no planeta em que essa colónia se situa que existe a única outra raça inteligente do universo. Pelo menos conhecida da humanidade. Essa raça é constituída por seres chamados pequeninos (em português, porque é original) e que se são, pelo menos para mim, a cara do piglet, porquinho sensato das aventuras do ursinho phoo. O pequeninos tem um ciclo de vida interessante. Passando à frente as complicadas fases embrionária e pós embrionária, importa reter que, depois de mamíferos adultos, no fim da sua segunda vida, os pequeninos mascam uma substância anestésica, abrem as entranhas e dela nasce uma árvore, que conserva a alma do pequenino. A isto, chamam eles a 3ª vida, que dura o resto da eternidade. A esta colónia chegou há 30 anos atrás Ender, o porta-voz dos mortos. Ender tem uma ligação interna com Jane, um supercomputador que o acompanha desde pequeno e que tem a particularidade de estar em todos os computadores dos 100 planetas que a humanidade domina. Ou seja, Jane é o somatório de todos estes computadores. Aliás, é bastante mais que a soma das partes. Ender, nesta altura é casado com Novinha, bióloga chefe e chefe da família dos biólogos. Novinha tem muitos filhos, todos enteados de Ender: Ela (bióloga, a mártir), Quara (bióloga, mimada), Grego (físico, o mau), Olhado (chefe de família, olhos eléctrónicos), Quim (padre e missionário entre os pequeninos) e, por fim, Miro, outrora a perfeição, agora quase inválido, após ter arriscado a sua vida pelo bem dos pequeninos. A colónia, melhor dizendo a família, dado que no fundo são eles os únicos que decidem alguma coisa na colónia, tem em mãos um problema complicado. O s pequeninos tem no seu ecosistema um vírus chamado descolada, que é tão bom para eles como mau para todos os outros. É responsável pela boa saúde pequenina, mas, se o deixarem, mata tudo o resto à volta. E os humanos, para não serem exterminados, têm que vencer o vírus, mas se erradicarem o vírus estão a matar os pequeninos. É um problema do planeta, pensará o leitor mais atento. Não não é, porque entretanto a rainha insectóide está a construir naves espaciais para os pequeninos conquistarem o espaço, colonizando planetas e... transportando a descolada. Rainha insectóide? Qual raínha insectóide? A rainha insectóide foi a única desta raça que escapou à destruição quando Ender, então com 10 anos, praticou o genocídio. À frente da frota terrestre, e ao fim de anos e anos de guerra entre a humanidade e os insectóides, Ender exterminou-os. Mas depois, ao encontrar a rainha num casulo algures, protege-a e lava-a para... o planeta Lusitânia, onde pouco tempo depois ela já refez a raça e está na iminência de fornecer naves espaciais aos pequeninos. Perante este dilema, é fácil de imaginar que as coisas se vão complicar. A família tods desentende-se, a colónia humana desentende-se com os pequeninos e começa mais uma guerra inter-espécies, em que a única parte sensata é a rainha insectóide, que separa as partes em confronto. Entretanto, na planeta Path... Planeta Path? Qual planeta Path? O planeta Path é onde mora uma colónia humana descendente directa da china feudal, em que existe uma casta que leva domina as outras e que são "aqueles a quem os deuses falam". Estes, tem algumas particularidades interessantes. São bastante mais inteligentes que o comum mortal, daí os deuses falarem com eles, mas isso tem um preço terrível. Sentem, de tempos a tempos, uma vontade irreprímivel de se purificarem recorrendo à auto-humilhação e auto-flagelação. Em nome de quem? Exactamente. Dos deuses. No planeta Path, então, existe uma rapariga pertencente à casta dominante que tem como missão descobrir o que é que aconteceu à frota da Lusitânia. Frota da Lusitânia? Qual frota da Lusitânia? Pois... a frota da Lusitânia foi aquela que o congresso espacial, governante dos 100 mundos, enviou para Lusitânia com o objectivo de a destruir, e assim impedir que o vírus descolada se propague. Para isso, a frota tem uma arma chamada disruptor molecular, que redus planetas a pó, tipo Estrela da Morte, da Guerra das Estrelas. Consciente desse perigo, Jane desligou-lhes a s comunicações e a frota despareceu. Portanto, recapitulando, para acabar: em Lusitânia existem 3 raças inteligentes. Humanos, pequeninos e insectóides. E a descolada, que se calhar até poderá ser a quarta. A descolada é essencial para os pequeninos, mas mortal para todos os outros. Os humanos sabem disso e estão a tentar recombinar o vírus. E além disso, pelo sim pelo não, já mandaram uma frota para explodir o planteta. A rainha insectóide também sabe, mas decidiu não fazer nada. Só naves. Os pequeninos também sabem, por isso estão a tentar fugir para o espaço, para fgir da frota. E entre cada raça, hé elementos a pensar idéias absolutamente opostas. Excepto nos insectóides, em que só a rainha pensa e que não se quer meter. Não é minha idéia avaliar livros, tipo dar notas e coisas do género. É pretensioso e mal educado. Dou apenas a minha opinião: o livro é muito bom, e certamente muito melhor do que aqui e descrevi.

o objectivo

saber, o que li e o que me fez pensar aquilo que li, quando li.