6.3.07

7. o código da vinci


Dan Brown
Era inevitável termos que escrever umas palavras sobre o código da vinci, agora que o filme estreou e agora que já se começam a ouvir as primeiras críticas. Como sempre, tenho alguma legitimidade para falar. Li os filhos do Graal há 10 anos, o sangue de cristo e o santo graal há 8, o mistério dos templários há 6 e, a origem de tudo, o pêndulo de foucault há mais de 15. Isto não abona muito a favor da minha idade. Enfim… Para ser sincero, para mim, toda esta história do graal e do priorado do sião é apenas um subproduto do que verdadeiramente interessa, do que é verdadeiramente importante e historicamente provado: os cavaleiros templários. Mas aceito que para a maioria das pessoas o interesse principal seja outro. Assim sendo, recapitulemos: Jesus Cristo e Maria Madalena eram casados e tiveram filhos. Esses filhos constituíram uma linhagem de descendentes de Cristo e perpetuadores do sangue do rei David. O sangue dessa dinastia é o sangue real, que se escrevia sang real e que passou a santo graal. O priorado do Sião foi uma organização constituída para proteger esse sangue real. O braço armado do priorado do Sião eram os cavaleiros templários. O grão-mestre do priorado do Sião detinha o segredo do Graal, bem como o baú dos documentos com as provas todas. Entre outros, uma dos grão-mestres do priorado de Sião foi Leonardo da Vinci, que, espírito irrequieto que era, espalhou indícios sobre a existência do segredo em toda a sua obra. Que não foi pequena. No livro, o que acontece é que o último grão mestre do priorado é assassinado por um elemento incolor da Opus Dei. Nos últimos minutos antes de morrer, o grão-mestre moribundo lembra-se que ainda não transmitiu o segredo a ninguém, e por isso monta um enigma cuja solução é o objectivo do livro. Organizemo-nos, por ordem de importância. A trama do livro, ainda que eficaz e bem montada, não é importante. Não foi o escritor que a inventou e não acrescenta nada de novo nem nada que já não se soubesse (eu já sabia). A questão que se poderá por é que o escritor romanceou e democratizou essas idéias ditas heréticas. Não tenho nada contra. A democracia é o menos mau de todos os sistemas políticos. Um segundo nível de questões que o livro levanta são as questões religiosas propriamente ditas, e essas tem alguma relevância. É impossível que as pessoas não se sintam atraídas pela lado humano da maior figura da humanidade, passe o pleonasmo. Não é a mesma coisa que Jesus Cristo tenha tido família ou não. Não é indiferente que Jesus Cristo tenha amado alguma pessoa em particular ou não. Seria interessante saber que características particulares genéticas poderia ter uma linhagem proveniente de Jesus Cristo e de Maria Madalena. Além disso, todas estas questões foram convenientemente revestidas de mistério e de teoria da conspiração, tornando-as assim mais apelativas. É portanto legítimo que se mostre interesse por essas questões mais, chamemos-lhe assim, humanas. De qualquer forma, a parte mais importante do livro, quanto a mim, é aquela que não há dúvida nenhuma que é verdade. Expliquemo-nos: é evidente que ninguém pode saber se Jesus Cristo teve filhos ou não, ou se existiu mesmo o priorado de Sião, ou se Leonardo da Vinci, provavelmente o ser humano mais inteligente de todos os tempos, teriam tempo e paciência para brincar aos mistérios. O que não há dúvida nenhuma é que a história que hoje tomamos como verdadeira foi a que a ortodoxia da altura achou por bem. Ou seja, aquela parte em que o imperador romano Constantino negociou com os altos dignatários da igreja católica aquilo que viria a ser o catolicismo institucional, é quase de certeza verdade. Assim como de certeza que é verdade que foram os altos cargos da igreja católica de então que condicionaram o caminho que a esta religião iria tomar. Foram eles que seleccionaram os evangelhos "correctos" e as histórias que deveriam ser transcritas para a bíblia. E esta selecção não teve por base critérios de fé nem de salvação de almas. Estes critérios foram "técnico-económicos", e foram tais que permitiram que, desde então, grande parte da humanidade viva naquilo a que Michael Crichton tão bem definiu como estado de medo. Não é razoável que tanta gente acredite que está a professar uma religião de amor e que, simultaneamente, esteja sempre com medo de ir para o inferno. A igreja católica de então, aquela que traçou o rumo da cristandade pós Jesus Cristo era um negócio, uma empresa. E essa empresa eliminava os concorrentes que a punham em causa, tais como os Cátaros, os Templários, o Islão, etc e tal... Lembram-se das cruzadas? E da Inquisição? Não quer isto dizer que as coisas ainda sejam assim, e eu sinceramente não acho que sejam. Mas uma coisa é certa Se é provavelmente verdade que tudo isto que vem no Código da Vinci são histórias, não nos podemos conhecer que a versão da igreja católica também é apenas uma história. A diferença é que foi a história que venceu... E é disto que a igreja católica tem medo, de que as pessoas percebam que eles não sabem a verdade. Que todas as riquezas, todo o poder, todos os privilégios que ainda hoje têm, não traduzem nenhum conhecimento da verdadeira verdade do que o Cristianismo foi. Eles não sabem mais que nós...

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