3.3.07

6. os filhos do graal


Peter Berling.
Agora que vai voltar a estar na moda falar do Graal via código Da Vinci, que vai estrear daqui a uns dias, parece-me uma boa altura para lançar alguma erudição no assunto. Para que aqueles que queiram procurar as origens da história saibam uma dos sítios a que poderão ir. E esse sítio é um livro, escrito por um alemão que, surpresa, pelo menos para mim, era também actor e participou no Nome da Rosa. Um pequeno aparte, antes de começar: o livro é enorme e tem tantas páginas como as palavras de que eu disponho para o contar. Vai ser, por isso, uma versão bastante reduzida. Até porque, que se saiba, a história não tem fim. Tudo começa em Montségur, castelo e último reduto cátaro, situado na mais alta e inexpugnável montanha do Languedoc. Está cercada há já 10 meses porque o papa de então, Inocêncio 3, tinha lançado uma cruzada dentro da europa, uma cruzada contra a heresia cátara. Uma cruzada que tinha dois objectivos. Eliminar uma voz incomoda que denunciava as corrupções da igreja católica de então e ainda garantir para o reino da França vastos e férteis territórios que eram, até então, autónomos. Montségur estava então cercado pelas tropas papais e pelas do rei de França, as primeiras apenas empenhadas em que se queimassem todos os heréticos e os segundos, ainda que mais moderados, igualmente empenhados em que a heresia chegasse ao fim. Há já 10 meses que se encontravam naquele cerco, longe das suas casas e dos seus campos. A acompanhar o cerco encontravam-so os cavaleiros templários, que no entanto não tomavam partido nem participavam em acções de ataque ao castelo. O nosso cronista no meio deste cenário é um franciscano gordito que se chama Guilherme e que, no princípio da trama se preocupa mais com a mesa do que com a fé, que considera forte. Isso mudará. Na véspera da rendição dos cátaros, entretanto acordada contra a vontade do representante do papa, algo se muito estranho se vai passar. Num bosque na base da escarpa mais inacessível do castelo de Montségur, acontece uma cerimónia. A grand maitrésse do priorado do Sião, escoltada pelo braço armado deste, os cavaleiros templários, preparam-se para o resgate do tesouro mais precioso que existia em Montségur. Roç e Ieza, um rapaz e uma rapariga, primos entre si e em cujas veias corre o sangue real descendente de Jesus Cristo e de Maria Madalena. Eles são o Santo Graal, o énvólucro do sangue real, o produto final de várias gerações da evolução do sangue de Cristo. Os escolhidos para ir buscar as duas crianças ao castelo são Siegfred, comendador dos cavaleiros teutónicos e Constâncio, que poderemos definir como o supremo representante dos interesses do Islão. Trapalhão e intrometido, Guilherme consegue arranjar maneira de ser apanhado pela confusão e passa de monge alinhado com Roma a ama seca quasi herética e quasi imperial dos dois miudos, irritantemente tratados por infantes o livro todo. Incansável, contrariando assim a sua natureza monástica, Guilherme descobre então o Grande Plano, que é o que interessa, nesta história. E o grande plano é fazer com que os descendentes dos dois grandes profetas da antiguidade, Jesus cRisto e Maomé, cruzem o seu sangue, de maneira a criar uma linhagem pura, que governe o ocidente e o oriente unidos em paz, como é o seu destino. Do lado do ocidente, o sangue real é assegurado pelos dois infantes, que são o produto final do cruzamento entre o sangue de Jesus Cristo e uma certa nobreza do antigo Languedoc. Do lado do oriente, parece que a linhagem de maomé está também convenientemente preservada, e guardado pelos assassinos ismaelitas, os do velho da montanha, que reinava na inacessível fortaleza de Alamut. Para od distraídos, note-se o extraordinário paralelismo entre os Assassinos e os Cavaleiros Templários. Para os mais que distraídos, indica-se o óbvio. São as duas faces da mesma moeda. Não é à tua que se davam tão bem. Este grande plano tem inimigos, evidentemente. O maior, o monstro, a besta demoníaca, o pior de todos, o anticristo é, pasme-se, a própria igreja católica, que oi a primeira a renegar o verdaeiro Jesus Cristo e a criar uma versão alternativa que favorecia a ortodoxia do aparelho. E quem era o representante da igreja católica? O papa, tratado aqui do pior , inimigo do Homem, de Deus e do Imperador do Sacro Império Romano do Ocidente, Frederico II, o Staufer. Curiosidade: Quem havia de dizer, hoje o papa é alemão e João Paulo, seu aantecessor, era polaco.Roma já então, não era o que era dantes.

Sem comentários: