1.3.07

3. os reinos do norte


Philip Pullman
Lyra tem 11 anos e um génio. Não é um génio criativo, nem vem de uma lâmpada. É um génio vivo, que a acompamha sempre, que vai mudando de forma de acordo com as situações e que se chama Pantailamon. Logo aqui haveria muito que dizer. Não é só Lyra que tem um génio. Toda a gente tem. Toda a gente tem um ser vivo, consciente, que anda sempre ao seu lado, do qual não se consegue separar e com o qual tem comunicação directa ao coração. Tipo alma gêmea. Tipo alma. Lyra está escondida dentro de um armário com Pantailamon, na tentativa de ouvir a reunião que vai acontecer entre o conselho científico de uma daquelas universidades inglesas tipo Oxford e Lord Asrael seu tio, personagem aparentemente muito poderosa cujo génio é uma pantera branca com olhos verdes. Lord Asrael acabou de voltar de uma expedição dos reinos do norte, onde conseguiu uma fotografia do Pó, com letra grande. O Pó é, simplificando, a unidade fundamental do constituinte das almas. É o equivalente dos átomos do mundo físico. Ainda por cima é bonito. O pó é aquilo de que as auroras boreais são feitas. Portanto, a fotografia de Lord Asrael tem um impacto bastante grande, uma vez que pode ser a prova física da existência da alma. E também não cai bem nos meios mais conservadores. Estamos numa altura em que a ortodoxia impera. Desde que o papa Calvino mudara a sede do papado para Genebra e instituido o tribunal consistorial de disciplina, o poder da igreja sobre todos os aspectos da vida tornara-se absoluto. E a santa igreja ensinava que havia dois mundos, o mundo físico e o mundo espiritual, do céu e do inferno. Barnard e Strokes eram dois teólogos heeréticos que postulavam a existência de vários mundos semelhanets ao nosso, todos mundos materiais, perto de nós mas invisíveis e inalcançavéis. Mundos paralelos.
Fora deste ambiente académico e denso, temos na mesma um ambiente sério e denso. Ou não fosse esta história passada em Londres, onde o nevoeiro dá a densidade e o caracter taciturno dos ingleses dá a seriedade. Era portanto Londres, e estava nevoeiro. Uma Londres diferente, uma vez que era habitada e percorrida por pessoas e génios. Mas ainda assim, super dickensiana, cheia de becos escuros, casas degradadas e meninos pobres. Meninos pobres que, a partir de uma determinada altura, começaram a desaparecer, raptados por uma senhora muito bonita cujo génio era um macaco dourado com um olhar extremamente malicioso. Depois de raptados, os meninos são metidos numbarco e enviados para o norte, para onde entretanto Lord Asrael voltou e para onde tudo aponta, até as bussolas. Até que um dia, Roger, o melhor amigo de Lyra desaparece e ela é convocada para uma reunião no colégio, reunião em que aprece uma senhora muito bonita cujo génio é um macaco dourado. Lyra viaja com a Sra Coulter tornando-se sua assitente. Antes da viagem, o Mestre do colégio tinha-lhe dado um alteiómetro, uma espécie de astrolágbio que só diz a verdade, mas ao qual é muito dificil fazer as perguntas certas. Em poucos dias, Lyra apercebe-se da ligação entre a Sra Coulter e o desaparecimento das crianças. Lyra é esperta e põe-se a milhas. Foge com os ciganos, de barco, subindo o rio, rumo ao norte, numa expedição de salvamento das crianças perdidas. E também do seu tio Asrael, que entretanto tinha sido preso em Svalbard, terra dos ursos blindados, os meus personagens preferidos deste livro. Entre os ciganos, que mercem uma descrição mais pormenorizada noutra altura, noutro local, estava Farder Coram, um homem sábio que conta a Lyra muita coisa. Tipo que Lord Asrael é o seu pai e a Sra. Coulter a sua mãe. E que os dois estão envolvidas numa luta terrível de poder e não só.Dizia eu, que a expedição Lyra mais ciganos se dirigia ao norte. Mais especificamente, para a Lapónia. No cqaminho, param num porto qualquer, Bolvangar, onde Lyra recruta para a equipa Iorek Byrnison, rei deposto dos ursos blindados de Svalbard. Os ursos blindados são ursos polares, gigantes, com mais de 2 metros, inteligentes, orgulhosos, ferozes e que, como se não bastasse, ainda são especialistas na arte de trabalhar o metal. Vai daí, cada um deles está vestido com uma armadura quase invulnerável. Quase. Quase é uma palavra sem a qual o mundo não existia. Iorek tinha perdido a armadura. Lyra recupera-a ganhando assim a sua lealdade. E seguem viagem, sempre para norte. São atacados e quem vem em sua ajuda, não que os ciganos não se safassem sozinhos, principalmente com Iorek, mas enfim, vem em seu auxílio dizia eu, as feiticeiras. As feiticeiras vivem na fronteira (norte) entre o nosso mundo e sabe-se quais outros. Embora vivam centenas de anos, são jovens e lindissimas, principalmente a sua rainha, que se chama Serafina Pekkala. Voam em ramos de pinheiro e são muito independentes e algo imprevisivéis. Eventualmente, todos chegam ao destino e, entre muitas lutas com os tártaros, que são a guarda avançada do conselho da oblação, que é o braço armado da igreja, chegam ao confronto final. Lord Asrael, que entretanto lá se tinha instalado, constroi uma ponte entre mundos, com o objectivo de descobrir a origem do Pó. Lyra, filha do seu pai, atravessa-a. Este livro é muito, muito bom.

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