1.3.07

4. freakonomics


Stephen D Levitt e Stephen J Dubner
No outro dia fui a Londres e entre as muitas coisas que vi ou que fui confrontado, a mais massacrante foi a publicidade a uma coisa qualquer esquisita chamada freakonomics, não sabendo eu na altura que raio é que aquilo era. Ainda por cima porque a publicidade era muita e bem feita, sendo basicamente constituída por aquilo que para mim é a verdadeira forma de arte nestes tempos tão, chamemos-lhe assim, rápidos que atravessamos: a frase curta. Descia eu uma escada rolante interminável e via escrito: sabes o que há de comum entre os professores primários e os lutadores de sumo? Divertido com a comparação, até porque um dos meus passatempos preferidos é imaginar as pessoas "vestidas" de lutadores de sumo, virava-me para trás na escada rolante para tentar ler a resposta, mas já não ia a tempo. Noutra escada rolante qualquer, havia outro cartaz a dizer: sabes porque é que os traficantes de droga vivem todos com a mãe? E, novamente, quando me virava para trás já não ia a tempo de ver a resposta… Já me estava a bulir com os nervos a situação, tanto que até poderá ter sido por isso que não achei piada nenhuma a uma exposição de cubos plásticos brancos empilhados uns sobre os outros na Tate Modern… Finalmente, pouco depois, se calhar ainda em Inglaterra, descobri que os cartazes só tinham a pergunta. Para saber a resposta tinha que se comprar um livro que se chamava, precisamente, freakonomics. Embora não goste de nada que acabe em "ics", gosto muito da palavra freak, por isso achei que poderia achar piada a ler o livro. Fui ais saldos do e-mule, peguei no papel de rascunho e pimba, arranjei que ler no metro durante 2 semanas. E o que descobri eu? Que o livro é uma colecção de crónicas dispersas, algumas pouco coerentes com as outras, mas em que as ditas perguntas "fracturantes" são o tema de cada uma das crónicas. Assim, das que tinham mais piada, temos:
O que é que os lutadores de sumo e os professores têm em comum?
Ambos fazem batota. Mesmo em ambientes em que supostamente a honra e a inocência são a imagem que mais transparece, se analisarmos a fundo os dados disponíveis, descobrimos inevitavelmente batotas. No caso dos professores, a batota era inflacionar as notas dos alunos e, consequentemente, a sua própria classificação. No caso dos gordinhos de fio dental, a idéia era que nunca ninguém perdesse em demasia, e maneira a manterem-se sempre mais ou menos os mesmos 200 lá na primeira divisão. Embora com algum sentido, isto trata-se do típico caso da publicidade enganosa. A resposta é muito menos interessante que a pergunta.
Porque é que os traficantes de droga vivem todos com as mães?Porque, por incrível que pareça, a maioria deles não tem dinheiro para casa própria. Abstraindo de considerações morais, o tráfico de droga é um negócio de estrutura piramidal como quialquer outro, em que apenas uma pequena percentagem das cúpulas é que ganham muito dinheiro. O grosso dos traficantes ganham pouquíssimo, de tal maneira que se considerarmos o risco inerente à profissão, faz-nos interrogar porque raio é que alguém se dispõe a traficar. E, quanto a mim, essa poderá ser a chave da luta contra a droga. Tipo: meu, para ganhares tão pouco mais vale fazeres outra merda qualquer em que não te habilites a levar uma bala nos cornos. Calão propositado.
O que tem em comum os vendedores imobiliários e a ku-klux-klan?São duas organizações que para funcionarem precisam de uma certa exclusividade em termos de informação e que foram praticamente desaturdias pela Internet. Concretizando: a partir do momento em que a Internet apareceu as pessoas começaram a circular informação em quantidades e com velocidades nunca antes vistas. Os compradores mandam mails aos vendedores, os vendedores postam fotos das casas evitando assim tantas visitas, enfim, a necessidade de intermediação diminuiu imenso. A razão de ser das imobiliárias passava pelo facto de serem os únicos que detinham toda a informação toda. Agora já não são. Relativamente à ku-klux-klan, a internet também quase que provocou o seu extermínio. Um belo dia, um jornalista conseguiu infiltrar-se e tornou mundialmente conhecidos várias situações que puseram completamente a ridícula a confraria dos lençóis. A saber, os nomes ridículos que chamavam uns aos outros, os apertos de mão secretos. A falta de coordenação entre as acções praticadas e, fundamentalmente, a falta de fundamento teórico ou de qualquer outro tipo para as parvoíces que faziam.
Para onde foram todos os criminosos?
Atendendo ao cenário do fim dos anos 70 e princípio dos anos 80, em que era só gangs juvenis e delinquência por todos os estados unidos, como raio é que, contrariando todas as previsões feitas pelos analistas e especialistas de então, a criminalidade desceu tipo 80%? Bem esta resposta é de longa a mais simples mas a mais polémica e provavelmente a mais certa de todo o livro. Esses criminosos, dizem eles, não nasceram. No início dos anos 80 foi liberalizado nos Estados Unidos o aborto, pelo que, evidentemente, milhares de mulheres que tinham gravidezes indesejadas passaram a abortar, podendo assim continuar com a sua vida curricular e aumentando muito as probabilidades de virem a ser alguém e de proporcionarem aos seus futuros filhos (desta vez desejados) educação e meios para uma vida honesta. Se tivessem levado até ao fim as primeiras gravidezes, essas crianças seriam monoparentais, pobres, sem escola, sem dinheiro e condenadas quase irremediavelmente a uma vida de privação ou de crime. E as gravidezes não ficariam por aí e as segundas e as terceiras sofreriam o mesmo destino. Enfim, esta deu que pensar.
O que podes fazer para ser um pai perfeito?
Nada. No momento em que te estás a fazer essa pergunta, já fizeste 80% de tudo o que poderias fazer pelos teus filhos. És branco, tens uma educação, cultura, um emprego, uma família estável, avós para os teus filhos, livros em casa, noção do bem e do mal, enfim, essas coisas todas. Posto isto, o resto é quase só ir gerindo, com base no bom senso. Geralmente, quando te interrogas sobre se hás-de ler determinado livro pedagógico, o momento certo para essa leitura era há um ano e meio atrás.
Ter um nome super afroamericano prejudica-te durante a tua vida?
Esta era tão fácil que nem li…

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